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A promotora Daiana Souza investiu alto na voz e no megafone para vender planos de celular. Arrecadou várias reclamações de moradores |
Um grupo de pessoas espera um ônibus, quando o som de um megafone atordoa o juízo de todos. O repúdio é inevitável. “Que zoada infernal!”, dispara uma corajosa senhorinha. Mas a promotora de vendas Daiana Souza de Jesus, 21, pouco se importa com os comentários. “É um chip na promoção de R$ 4, com internet grátis”, brada, incansavelmente.
A cena aconteceu por voltas das 11h de ontem, no Largo da Fazenda Grande do Retiro, mas moradores garantem – e os números confirmam – que o problema é recorrente no bairro, recordista em reclamações de som alto, segundo levantamento da prefeitura. Os dados da Superintendência de Controle e Ordenamento do Solo do Município (Sucom) apontam que foram registradas 18,3 mil denúncias de som alto entre 1º de janeiro e 3 de maio em toda a cidade, sendo 522 na Fazenda Grande do Retiro, 449 na Liberdade e 442 em Itapuã. A Lei 5.354/1998 estabelece que das 22h às 7h o nível máximo é de 60 decibéis (dB). “Equivale a uma conversa entre duas pessoas ou um diálogo entre professor e alunos numa sala de aula”, explica Everaldo Freitas, gerente de fiscalização da Sucom. Já no período de 7h às 22h, o limite é de 70 dB. “Corresponde a um barulho de máquina ou tráfego de trânsito”, esclarece Freitas. De acordo com moradores, a perturbação da tranquilidade se dá por vários agentes: alto-falantes, aparelhos de som nas lojas, a música alta do vizinho, mas nada se compara ao barulho que sai dos porta-malas dos carros abertos nos finais de semana. Segundo os números da Sucom, os sons de carro representam 41% dos equipamentos apreendidos pelo órgão desde o início do ano (total de 1,2 mil). “Alguns equipamentos parecem uma verdadeira boate de tão alto. Ninguém consegue dormir”, afirma Francisco da Mata, comerciante e morador da região. Segundo os denunciantes, os finais de semana no Largo da Fazenda Grande do Retiro, conhecido como Largo da Egba (Empresa Gráfica da Bahia), são terríveis para quem reside na região. “Com os sons dos porta-malas, juntam-se pessoas de todos os tipos, que vêm até de outros bairros de motos. Estacionam em qualquer lugar e impedem a passagem dos ônibus no final de linha”, reclama Márcia Castro, 22, estudante universitária. “Aos domingos, quando a gente necessita de descanso para recomeçar a semana, a bagunça começa às 15h e vai até as 2h, 3h, de segunda enquanto tiver plateia”, reclama o eletricista Antônio Balbino, 42. Ideia Ainda ontem de manhã, em frente à loja de roupas femininas Repertório Modas, o som era supostamente para atrair a clientela, mas o efeito não foi o esperado. Mesmo com o hit Fui Fiel de Pablo repetido várias vezes, não teve quem entrasse, sequer, para pechinchar. A recepcionista Maria Fernanda Batista caminhava pela calçada, mas, em frente à loja, decidiu caminhar pela pista para se afastar do som. “Assim não dá. É impossível conversar com os vendedores”, reclamou. A ideia do som veio das vendedoras. “A gente pensou que ia ajudar, para animar o ambiente, mas a loja está vazia. Mas também até agora ninguém chegou aqui para reclamar”, declarou a vendedora Gel Santana, 29, sentada na porta do estabelecimento, ao lado da colega Jéssica Suele, 22 anos. No largo, Manoel Carlos, o Carlinhos Rifas, chamava a atenção. Ontem, ele rifava um mini system avaliado em R$ 2.700. A demonstração da eficácia do produto consistia no aparelho ligado no volume 22. “Vai até 40, mas não coloco porque as caixas podem não aguentar”, adverte. Para se estabelecer um diálogo com quem quer que fosse, ele reduzia o volume para 10. “Eu sei que é complicado, já reclamaram, mas quem é pai de família e avô tem que correr atrás”, defende-se. |
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Carlinhos coloca o som no volume 22 para rifar aparelho. Para conseguir conversar, tinha que baixar ao nível 10 |
Já o promotor de vendas José Brandão, 33, que utiliza caixas de som na garupa da moto para fazer propagandas, disse que nunca foi abordado por ninguém. “Não atrapalho as pessoas porque o meu som é volante”, justifica. A Sucom esclarece que as denúncias podem ser feitas através do telefone 2201-6660 que funciona 24 horas. O departamento de Comunicação da Polícia Militar informou que os casos de poluição sonora são de competência da Sucom e que a PM é acionada quando o órgão municipal tem dificuldades de executar a fiscalização. A PM explicou que a Sucom possui aparelhos para aferir se o som está acima do que é permitido. Em outras situações, em que há brigas, lesões corporais, por exemplo, a PM deve ser acionada no 190.
Matéria original Correio 24h Moradores sofrem com desrespeito no bairro campeão de poluição sonora