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SALVADOR

Projeto da prefeitura quer reformar 40 quadras da cidade

Bater um simples baba está cada vez mais difícil em Salvador. A maioria das quadras e campos públicos está completamente abandonada

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31/05/2013 às 15:57 • Atualizada em 28/08/2022 às 15:50 - há XX semanas
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Quando a chuva começa a cair, os amigos Caíque Morais, 13 anos, e Gabriel Silva, 12, já sabem o que vão enfrentar. Não conseguem resistir ao baba do fim da tarde, ainda que isso signifique se sujar dos pés à cabeça com a lama do campo do Alto do Sobradinho, na Federação. Ao chegar em casa, já esperam a bronca. “Esta semana, minha mãe me bateu porque cheguei sujo”, conta Gabriel, coberto de lama. Sem manutenção, campos como o do Alto do Sobradinho, na Federação, estão na lista dos espaços que sofrem com alambrados furados, traves enferrujadas e falta de iluminação Quando a bola rola, os meninos não driblam apenas os amigos do time adversário. Também sofrem a marcação cerrada de buracos e lixo. “Tem até cocô de cachorro e xixi de rato”, diz Caíque. Para completar, eles jogam com traves enferrujadas, além de redes e alambrados esburacados. “A trave está quase despencando”, avisa Gabriel. E como o placar dos meninos não sai do zero a zero, o campo da Federação acabou conquistando espaço em uma lista da prefeitura, que indicou 80 quadras e campos com necessidade de reforma estrutural. Mas nem todos serão reformados. A relação servirá de base para um projeto de requalificação de 40 deles. Enquanto isso, restam as lembranças de quando o campo do Alto do Sobradinho era bem utilizado. Por 15 anos, o trabalhador autônomo Edvaldo Gonçalo, 44, chegou a organizar uma escolinha de futebol com crianças da comunidade. Contudo, em 2011 teve que abandonar o projeto. “Ainda guardo as bolas, mas não tenho mais vontade de fazer. Não dá para pegar um menino desses, que tem uma vida sofrida, e colocar para jogar na lama. Eles pedem para voltar, mas não dá”, lamentou. A distância entre a porta da casa dele e o campo não passa de 10 passos. Difícil ter um equipamento daquele no quintal e não usar para nada. “Esse é nosso único lazer. Se acabar, a criminalidade vai tomar conta”, desabafou. Mas, não são só os meninos da Federação que andam com dificuldades de fazer gol. Quem prefere jogar na quadra da Praça Bahia Sol, em Ondina, corre o risco até de sair ferido. “No ano passado, um colega nosso estava jogando na chuva e escorregou. Bateu a cabeça no ferro da trave e saiu muito sangue”, lembrou o estudante Maurício Freitas, 12. Lá, o piso é de concreto. Também há o poste para jogar basquete, mas falta a cesta. Como na Federação, o alambrado está cheio de buracos. Só que, em Ondina, há um agravante: a trave foi tomada pela ferrugem e pode cair a qualquer hora. Para tentar solucionar o problema, foi colocado um ferro que dá apoio à estrutura - mas que também não parece muito confiável. “Falta tudo, na verdade. Os buracos para escoar a água estão entupidos. Qualquer coisa alaga”, completou o estudante Rodrigo Ferreira, 17. Alambrados esburacados, falta de cestas e traves despencando tornam difícil o lazer em praça de Ondina Projeto De acordo com o diretor de Esportes, Lazer e Entretenimento da Secretaria Municipal da Educação (SMED), Téo Senna, os problemas podem ter fim com o projeto. “Temos algumas dificuldades de execução, por isso estamos elaborando um decreto para adoção das quadras em parceria com empresas”. Além de reformar os espaços, as empresas vão se tornar responsáveis por eles. “Vamos fazer um chamamento público que deve ser publicado na semana que vem”, disse Senna. No entanto, somente 40 quadras e campos devem ser contemplados com o projeto inicialmente. “Também queremos preparar uma licitação para reformar o restante”, destacou, sem dar prazo. O problema é que não são apenas as 80 quadras e campos da lista que são alvo de reclamações. Na quadra do Jardim dos Namorados, na Pituba, qualquer jogo tem que acabar até as 18h. O complexo de três quadras está com os refletores quebrados. “Antes, a gente ficava aqui até 23h. Tinha segurança, banheiro. Hoje, dá medo”, admitiu o operador de logística Thiago Luís, 28. Das duas quadras adaptadas para basquete, apenas uma tem cestas - rasgadas. As redes das traves de futebol estão na mesma situação. Dinheiro Diante da situação das quadras, há quem tire dinheiro do próprio bolso para utilizar os espaços. “O pessoal é que compra as cestas quando quer jogar basquete. A mesma coisa as redes das traves”, revelou o comerciante Everaldo Moreira, 53. Quem prefere o campo do Rio Vermelho também precisa ter boa visão noturna. Segundo o músico Daniel Silva, 23, nenhum dos refletores funciona. “A luz é do poste da rua. Dá medo de ter algum acidente. O chão está cheio de pedras e a gente sai com os pés feridos”, disse, referindo-se à terra do campo. Apesar do portão quebrado e da trave enferrujada, a maior queixa é sobre a falta de segurança. “Entra qualquer um. Temos que ficar atentos”, afirmou o estudante Leonardo Ferreira, 17. Ele diz que não se importaria em pagar para usar o local se tivesse um vigilante. “Mas só até R$ 10!”, avisou. ‘Quadras têm problemas de gerenciamento’, diz professora Apesar da proximidade da Copa das Confederações, Salvador não tem espaços públicos adequados para a prática do esporte. Pelo menos é isso que diz a professora Celli Taffarel, do curso de Educação Física da Universidade Federal da Bahia. “Há poucas quadras comunitárias. Nas que temos, há problemas de gerenciamento e manutenção de programas voltados para a população”. Segundo ela, essa é uma situação recorrente no país. “O Brasil quer ser uma potência olímpica, porém não investe o suficiente nas necessidades esportivas básicas”. Segundo o professor da Universidade Federal de Santa Catarina Giovani De Lorenzi, doutor em Educação Física, apenas 27,5% das escolas públicas brasileiras têm quadras esportivas. “Educação Física é obrigatória nas escolas. Infelizmente, além da perda da qualidade da prática do esporte, existe a perda da própria prática”. Para o professor, cidades como Belo Horizonte (MG) e Maringá (PR) têm bons exemplos de manutenção das quadras, com a criação de cooperativas. Matéria original: Correio 24h Projeto da prefeitura quer reformar 40 quadras da cidade

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