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SALVADOR

Guerra do tráfico transforma trecho da Bonocô em zona de risco

Moradores de Cosme de Farias e Brotas estão sob ameaça. Morte do traficante Titanic gera boatos, onda de medo e fecha escolas e comércio na região

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15/02/2014 às 9:24 • Atualizada em 26/08/2022 às 22:58 - há XX semanas
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A rivalidade entre dois grupos separada por aproximadamente 500 metros de asfalto. O trecho entre duas passarelas da Avenida Bonocô, que liga a BR-324 ao Comércio e por isso é uma das mais movimentadas de Salvador, é considerado atualmente por comerciantes e moradores como a Faixa de Gaza da região de Brotas. O trecho após a Sanave até as imediações da Le Biscuit, é conhecido pelos intensos confrontos entre traficantes de Campinas de Brotas e Cosme de Farias, cada um de um lado da avenida. Segundo a polícia, esses crimes estão relacionados à guerra entre duas facções. De um lado da via, em Campinas de Brotas, estão dois grupos ligados ao traficante Perna, Genilson Lima da Silva, custodiado em penitenciária federal. Nas localidades de Torre e Brongo, em Campinas de Brotas, são comandadas por Alex e pela dupla Robson e Del, respectivamente.

As duas se uniram há aproximadamente seis meses para tentar tomar as bocas de fumo do traficante Olho de Gato, da Baixa do Tubo, localidade de Cosme de Farias. Olho de Gato, que faz parte da facção Comando da Paz, cumpre pena no Complexo Penitenciário da Mata Escura e tinha como braço direito Tiago Guimarães Pinto, o Titanic, morto junto com o irmão Jacson Guimarães e o comparsa Diogo dos Santos, durante uma operação da polícia em Camaçari, na quinta-feira. Ontem, alguns comerciantes e moradores de Cosme de Farias receberam um comunicado de “toque de recolher” via WhatsApp (aplicativo de celular) de supostos traficantes que atuam na região (veja ao lado). A ação dos bandidos seria uma forma de represália pelas mortes de Titanic. medo Morador há mais de 20 anos da Baixa do Tudo, em Cosme de Farias, Seu Binha, 55 anos, tinha os passos largos na manhã de ontem. Questionado pela equipe do CORREIO sobre o porquê de tanta pressa, ele parou, respirou fundo, olhou para o lado e para o outro, provavelmente para saber se era observado, e desabafou: “Estou com muito medo. Essa guerra parece não ter fim”, disse. Ele até hoje sente a dor dos conflitos. “Meu sobrinho está até agora internado no HGE depois de ter sido baleado quando voltava do trabalho. Era por volta das 14h, quando ele ficou no meio de um confronto na passarela do Bonocô em frente à Insinuante”, contou. O fato aconteceu em dezembro. Um rapaz identificado como Vanderson disse que há um ano se mudou da Baixa do Tubo por conta da violência. “São meninos entre 14 e 17 anos, que formam grupos de oito, dez, até 12 homens armados que costumam atacar o outro lado. Os confrontos são sempre nas passarelas”, contou o rapaz, que ontem foi na casa de parentes. O funcionário de uma loja de tintas disse que os confrontos não têm horário para acontecer. “Meio-dia, 14h, 18h, 21h, não tem tempo ruim para eles. Não temem a polícia”, contou. Segundo ele, os grupos passam o dia inteiro um procurando pelo outro. “Meninos de 12, 13 anos atuam como olheiros. Observam a chegada dos rivais e acionam os maiores, que saem dos becos com fuzis, minimetralhadoras, pistolas ponto 40 e abrem fogo. Não querem saber”, relatou. “Quem mora na Baixa do Tubo não vem aqui, no Brongo. E quem mora aqui não pode ir lá. A desobediência é a morte”, avisou o dono de um bar situado atrás da Le Biscuit. “Tenho parentes que moram na Baixa, que tinham antes como opção subir por aqui para chegar mais rápido no Brotas Center, onde trabalham. Agora, eles sobem pelo final de linha de Brotas e seguem andando até lá”, contou. A dona de um salão de beleza disse que tem dias que as duas passarelas - após a Sanave até as imediações da Le Biscuit – são ocupadas pelos bandidos. “Ficam um de um lado esperando o outro cruzar. As pessoas com medo não passam. Quando a polícia chega, todos já dispersaram”. Ela relatou ainda que assaltos são constantes. “Um grupo sempre tenta roubar na área do outro e é mais um motivo para eles se digladiarem”, complementou. Mortes Segundo dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP), só este ano cinco pessoas já foram mortas e outras quatro baleadas em Cosme de Farias. Logo no primeiro dia do ano, um homem morreu após um assalto em uma das passarelas da Bonocô. A polícia ainda informou que três suspeitos