“Eles eram muito ligados, muito próximos. Acordaram ontem pulando na cama da mãe, dando beijos. Alguém tem que pagar por isso”. O depoimento de Leide Dias, tia dos irmãos Emanuel e Emanuelle Gomes Dias, de 21 e 23 anos, respectivamente, resume o sentimento da família reunida no Instituto Médico- Legal Nina Rodrigues. Os jovens morreram por volta das 8h de ontem, após baterem num poste em frente ao Ondina Apart Hotel. Emanuel, que completaria 22 anos na terça-feira (15), trabalhava como modelo, assim como a irmã, que também cursava Direito. Ele levava a irmã ao aeroporto.
Antes de bater no poste, a moto em que a dupla estava, uma Yamaha XTZ (placa NTQ-8040), foi atingida por um Kia Sorento branco (placa NZK-6668), guiado pela médica oftalmologista Kátia Vargas Leal Pereira, 45 anos. De acordo com a delegada Jussara Souza, titular da 7ª Delegacia, a médica será indiciada por homicídio com dolo eventual (quando se assume o risco de matar alguém). A delegada se baseia em imagens de câmeras de segurança que filmaram o acidente. Segundo Jussara, a médica dirigia em alta velocidade, o que provocou uma discussão com Emanuel, que chegou a bater com o capacete no capô do Sorento. Em seguida, ainda de acordo com a delegada, Kátia saiu em perseguição à moto, o que acabou gerando um toque. Então, Emanuel perdeu o controle e terminou batendo direto no poste. Ele e irmã morreram na hora. Acidente As imagens analisadas pela delegada confirmam o depoimento de quem viu o acidente. De acordo com testemunhas, a motocicleta havia sido fechada pelo Sorento na esquina da Rua do Escravo Miguel com a Avenida Oceânica, antes mesmo da primeira colisão. O lavador de carros Maurício França de Jesus assistiu à cena. Segundo ele, após a fechada, Emanuel e Kátia discutiram. “Ela fechou a moto, daí começaram a discutir. Ela deixou ele acelerar e depois bateu nele por trás. Depois ela saiu bambeando com o carro e bateu”, disse Maurício. Sem se identificar, um taxista disse que ambos furaram o sinal em alta velocidade. “Ele bateu no capô do carro, na certa para dizer que ela estava errada, e ela acelerou. Pelo visto, ela perdeu o controle, pegou na moto e eles foram direto no poste”. Funcionários do Ondina Apart Hotel, também pedindo anonimato, contaram que Kátia chegou a entrar na contramão depois que a moto bateu no poste. “Ela jogou o carro na contramão, ia bater com outro carro, então fez a volta e jogou o carro em cima da calçada”, contou um funcionário. Segundo ele, a médica frequentava uma academia no apart. O aposentado Antônio Tabajara, 72 anos, que costuma sentar diariamente em frente ao portão onde Kátia bateu, disse que escapou por pouco. “Eu ouvi a pancada, mas não tive perna para levantar. Por pouco, não fui atingido”, contou. Segundo Tabajara, a médica saiu do carro andando e demonstrava estar muito nervosa. No IML, estavam primos, tios e o pai das vítimas, Valdemir Dias. A mãe, a enfermeira Marinúbia Gomes Dias, não conseguiu sair de casa. “Ela está em choque, sem acreditar, esperando que eles voltem”, disse Leide Dias. Antes de saber que a polícia iria indiciar a médica por homicídio com dolo eventual, os parentes de Emanuel e Emanuelle já demonstravam a intenção de processar Kátia. Até o início da noite de ontem, a delegada Acácia Nunes, que esteve no local do acidente pela manhã, ainda ouvia testemunhas para colher mais informações para o inquérito. Médica Por volta das 8h30, quando a equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou ao local do acidente, os irmãos já estavam mortos. Já Kátia foi levada para o Hospital Aliança, onde permanecia internada até as 19h de ontem. A delegada Acácia Nunes enviou ao hospital uma orientação para que Kátia fosse imediatamente encaminhada à delegacia após receber alta. “Ela não está em condições de falar, está em choque. Não disse nada que a gente pudesse compreender. A única coisa que nós sabemos é que houve uma discussão entre ela e o motociclista”, disse um amigo da médica, Ademar Pinheiro. Apoio Através do Facebook, amigos dos irmãos lamentaram as mortes e deixaram muitas mensagens de apoio à família. Emanuel e Emanuelle eram muito conhecidos na região da Barra e da Graça - bairro em que moravam. Como modelos, eles costumvam atuar em eventos. Além disso, o rapaz trabalhava numa loja de artigos esportivos. Segundo amigos, a namorada de Emanuel, que também atua como modelo, ficou em estado de choque ao receber a notícia da morte. O advogado Iran Furtado, professor de Emanuelle na Faculdade Ruy Barbosa, anunciou que vai colher depoimentos de quem testemunhou o ocorrido. “Não podemos mais silenciar diante da violência no trânsito de Salvador. Ela (a médica) terá que responder, para que outros não morram pela mesma insanidade!!!!!”, escreveu. De acordo com familiares, os corpos de Emanuel e Emanuelle serão sepultados hoje, às 10h, no cemitério do Campo Santo. Colaborou Joice Vieira Matéria original: Jornal Correio Enterro de irmãos que morreram em acidente será neste sábado às 10h
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