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SALVADOR

Professor luta para manter vivo debate sobre desigualdade racial

Advogado, professor universitário, Samuel Vida compartilha a vivência e conhecimento da cultura negra nas salas de aula

• 23/11/2013 às 7:40 • Atualizada em 29/08/2022 às 2:58 - há XX semanas

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Samuel desde a adolescência atuava em movimentos
Quando pequeno, Samuel podia ainda nem saber escrever, mas já tinha certeza do que queria ser quando crescesse. “Na quarta série, a professora perguntou e respondi que queria ser advogado. Ela riu e eu não entendi na época o porquê, fiquei sem compreender o motivo do riso”. A causa só foi entendida mais tarde, quando o jovem negro, de origem popular, ingressou no curso de Direito de uma universidade pública conservadora e ocupada, em sua maioria, por alunos da elite. Nascido em uma família humilde, no bairro de Pau da Lima, Samuel Vida, estudou em escola pública e desde a adolescência já atuava em movimentos negros, desenvolvendo atividades que foram acentuando sua identidade racial e fazendo-o perceber a necessidade de reagir, resistir e contribuir para que outros ocupassem os mesmos espaços estratégicos dentro da sociedade. Veja também: Aloisio Menezes: 'Gostaria de estar comemorando a vida e não lutando contra discriminação da raça' Mãe Iara luta pelo respeito ao candomblé e preservação da Pedra de Xangô O branco mais preto da Bahia: Saulo fala sobre a influência da cultura negra em sua vida Guardiã da beleza, Dete Lima cultiva a autoestima da mulher negra Mestre de capoeira enfrenta desafios para preservar herança africana As consequências culturais e educativas foram um rico legado deixado por seus genitores. Se por um lado ele não aceitava qualquer ofensa racial, repetindo o comportamento de seu pai, por outro ele teve a mãe como grande responsável pela escolha profissional. “Minha mãe afirmava o tempo inteiro que poderíamos ser o que quiséssemos, por isso que aos sete anos eu já dizia que queria ser advogado, eu acreditava no que minha mãe me dizia”. Advogado, professor universitário e idealizador de uma organização não-governamental chamada Aganju, Samuel Vida compartilha a vivência e conhecimento da cultura negra, bem como questões sobre igualdade e o combate à discriminação durante suas aulas de Direito Constitucional para os alunos da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e outras instituições onde leciona.
Samuel Vida é professor de direito constitucional e teoria do direito.
“Ensino disciplinas que oportunizam muito o debate. No âmbito da teoria do direito, temos temas propícios que é 'História do Direito' e 'Sociologia Jurídica', onde encontramos uma série de cruzamentos com o racismo e a desigualdade racial”. Para o professor, a própria presença física dele já tem um dimensão simbólica: “é raro para um estudante de Direito encontrar na Ufba um professor negro que usa cabelo rastafári, que vem de uma experiência de movimentos sociais, isso marca para além até do discurso formal”, declara. Como jurista, Samuel Vida não acredita que o fato do racismo ser considerado crime acabaria com o preconceito efetivo, mas que há dimensões simbólicas que o Direito pode contribuir para superar a ignorância e o preconceito que alimenta o racismo. “Sou da geração que cresceu conhecendo apenas heróis brancos e brigamos hoje para que o 20 de novembro seja feriado”, pontua. Samuel Vida acredita ainda que o respeito às diferenças não é um caminho fácil e que não muda da noite para o dia por se tratar de uma cultura secular de natureza intolerante e discriminatória. Para ele, o enfrentamento desses problemas é dever de toda a sociedade, porque se trata de uma questão de natureza ética e só podemos construir um projeto democrático onde houver um lugar para respeitar o dissemelhante, para conviver com o outro onde se preserve a diferença.

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