“Quero ficar no teu corpo feito tatuagem”, escreveu Chico Buarque na música Tatuagem, uma metáfora que a cada dia fica mais literal. Declarações de amor com desenhos que não saem da pele, antes excentricidade de celebridades volúveis, saíram do show bizz e ganharam a intimidade dos lares. A tatuadora Gabriela Droguett, por exemplo, faz dez tatuagens do tipo por mês - em contrapartida, desfaz o mesmo número em amantes arrependidos. É que a tatuagem dura mais que qualquer relacionamento. “Fica depois da separação e, se continuarem juntos, resiste à viuvez. Eu sempre digo para, pelo menos, não colocarem o nome. O ideal é escolher um símbolo, uma frase ou letra inicial. Algo que você possa cobrir com facilidade ou dar outro significado se for preciso”, alerta. A maior parte do público que procura a tatuadora é feminino. Os lugares preferidos são a virilha e o pulso, à revelia dos conselhos de Gabriela. Na opinião dela, o ideal é desenhar a costela ou as costas, lugares que dá para cobrir com mais facilidade. “Até porque, em alguns casos, a gente chama a tatuagem de ‘bate-e-volta’”. Como o CORREIO acredita no amor, entrevistamos três pessoas que fizeram tatuagens românticas. Mesmo que o relacionamento já tenha chegado ao fim, nenhuma delas se arrependeu da declaração. Veja as histórias.
Livia Tourinho, 29 anos, psicóloga"Eu queria fazer alguma tatuagem, mas não tinha motivo. Queria algo com significado. Aí uma amiga deu a dica dos dois siris, porque tenho gêmeos, meu marido é conhecido como Siri e os meninos parecem com ele. Aí tatuei os dois siris de olhos azuis. A ideia foi homenagear os meninos e também o pai. Tive indicação para escolher a tatuadora e foi a minha primeira tatuagem. Acho que é um lugar legal que escolhi, no pescoço, porque fica escondidinha. Tenho medo de enjoar e esse lugar é discreto, só aparece quando prendo o cabelo. Fiz há uma semana e achei uma dor suportável. A tatuagem é bem pequena e em meia hora ficou pronta. Acho que se fosse um desenho maior, não aguentaria (risos). Depois da tatuagem pronta, mostrei no Instagram e todo mundo fez a ligação entre os siris e o apelido de meu marido. Adoraram a ideia. O Siri pai também gostou, foi comigo para a tatuadora. Ele não gostava da ideia de eu me tatuar, mas deu o maior apoio para os siris. Acha lindo porque foi em homenagem a ele. Temos três anos de casados e há quase sete que estamos juntos. Ele me disse que está empolgado para fazer uma tatuagem também e eu já disse que tem que ser em homenagem a mim (risos). Os siris foram uma boa ideia: meus filhos são idênticos e loiros de olhos azuis como o pai. Não me arrependi do que fiz, estou adorando, minha família gostou. E é o que eu queria, uma tatuagem com significado. Não um fazer por fazer. Já teve amiga que disse que, se eu fizer outra, ela também faz”. Lídice Berman, 30 anos, produtora cultural"Eu tenho algumas tatuagens desde os 18 anos. Ainda estava grávida, em 2004, quando fiz três sapos: um maior, que era meu ex-marido, e os outros pequenos, eu e minha filha Beatriz. Eu tinha visto um modelo com sapos diferentes e ‘viajei’ em representar nossa família com alguns parecidos. A tatuagem fica na minha perna, mais precisamente na canela. Gostei muito do desenho, tem uma mistura de cor linda. Todos os tons da tatuagem foram feitos com mistura de cores. Depois doeu muito, fiquei dias sem conseguir andar. Mas valeu a pena. Eu tenho quatro tatuagens, uma rosa vermelha enorme no braço, um Om e um símbolo judaico. Como sou bem branquinha, tudo chama atenção. Meu pai achava que a tatuagem dos sapos era de chiclete. Eu disse que se fazia bem a ele pensar isso, tudo bem (risos). Mas tanto ele quanto minha mãe são tranquilos. Meus irmãos todos têm tatuagem também. Eu estou me coçando para fazer a próxima. Mas, voltando à tatuagem de sapo, meu casamento durou dez anos e acabou. Tive outra filha, Iasmim. Não me arrependo de ter feito a tatuagem, porque ela foi ressignificada. Agora eu digo que o sapo maior sou eu e os menores, as minhas filhas. É um símbolo que representou uma história, um tempo. Foi legal, positivo, porque significou um momento e foi transformado em homenagem a minha família”. Bruno Portela, 32 anos, consultor de varejo“Tenho uma tatuagem no pé direito que fiz quando morava em Brasília, em 2006, para minha namorada. Fiz pouco antes de pedi-la em casamento. Casamos em 2007, mas já estamos juntos há 11 anos. Nós nos conhecemos na fila da matrícula da faculdade, fomos apresentados por nossos pais. Eu me formei e, em 2004, fui morar em Brasília. Continuamos namorando a distância e, em Brasília, pedi para tatuar um tribal com dois significados. De um ângulo se vê um ‘T’, a inicial de Tâmara, minha esposa, e do outro um ‘B’, inicial do meu nome. Foi difícil tomar coragem, porque é a única que tenho e dizem que dói muito. Mas não doeu nada, talvez o próprio medo tenha me anestesiado (risos). Quando Tâmara viu, achou que era de rena. Quando percebeu que era de verdade, ficou emocionada. Não tomou coragem de fazer uma também, mas não precisa. O desenho fica no pé, é bem discreto. Quem vê comenta que é engraçado e romântico. Mas eu preciso explicar sobre os ângulos certos para ver as iniciais. Durante o tempo que fiquei em Brasília, a tatuagem também funcionou como um tipo de recordação”.
Lívia tatuou os filhos gêmeos (1); Lídice e os sapos (3); Bruno homenageou mulher no pé (3) |
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