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Grávidas à espera: Jamile Batista, Géssica Gomes, Francilene Gonçalves, Lucimara Castro e Mariluce Alves |
Eram 3h40 da madrugada quando a estudante Jamile Batista dos Santos, de 19 anos e grávida de oito meses, procurou o atendimento de emergência da Maternidade Albert Sabin, no bairro de Cajazeiras. Com a bolsa uterina rompida, a jovem sentia fortes dores e tinha medo de perder o bebê. Às 10h da manhã - quase sete horas depois -, abatida e com o vestido que usava ainda molhado do líquido amniótico perdido (fluido que envolve o embrião), Jamile ainda estava à espera de atendimento no hospital. “Não tem maca e eles não vão autorizar a transferência por meio da regulação do Samu (Serviço Médico de Urgência) sem que ela seja examinada”, explicou a tia da jovem, a dona de casa Ana de Jesus Santana, 37 anos, com quem Jamile mora.
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Rita Leal faz apelo: ‘Foco também deve se voltar para os municípios’ |
A garota diz ter engravidado na primeira relação. O pai da criança, acrescentou ela, mora no bairro de Fazenda Grande, tem 27 anos, é mototaxista, tem um outro filho de 6 anos e quer que seja realizado um exame de DNA para saber se o filho é realmente dele. Só por volta de 10h30 - quase sete horas depois de chegar ao hospital - Jamile recebeu atendimento. A espera, então, passou a ser das outras cinco gestantes que aguardavam a vez na manhã de ontem na maternidade: Géssica Gomes, 20 anos, Francilene Gonçalves, 32, Mariluce Alves, 33, Lucimara Castro, 24, e Eliana Oliveira, 29. Todas elas com cerca de 40 semanas de gestação e se queixando de dores. Quem chegou às 8h, ao meio-dia ainda não tinha sido atendido. Foi o caso da doméstica Francilene. Moradora de Itapuã e grávida do segundo filho, ela sentia dores e tinha sangramento. Contou que procurou a Maternidade Albert Sabin por achar mais perto de casa. “Tem o Menandro de Farias (em Lauro de Freitas), mas lá quando tem maca falta lençol e soro fisiológico”, afirmou Francilene, referindo-se à precariedade no atendimento. As dores, garante ela, “se não fossem a de ter um filho, seriam insuportáveis”. E descreveu: “É igual a uma dor de barriga forte, só que sem vontade de ir ao banheiro. Pode ser de 20 em 20 minutos ou de cinco em cinco”, disse. Francilene já tem um filho de 11 anos, fruto do primeiro casamento, e conta que essa segunda gravidez foi planejada. Ela vive há quatro anos com o atual marido, que trabalha como segurança e tem 27 anos. Imaginar que mulheres grávidas de nove meses, muitas perdendo líquido e sentindo contrações, esperem tanto tempo por atendimento médico, em si, já é doloroso. A diretora-geral da Maternidade Albert Sabin, Rita Leal, garante que o problema ainda é a superlotação nos hospitais da rede estadual e a grande demanda do Albert Sabin.
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Maternidade Albert Sabin, em Cajazeiras |
“Fazemos parte do distrito sanitário de Cajazeiras que abrange nada menos que 700 mil pessoas. Além disso, recebemos pacientes de vários outros bairros e até mesmo do interior”, lembrou a diretora.
Precariedade Rita Leal aponta também outras variantes que, segundo ela, contribuem para essa situação: a baixa cobertura da assistência pré-natal nos postos de Saúde da Família do município, distritos sanitários descobertos, a falta de leitos e médicos. “Hoje, por exemplo, nossa equipe está completa, com 11 médicos, entre obstetras, anestesistas e neonatologistas, para realizar os trabalhos de admissão, pré-parto, parto, curetagens e internamentos clínicos. Mas o número de pacientes é sempre maior que o de profissionais”, explicou. Segundo a médica que atendeu Jamile, Cristina Noronha, às 17h, o quadro clínico da jovem - e do bebê - era estável, e a previsão era de que ela entrasse em trabalho de parto no início da noite.
Maternidade Albert Sabin, em CajazeirasRita Leal faz apelo: ‘Foco também deve se voltar para os municípios’ A Maternidade Albert Sabin, em Cajazeiras, tem 66 leitos na enfermaria e 12 neonatal. “Estão todos sempre ocupados e só podemos acolher um paciente quando outro tem alta”, explicou a diretora-geral da unidade de saúde, Rita Leal. Segundo ela, para toda Salvador e Região Metropolitana há outros seis hospitais que oferecem o serviço de assistência materno-infantil. São eles Sagrada Família (Monte Serrat, na Cidade Baixa), Iperba (Brotas), Tysila Balbino (Baixa de Quintas), Hospital José Maria de Magalhães Neto (Pau Miúdo), Climério de Oliveira (Nazaré) e Roberto Santos (Cabula) - este último com serviço materno-infantil de alta complexidade. “Faço um apelo para que o foco dessa questão se volte também para os municípios, pois se trata de uma atenção básica à saúde”, argumentou Rita Leal. “A garantia do atendimento pré-natal é fundamental para que todo o sistema funcione de forma harmonizada”, acrescentou ela.