Um dia depois que 12 homens morreram em ação da Rondesp Central, da Polícia Militar, no Cabula, outras duas pessoas foram mortas e uma terceira ficou ferida na noite da última sexta-feira em confronto com policiais da Rondesp Atlântico, na localidade do Barral, no bairro de Cosme de Farias, em Salvador. De acordo com a Polícia Militar, os policiais da Rondesp faziam rondas de rotina na rua Wenceslau Galo, quando foram recebidos a tiros por Rafael de Oliveira Cerqueira, de 19 anos, Alexsandro Pinheiro dos Santos Lima, 20, e Denilson Campos dos Santos, 22. “Os policiais revidaram atingindo os três elementos que foram socorridos para o HGE (Hospital Geral do Estado)”, diz a PM, em nota.
Seis das 12 pessoas que morreram na ação da Rondesp foram enterradas na tarde de ontem no cemitério das Quintas dos Lázaros, em Salvador (Foto: Marina Silva/Correio) |
Familiares das vítimas disseram que foram ameaçadas no bairro por policiais - que apontaram armas para os ônibus que saíram do fim de linha da Engomadeira para o enterro - e garantiram que havia policiais à paisana no cemitério. “Eles estão botando medo, enfrentando a gente com armas. Os meninos protegiam a gente. A gente tem medo é da polícia”, disse uma mulher que mora no bairro há 59 anos, pedindo anonimato. “É uma injustiça. Eles têm que pagar. É tudo mentira o que estão dizendo”, bradou uma tia de Natanael que não quis se identificar, ao defender que o confronto alegado pela polícia não existiu. “Todo mundo gostava do meu filho... Ele era inocente! Agora vou criar os dois irmãos sozinha e trabalhar sozinha, porque era ele quem me ajudava”, lamentava, aos berros, a costureira Marina Lima de Oliveira, 56 anos. Avó de Natanael, ela o criou como filho junto com os dois irmãos. Ela contou que o garoto ajudava na entrega das costuras, defendeu que era um menino estudioso e que sonhava em ser jogador de futebol, tendo feito até um teste na Espanha para entrar no Barcelona. Um vizinho de Everson reforçou a versão defendida com unanimidade entre os presentes no cemitério de que “não houve troca de tiro”. “Foi uma execução. Eles se renderam e foram mortos sem defesa. Como foi troca de tiro se os meninos tinham marcas de tortura? Braços quebrados, olhos afundados e tiro na nuca?”, disse. “Nós só queríamos que a polícia fizesse o papel dela. São despreparados. Nossa comunidade tem pessoas trabalhadoras”, clamou uma tia de Vitor. Em nota, a PM informou que o caso será alvo de uma apuração. “Até o momento, não há indícios de irregularidade cometida pelos policiais militares”, disse a PM, reafirmando que policiais foram recebidos a tiros no local. DHPP busca testemunhas de confronto no Cabula O diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegado Jorge Figueiredo, que investiga as mortes ocorridas no Cabula, informou que pretende concluir o inquérito sobre o caso em até 30 dias, sendo que esse prazo pode ser prorrogado. “A partir de segunda-feira vamos ouvir policiais que participaram do suporte na operação. Estamos também tentando localizar pessoas que tenham presenciado a ação”, disse. Ele informou que parte dos mortos tem histórico criminal. Um total de 24 armas foi encaminhado para perícia: 9 usadas pelos policiais (metralhadoras e pistolas) além de outras 16 que foram apreendidas no local (12 revólveres calibre 38, uma pistola ponto 40, uma pistola ponto 45 e uma espingarda). Ontem, a Justiça converteu de prisão em flagrante para preventiva as custódias de Arão de Paula Santos, Elenilson Santana da Conceição e Luan Lucas Ferreira de Oliveira, que foram detidos na ação da PM.
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