abordaram o homem na passarela para roubar os pertences e em seguida dispararam contra ele. No dia 13 de janeiro, a líder comunitária Cleonice Cardoso dos Santos foi baleada em várias partes do corpo dentro de casa, na rua Pedro Gordilho, na Baixa do Tubo. Segundo a polícia, ela foi morta por integrantes do grupo de Titanic. Cleonice, que foi candidata a vereadora, teria sido morta por denunciar o tráfico da região. No dia 1º de fevereiro, um rapaz que saiu de um bar em Cosme de Farias foi baleado no tórax. No dia 5, um adolescente de 15 anos e Virgílio Santos Brito, 22, foram baleados na avenida, após assaltarem um mercadinho. Um homem que presenciou a ação atirou e matou Vinicius e feriu o adolescente. Polícia inibe manifestação na Bonocô Por conta da ameaça de uma manifestação na Avenida Bonocô, ontem, policiais militares reforçaram o policiamento em toda a via. De acordo com a Transalvador, o protesto pediria segurança, depois da morte do traficante Titanic. O ato estava previsto para começar às 9h, mas a presença da polícia inibiu os manifestantes e o protesto não aconteceu Boato de toque de recolher deixa população acuada; escolas fecham No dia seguinte à Operação Destroyer, deflagrada na quinta-feira pela polícia, o clima ainda era de temor em Cosme de Farias. Desde a noite de quinta, mensagens que aconselhavam moradores dos bairros de Brotas e Cosme de Farias a não sair de casa foram espalhadas pelas redes sociais. “O pessoal estava compartilhando essa mensagem e muita gente ficou com medo. Ontem (anteontem), as ruas já estavam vazias quando deu 20h. Eu mesmo saí do trabalho mais cedo, para não chegar depois do anoitecer”, contou um morador de Cosme de Farias, que não quis se identificar. Com medo, pais de alunos das nove escolas municipais do bairro não enviaram seus filhos para as aulas. Segundo a assessoria da Secretaria Municipal de Educação (Smed), cinco escolas que ficam próximas do local onde ocorreu a ação dos policiais não tiveram aula, porque os alunos não compareceram. Uma das instituições que ficaram fechadas foi a Escola Municipal Olga Figueiredo de Azevedo, que atende a 889 alunos da região. Nas outras quatro instituições, houve aula pela manhã. A Smed, cuja sede fica no Engenho Velho de Brotas, também liberou parte de seus funcionários mais cedo, ontem. Segundo a assessoria do órgão, apesar de o expediente terminar às 17h, servidores que moram próximo foram dispensados, porque estavam com medo dos rumores espalhados pelas redes sociais. No entanto, segundo o delegado Daniel Menezes, da Delegacia de Homicídios Múltiplos, o toque de recolher não passou de um boato. “Não aconteceu nada hoje (ontem). Estive lá hoje de manhã e o pessoal disse que a paz voltou a reinar”. Já o major Saulo Roberto, comandante da Rondesp (Atlântico), não descarta que as mensagens sejam repassadas por pessoas ligadas ao traficante Tiago Titanic, morto na quinta-feira. “As pessoas viviam acuadas. Quando surge qualquer informação, eles ficam com medo. Mas a gente não vai permitir que isso retorne”, garantiu. PM reforça policiamento após operação que matou líder da área Para acalmar a população, a Polícia Militar intensificou o policiamento na região de Cosme de Farias, desde a operação da quinta-feira. Segundo o major Fernando Leite, comandante da 58ª Companhia de Polícia Militar (Cosme de Farias), só na Baixa do Tubo dez viaturas da PM fazem rondas. Cada viatura conta com três policiais. Já na Avenida Bonocô, cinco policiais se dividem em três motos do Grupo de Ações Rápidas e Repressivas do Águia (Garra). “Vamos manter esse esquema até a região ficar mais tranquila, com o fim das mensagens (de toque de recolher)”, afirmou. Ainda ontem, outro traficante da quadrilha de Tiago Titanic foi preso, de acordo com o major Saulo Roberto, comandante da Rondesp (Atlântico). O suspeito, identificado apenas como Gão, foi encontrado por policiais da Operação Apolo, que continuam fazendo o policiamento na área de Cosme de Farias. “Ele estava escondido em uma das ruas do Alto do Cruzeiro”, disse o major, referindo-se à localidade que fica dentro do bairro. Ainda segundo Roberto, Gão é apontado como um dos suspeitos de ter participado do crime que resultou na morte do bebê Cauã Néri Cruz, de 1 ano e 10 meses. A criança estava com a mãe, Camila Arruda, 18, e o namorado dela, Leandro Alves Pereira, 28, quando quatro homens invadiram o imóvel e dispararam tiros contra a família. Matéria original do Correio Guerra do tráfico transforma trecho de avenida Bonocô em zona de alto risco

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