Suja, malcheirosa, cheia de goteiras e tomada por mendigos e camelôs, ainda resta uma esperança para a Estação da Lapa. Dos R$ 60 milhões que sairão dos cofres da Embasa, pela renovação da concessão com a prefeitura, R$ 5 milhões serão destinados à reforma da maltratada estação.
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Sem se incomodar com a confusão nem com a sujeira, mendigos dormem pelos cantos da estação |
Outros R$ 5 milhões serão usados para a construção de duas passarelas na avenida ACM, e a maior fatia, de R$ 50 milhões, servirá para a substituição do asfalto da cidade. Para a liberação da verba, um convênio está sendo firmado entre a prefeitura e a Embasa, o que deve ser efetivado nos próximos 10 dias. Já na próxima semana, o secretário municipal da Casa Civil, João Leão, espera lançar o edital para a reforma da Estação da Lapa. Segundo a Secretaria de Transportes e Infraestrutura (Setin), as intervenções serão emergenciais, já que a verba é insuficiente para grandes alterações estruturais. Posteriormente, mas ainda sem prazo, está prevista uma outra reforma, que custará R$ 26,4 milhões, financiados pelo governo federal, e que promete dar uma nova cara à estação. Em abril do ano passado, o CORREIO mostrou a situação ‘cavernosa’ que se encontrava a estação. Nada mudou, e agora a prefeitura tenta sanar sua parcela de culpa. O projeto inclui troca de pisos, reformando escadas rolantes, banheiros e o teto, completamente estragado por infiltrações e ferrugem. Mas, se os usuários não começarem a colaborar com a manutenção, as melhorias não durarão muito tempo.
Vandalismo - Além da estrutura velha e decadente, a estação é castigada diariamente pela ação de vândalos que - por acidente, falta de informação, para conseguir um trocado, ou pelo simples prazer de destruir - colaboram para piorar a vida deles próprios e das outras pessoas que precisam usar a estação.
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Dos mais de 40 orelhões instalados no local, o difícil é o usuário encontrar um que funcione |
“Toda hora a gente reforma o banheiro. Uma semana depois já arrancaram torneira, vaso sanitário... aí tem que interditar de novo”, contou um funcionário da administração, que não quis se identificar.“Os próprios estudantes descem as escadas rolantes pelo corrimão, jogam lixo... aí acaba quebrando”, completou um vendedor ambulante que também pediu anonimato. Durante esta semana, quatro escadas rolantes estavam paradas e os dois banheiros fechados para manutenção. “O jeito foi descer a pé, devagarzinho, segurando no corrimão”, contou a aposentada Anailde Cardoso Fernandes, que disse ter um problema na perna.Sem poder usar o sanitário, a diarista Luciene dos Santos, usuária da estação, conta como dribla o problema. “Tento segurar, mas se estiver muito apertada, vou no banheiro do shopping (Piedade)”. Já a vendedora de pipoca Tássia Pinheiro não pode abandonar o posto muitas vezes e achou uma solução que deixaria qualquer nutricionista de cabelo em pé. “O jeito é ficar sem beber água, pra não dar vontade de ir ao banheiro”.
Mau cheiro - Sem banheiro, os homens acabam usando os muros e escadas da estação sem a menor cerimônia, dando origem a outro grande problema: o mau cheiro. “É esse cheiro insuportável qualquer dia e qualquer época do ano”, reclamou o aposentado Evandro Pedro Alves dos Santos, enquanto procurava por uma lixeira para jogar fora palitos dos picolés.Isto porque as latas de lixo são constantemente roubadas. E, mesmo quando elas existem e estão bem pertinho, muitas pessoas preferem jogar o lixo no chão. Sorte dos ratos, que têm sua alimentação garantida e passeiam tranquilamente entre um bueiro e outro, aproveitando também as piscinas de água suja formadas pelas goteiras no teto.A vizinhança não parece incomodar os mendigos, que dormem, pedem esmola e passam boa parte do dia perambulando pela estação. Nesse mar de problemas, a desempregada Maristela Bonfim encontrou um motivo para comemorar: achou um orelhão funcionando. “Na semana passada eu vim aqui e estavam todos quebrados”. Pura sorte. Nenhum dos 10 orelhões testados pelo CORREIO emitiu qualquer ruído.Para combater o vandalismo, a Setin diz que já entrou em contato com a Secretaria da Segurança Pública pedindo efetivo policial. O órgão também informou que gasta cerca de R$ 80 mil por mês com a manutenção da estação.
Festa dos ambulantes - Para quem não se importar com o mau cheiro nem com a falta de conforto, a Lapa é um verdadeiro shopping center genérico. Guarda-chuvas, bolsas, brincos, canetas, acessórios para celular, cadarços de tênis, controle remoto, chinelos, lupas, mochilas, relógios, bonés, calculadoras, calças e até camisas de festas são vendidos na estação por onde passam em torno de 460 mil pessoas diariamente.Os preços, bem abaixo que nas refrigeradas lojas dos grandes shoppings, variam de acordo com a cara e o poder de pechincha do comprador. “Custa R$ 14, mas faço pra você por R$ 12”, negociava um ambulante, que acabou vendendo o carregador de celular fabricado na China por R$ 10. Perto dali, outro vendedor oferecia seus produtos: quatro pares de meia por R$ 10. Valmir Dantas compra a mercadoria em Pirajá e garante que, apesar de falsificadas, as meias têm a mesma qualidade de marcas conhecidas, como Nike e Adidas. “Pode pegar que é de qualidade, esquenta igual”.
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Estudantes têm o mau costume de descer as escadas pelo corrimão |
E tem muita gente que não se importa se o produto não é original. Sorte de iniciante ou não, neste primeiro mês que Valmir exerceu a nova profissão conseguiu faturar R$ 800. Nada mau para quem estava há um ano desempregado. “Achei bacana, o preço. As meias são até de qualidade. As coisas estão tão caras hoje em dia que a gente tem que pesquisar muito”, justifica Raquel Gomes, uma das potenciais clientes. Dez reais também é o preço que a vendedora Patrícia Rocha pede nas bolsas que compra por R$ 8 na Sete Portas. “Fazer o quê? É a concorrência, todo mundo que vende essa bolsa aqui pede esse preço”, diz, lamentando as consequências da lei da oferta e da procura.
Estação recebe 460 mil pessoas por dia - A Estação da Lapa é o maior terminal rodoviário de Salvador. Ela foi projetada pelo arquiteto João Filgueiras Lima, conhecido nacionalmente como Lelé, e inaugurada em 7 de novembro de 1982, pelo então prefeito de Salvador Renan Baleeiro.
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Camelôs aproveitam movimento para vender todo tipo de mercadoria |
De acordo com a Transalvador, são 30 mil metros quadrados de área construída, por onde passam 301 ônibus por hora e 460 mil pessoas por dia. A estação leva esse nome por causa da proximidade com o Convento da Lapa, localizado na avenida Joana Angélica. Além da estrutura para embarque e desembarque de passageiros, a Estação da Lapa abriga também um pequeno centro comercial com 18 lojas, 16 boxes, quatro pipoqueiras, três caixas eletrônicos de bancos 24 horas e postos de apoio com duas salas de administração, uma de fiscalização, um posto da Polícia Militar, outro da Guarda Municipal e um de venda e recarga do Salvador Card, do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Salvador (Setps).