Os módulos continuam os mesmos, mas o uso deles, quanta diferença. Desativados em quase sua totalidade, os postos policiais de Salvador que ainda não foram demolidos se transformaram em espaços que nada tem a ver com sua antiga finalidade. Se antes a proposta era ajudar a reforçar a segurança da população, alguns dos espaços hoje representam justamente o contrário.
Em Mata Escura, há denúncias de drogas e prostituição (Foto: Correio) |
É o caso do módulo que fica em um ponto de ônibus na frente do campus da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), no Cabula. Segundo comerciantes e estudantes, a unidade está desativada há quatro anos, mas é constantemente usada por usuários de drogas e também como abrigo para moradores de rua.
“Tem um rapaz com problemas mentais que enche o módulo de lixo. Todo lixo que ele pega na rua, joga aí dentro”, contou a comerciante Luzinete da Cruz, que diz não haver manutenção regular no local.
No antigo modulo de Pernambués, frutas são vendidas (Foto: Correio) |
O CORREIO visitou, na quarta-feira (26), diversos pontos da cidade onde funcionavam os postos da PM e apenas um deles ainda segue funcionando, na Calçada. “Pela manhã, é comum alguns PMs usarem o local como ponto de apoio”, disse um vendedor que atua na região.
Já os módulos que ficavam no Bonfim, Nazaré, Baixa dos Sapateiros, Aquidabã, Garcia e Federação foram demolidos. Nos demais, os usos são diversos: desde pontos comerciais, como restaurante e banca de acarajé, até espaço para consumo e venda de drogas.
Desativação
Os postos começaram a ser desativados em 2009, após o governo do estado conseguir, em setembro daquele ano, a transferência do traficante Cláudio Eduardo Campanha, que comandava ações de dentro da Penitenciária da Mata Escura. Em represália à ida dele para o presídio de Catanduvas (PR), bandidos atearam fogo em ônibus e atacaram módulos em vários pontos da capital.
No fim de linha de Santa Cruz, cachorro-quente e acarajé (Foto: Correio) |
De lá para cá, o que se viu foi um abandono gradativo dos equipamentos, como ocorreu no final de linha da Mata Escura, bairro do qual Campanha “se mudou”. Fechado há dois anos, segundo moradores, o local é usado hoje como abrigo por usuários de drogas e ponto de prostituição.
“O módulo tem portas, mas elas não trancam nada. Foi arrombado há um ano e meio e as pessoas usam como local para usar drogas”, contou um rodoviário, sem se identificar. A saída dos policiais e, posteriormente, os saques aos equipamentos aceleraram a desativação, como no caso do módulo do Cabula.
“Levaram tudo: ferro, vidro, alumínio. Tudo o que pudessem vender. Trabalhar aqui faz medo. Tem gente que vem vender drogas aí dentro”, contou um comerciante, que também pediu anonimato.
Nos finais de linha do Garcia e da Federação, os módulos deram origem a outras estruturas. No primeiro caso, o equipamento foi retirado há dois anos e hoje é ocupado por ambulantes e mototaxistas. Na Federação, a antiga unidade virou abrigo de ponto de ônibus.
As mudanças não foram aprovadas pela população. Para a comerciante Vera Lúcia Rodrigues, moradora da Federação, a saída trouxe sensação de insegurança. “Em alguns dias fica uma viatura aqui, mas não é a mesma coisa”, considerou.
Comércio
O antigo módulo da Estrada da Cocisa, em Paripe, hoje é o G5 Alimentação, restaurante frequentado por rodoviários. A única coisa que lembra que um dia o espaço serviu de base para PMs é a estrutura em cimento.
No antigo módulo ao lado da Uneb, no Cabula, agora se vendem DVDs e são feitas divulgações nos vidros (Foto: Correio) |
Segundo os frequentadores, a desativação ocorreu há cinco anos, após a situação ficar mais perigosa para os policiais. “Só ficavam dois PMs no módulo e viviam acuados”, comentou Marcos Souza, 32, cobrador de ônibus. Com a saída – o local era “emprestado” à polícia –, o dono do imóvel transformou o espaço.
Além do restaurante, também funciona um ponto de mototáxi. “Mas o certo é ter o módulo. Aqui tem muito roubo de celular e arrombamentos”, opinou o metalúrgico Antônio de Jesus, 47. A reportagem também encontrou antigos módulos funcionando como pontos comerciais nos finais de linha da Santa Cruz, onde se vende acarajé, e de Pernambués, onde se comercializam frutas.
Já no Vale da Muriçoca, na Federação, o módulo foi transformado em associação de moradores. “Até agora, não tivemos problema (com a PM). Sabem que a associação precisa de um espaço para continuar com trabalhos importantes para a comunidade”, disse a manicure Angélica dos Santos, 30.
Em nota, a PM não soube dizer quantos módulos existem na cidade e quantos ainda funcionam, mas confirmou que, após um estudo técnico, todos serão desativados.
“Constatou-se que o mesmo efetivo empregado nos módulos, se aplicados em viaturas de radiopatrulhamento, teria um maior potencial de atendimento de ocorrência”, diz o comunicado.
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