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SALVADOR

Mentira de criança levou inocente à cadeia; verdade o libertou 16 anos depois

Uma mentira contada por Lucineide Santos Souza, 29, quando tinha apenas 12 anos, mudou a vida do técnico em telefonia Jonas da Silva Cruz

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05/12/2011 às 9:29 • Atualizada em 29/08/2022 às 16:24 - há XX semanas
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Enquanto conversa, Lucineide Santos Souza, de 29 anos, deixa à mostra sua timidez. Fala com segurança, mas fala baixo. Evita mirar os olhos das pessoas com quem conversa, mas dá a impressão de sempre dizer a verdade. O problema é que uma mentira sua, contada quando tinha apenas 12 anos, mudou a vida do técnico em telefonia Jonas da Silva Cruz, na época seu vizinho em Nova Sussuarana. Depois de perder a virgindade com um namorado da mesma faixa etária, Lucineide não teve força para contrariar a mãe, Renilda Bispo dos Santos, quando ela acusou Jonas de ter estuprado a filha. Em 1995, ele foi condenado a seis anos de prisão, pena que começou a cumprir somente em 2008. Sexta-feira passada, foi “absolvido por insuficiência de provas”, como o CORREIO mostrou com exclusividade na edição de ontem. A absolvição, entretanto, só foi possível porque Lucineide resolveu falar a verdade. Em janeiro deste ano, “com a consciência pesada”, ela procurou a Defensoria Pública do estado e admitiu que sua mãe, já falecida, foi quem inventou toda a história do estupro narrada durante o julgamento de 95, na 10ª Vara Crime de Salvador. No novo depoimento, desta vez ao magistrado José Carlos Rodrigues do Nascimento, da Vara de Execuções Penais, ela disse não saber por que a mãe não gostava de Jonas, homem que, em suas próprias palavras, “sempre tratava as crianças de forma carinhosa”. “Ele fazia muitas brincadeiras e jogos com a gente”, contou, sentada no sofá da casa do homem que não a estuprou e que, mesmo depois de condenado, a perdoou, sem rancor. “No dia do fato, antes de entrar em casa com o meu namorado, estava brincando com amigas perto da casa de Jonas. Não cheguei a entrar na casa dele”, disse ela, reafirmando que o radialista jamais a abusou sexualmente. Hoje, Lucineide vive em Pernambués e trabalha como empregada doméstica. Um ano após o caso, ela se mudou com a mãe para Rio Sena, no Subúrbio Ferroviário, e só depois de muitos anos soube que Soró havia sido preso, através de parentes que ainda vivem em Nova Sussuarana. “Falar a verdade foi a melhor decisão. E tem gente que quer a condenação dele, mesmo eu dizendo que nunca fui estuprada”, conta. Casada, Lucineide conta que o marido apoiou sua decisão de esclarecer os fatos à Justiça, ainda que tardiamente. “Não tive medo de dizer a verdade. Acho que é algo bom que estou fazendo. Nunca existiu crime nenhum”.
CoragemPara o defensor público Rafson Ximenes, autor do pedido de Revisão Criminal que culminou na absolvição de Jonas, Lucineide foi muito corajosa. “Relembrar uma história dessa não é pra todo mundo”, diz. Lucineide lembra que não queria contar para a mãe que tinha transado com o namorado, e terminou pegando carona na história criada por ela. Então o juiz Marinaldo Bastos Figueiredo condenou Jonas baseado exclusivamente na teoria de que “criança não mente”. “Minha mãe meteu na cabeça que Soró me estuprou e admito que me acomodei”, avalia, com o alívio de quem saiu da acomodação para, desta vez com a verdade, mudar de novo a vida de Jonas.

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