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SALVADOR

CORREIO flagra venda e uso de crack ao lado do Elevador Lacerda

Por volta das 12h de ontem, mais de 15 pessoas estavam reunidas no local, entre traficantes e usuários, levando em conta que os que vendem também consomem

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12/01/2012 às 8:55 • Atualizada em 26/08/2022 às 22:39 - há XX semanas
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Na Rua da Conceição da Praia, no Comércio, o movimento é intenso: enquanto turistas e moradores da cidade aguardam na fila do Elevador Lacerda, comerciantes disputam clientes e flanelinhas brigam por espaço. A uma distância de apenas 27 degraus dali, há outro movimento que não para: o do crack. Entre as lojas que funcionam nos imóveis 10 e 12 do conjunto arquitetônico da Conceição, tombado pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), uma escada leva até a área onde a venda e o consumo da pedra ocorre livremente. O CORREIO flagrou a movimentação ontem e anteontem e percebeu como funciona o esquema. Os usuários sobem a escada e entregam o dinheiro a um jovem que marca posição na entrada da área. Ele repassa o dinheiro para um homem que transformou em balcão de atendimento a janela dos fundos do casarão número 10. De trás da janela, o homem retira as pedras de crack e entrega ao auxiliar junto com o troco do comprador, se houver.
Depois que pegam as pedras, alguns usuários vão embora. Outros, porém, já chegam com o cachimbo nas mãos e fumam ali mesmo. Pelo espaço, que pode ser visto do hall superior do Elevador Lacerda, circulam homens, mulheres e crianças. Um pedinte que é visto com frequência no ponto de ônibus da rua principal também foi flagrado comprando a droga, assim como um baleiro que subiu, pegou algumas pedras, colocou dentro do isopor onde levava os potes de bala e foi embora. PacotesChama atenção ainda a participação de uma mulher que, do terceiro andar do imóvel número 12, joga pequenos pacotes para o auxiliar do “balconista”. Os pacotes são guardados dentro do casarão de onde saem as pedras de crack. Pela observação da reportagem, o homem de camisa listrada que foi fotografado com um caderno na mão parece comandar as ações. Ele demonstra autoridade, dá ordens e conta o dinheiro. Outro homem, que usa muletas, também se comporta como um dos cabeças. Toda vez que os usuários começam a discutir – ocorre muito – é um dos dois que intercede para acalmar os ânimos. Num certo momento, o homem da muleta parece exigir que a área seja esvaziada. Por volta das 12h de ontem, mais de 15 pessoas estavam reunidas no local, entre traficantes e usuários, levando em conta que os que vendem também consomem. Mas, antes das 12h30, um carro da Polícia Militar passou pela Rua da Conceição da Praia com a sirene ligada. Em menos de dois minutos, não havia mais ninguém no espaço. No entanto, antes das 13h, o local já estava cheio novamente.
Moradia Ouvido pelo CORREIO, um lojista da Conceição da Praia disse desconhecer o que ocorre atrás dos estabelecimentos. “Nada aqui me incomoda. O que meus vizinhos fazem ou deixam de fazer não é comigo”, afirmou. Já o major Neves, comandante da 16ª Companhia Independente de PM, disse que as incursões no local são frequentes, resultando em prisões e apreensão de crack. Para o major, a área não pode ser isolada porque serve de moradia para muita gente. “Não podemos desrespeitar o direito de ir e vir das pessoas. Para resolver o problema, é preciso atenção de diversos órgãos”. Ainda segundo Neves, dois policiais são mantidos na entrada inferior do Elevador Lacerda e mais dois ao lado da Igreja da Conceição. Mas, como mostram as imagens, nem a proximidade dos pontos turísticos nem a presença da polícia inibem os usuários de subirem a escada das pedras. Governo lança plano de combate a drogas(por Florence Perez) Após o governo federal lançar o programa nacional Crack, é Possível Vencer, no dia 7 de dezembro, ontem o governo estadual apresentou no Centro de Convenções, em Salvador, o Plano Viver sem Drogas, que define a política de enfrentamento ao problema. Serão investidos R$ 42 milhões em quatro anos. “É pouco, mas temos que dar o primeiro passo. Vamos ver o orçamento e como a economia se comporta para saber se esse recurso pode crescer”, explicou o governador. Já o governo federal vai disponibilizar R$ 4 bilhões até 2014. Desses, R$ 96,7 milhões serão investidos na Bahia ainda este ano. “O plano está alinhado ao governo federal, mas atende às peculiaridades do estado. Nossos Caps Ad (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas) existem, mas não funcionam devidamente e o número de unidade precisa crescer em todo o estado”, sinaliza o secretário de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (SJCDH), Almiro Sena. O governador ressalta que a droga mais preocupante é o crack. “É a substância mais contundente e devastadora na sociedade. É um problema real e temos que lutar contra ele”. O plano prevê requalificar 17 e implantar oito Caps Ad, criar 30 leitos em hospitais públicos para internamento de usuários de drogas, capacitar 600 profissionais de educação e qualificar 500 operadores do SUS. Tudo será feito sem saber quantos usuários existem na Bahia. “Vamos elaborar com esse plano uma pesquisa profunda”, diz Sena. O secretário estadual de Saúde (Sesab), Jorge Solla, aproveitou o evento para anunciar que o Hospital Couto Maia será readequado para atender exclusivamente a dependentes químicos. Novo Caps AD aguarda ministroA população que necessita do serviço público de saúde para fazer o tratamento contra drogas terá que esperar pelo menos até o dia 27 deste mês para contar com um terceiro Caps AD em Salvador. O secretário estadual da Saúde, Jorge Solla, afirmou ontem que inauguração do espaço, que era para ter sido realizada em dezembro, foi adiada em pouco mais de um mês porque não houve oportunidade para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, comparecer ao evento. “Estava previsto para começar a funcionar no final de dezembro, mas não havia espaço na agenda do ministro para ele vir e participar da inauguração. Por isso estamos esperando”, justifica Solla. Em dezembro, a diretora de Gestão do Cuidado da Sesab, Débora do Carmo, afirmou à reportagem do CORREIO que a unidade será referência para todos os outros Caps Ad e que vai funcionar 24 horas por dias, sete dias por semana, na Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba). A psicóloga e pedagoga do Centro de Estudos e Terapia de Abuso de Drogas (Cetad), Rita Valente, acha injustificável que a população fique privada de mais um centro de tratamento de usuários de drogas por causa de falta de espaço na agenda do ministro. Para ela, a cobertura para os usuários de drogas na capital baiana está muito longe do ideal para que a abertura do novo centro seja adiada. “Salvador urge por esse atendimento. No Verão aumenta o uso de drogas por causa das festas, do grande movimento na cidade. Acho que a visita de um ministro não é motivo para isso. É lamentável”, opina.

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