Imagine um apartamento de luxo de 180 metros quadrados no valorizado bairro de Sunny Isles, no condado de Miami-Dade, sul da Flórida, Estados Unidos. O apartamento tem vista para o mar, condomínio com piscina, academia, spa e até praia privada. Agora, imagine um imóvel semelhante no Corredor da Vitória, setor com o metro quadrado mais valorizado de Salvador. O mais caro deles, naturalmente, será o apartamento de Miami, porque além de ter regalias incomuns, tem melhor localização, está situado em uma cidade menos violenta e desigual, com serviços públicos mais satisfatórios, certo? O raciocínio é lógico, mas está errado. Isso porque não leva em conta algumas questões como o bom momento vivido pela economia brasileira, o impacto da crise internacional sobre a economia americana e a alta dos imóveis no Brasil. Tudo isso junto fez com que os preços dos imóveis em Miami caíssem, atraindo cada vez mais os investidores sul-americanos, inclusive os brasileiros e baianos. Corretores consultados pelo CORREIO calculam que os brasileiros compram hoje cerca de 30% dos novos apartamentos lançados no condado de Miami-Dade. Os baianos, segundo eles, abocanham parte cada vez mais considerável dessa fatia. Colocar o motivo em números ajuda a entender o fenômeno: o apartamento hipotético de Sunny Isles descrito acima foi inspirado em um três quartos do condomínio Saint Tropez, da construtora J-Milton, que sai hoje por US$ 600 mil (R$ 1 milhão aproximadamente). Já seu análogo do Corredor da Vitória poderia chegar a R$ 2,7 milhões. Os cálculos são de um empresário, investidor imobiliário e proprietário de restaurantes em Salvador. Ele preferiu não se identificar, mas confessou que acabou de comprar um novo apartamento no Saint Tropez, de valor não divulgado.
"Comprei o apartamento para utilizar, inicialmente, como uma segunda casa de férias, mas o objetivo é usá-lo para investir em cinco anos", contou. Ele crê que até lá o novo apartamento vai valorizar com a recuperação da economia americana e o consequente aquecimento do mercado imobiliário local. "Se você pensar no médio e longo prazos, quem comprou hoje um imóvel em Miami vai ganhar mais do que quem comprou um no Brasil", calcula. Ele prevê, com a alta dos preços, que o mercado do Brasil será afetado por uma bolha imobiliária, já com sinais de existência. "No Leblon, por exemplo, o metro quadrado é vendido de R$ 30 mil a R$ 50 mil: isso é a bolha", analisa. No entanto, ele não aconselha o investidor imobiliário a apostar todas as suas fichas nos Estados Unidos. Ele recomenda continuar investindo no Brasil, observando se os preços são reais, e aproveitar a oportunidade de lucrar mais comprando imóveis em Miami. "Investir no Brasil ainda é bom", pondera. "O investidor tem que botar um ovo em cada cesta", ensina. BaianosCada vez mais investidores baianos têm aproveitado a oportunidade fora daqui, de acordo com a corretora Priscilla Mendonça, que vende apartamentos de Miami, em parceria com a construtora Elite Internacional. "Nos últimos três anos, o interesse tem aumentado muito", conta. Ela acrescenta que vale mais a pena comprar um imóvel em Miami porque é mais barato, mais bem localizado e tem perspectiva de valorização nos próximos anos. O corretor baiano residente em Miami Isnar Oliveira, que vende unidades do condomínio Saint Tropez, concorda. "Hoje, o metro quadrado no Saint Tropez, em Miami, é comercializado por R$ 5,5 mil a R$ 6 mil, enquanto no Corredor da Vitória, em Salvador, custa de R$ 13 mil a R$ 15 mil, sendo que a estrutura do condomínio de Miami é muito melhor", compara. Por causa desse cenário, Oliveira garante receber pelo menos dois baianos por dia interessados em comprar as unidades que comercializa. "Eles vêm para Miami buscando sobretudo uma segunda casa e muitos planejam mandar os filhos para passar um tempo aqui. Em seguida, veem que comprar apartamentos para investir tem sido um bom negócio". Segundo ele, nos últimos seis meses, o mercado imobiliário da Flórida já deu sinais de aquecimento, o que tem atraído ainda mais os investidores. "Alguns apartamentos tiveram valorização de US$ 40 mil (R$ 68 mil) só neste período", assegura. Ele promete financiar apartamentos com juros anuais de 4,5% a 6% com burocracia reduzida, mediante apresentação do passaporte, carta do contador e carta do banco. Oliveira pretende abrir, até o fim de março, um escritório em Salvador para comercializar imóveis em Miami. Ele prevê que 2 mil unidades serão lançadas em Miami-Dade até 2014, pelo menos 600 delas até o fim deste ano. Condomínio e IPTU são bem mais caros na FlóridaApesar dos preços melhores dos apartamentos em Miami, alguns detalhes devem ser observados pelo investidor que tem interesse em comprar um imóvel por lá. Segundo cálculos de especialistas, os valores do condomínio, assim como do que seria o IPTU americano, costumam ser mais caros. A taxa paga por um condomínio de luxo em praias valorizadas como Sunny Isles e Pearl Harbor pode chegar a ser 40% mais alta em comparação com bairros nobres de Salvador como o Horto Florestal e o Corredor da Vitória. "Acredito que o IPTU de lá também seja mais caro, mas o custo-benefício é maior, porque você recebe serviços públicos melhores em troca", disse um empresário que acabou de comprar um apartamento em Miami. Ele também pretende expandir seus negócios no setor culinário em Miami no futuro, já que agora não é o momento ideal para isso. "Para quem tem como foco a abertura de negócios, temos de reconhecer que o Brasil, sim, é a bola da vez", considera. Mas ele prevê que, em cerca de cinco anos, o cenário dos Estados Unidos estará melhor também para abrir um negócio, com a esperada recuperação da economia americana. Por sua vez, o presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi-BA), Nilson Sarti, reconhece a oportunidade em Miami para investidores imobiliários, mas é menos otimista quanto aos rumos da economia do país e à valorização dos imóveis lá comprados. "O momento é péssimo para construir em Miami. O mercado imobiliário está desaquecido e as construtoras estão tendo dificuldade de vender e incorporar, pois a recuperação da economia americana está sendo extremamente lenta". Segundo ele, é justamente isso que torna os preços mais baixos, atraindo brasileiros das classes mais abastadas. "O investidor pode ver uma oportunidade, mas as empresas do mercado imobiliário não têm interesse de construir lá".
Vista de um imóvel em Sunny Isles; apartamento em Miami é mais barato que na Vitória |
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