José Carlos ia sair com a mulher e os três filhos; Gildate estava apenas esperando um colega; e Marília só queria comprar pão. Acabaram todos com uma arma na cabeça. E sem os seus carros. Na quarta-feira, Salvador e Região Metropolitana registraram um roubo de veículo a cada 22 minutos. Com 46 ocorrências entre 5h15 e 22h30, foi o dia com mais crimes desse tipo no ano, fora do período da greve da PM, entre 1º e 11 de fevereiro. A maioria destes carros e motos está sendo utilizada em ações criminosas e faz parte da renovação da frota semanal do tráfico de drogas, conforme pondera o delegado Nilton Borba, titular da Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos (DRFRV). Os dias em que o índice deste tipo de crime aumenta são às terças e quartas-feiras (veja gráfico ao lado). Segundo o delegado, por necessidade logística do crime organizado. “Eles roubam nesses dias para utilizar os veículos na quinta e na sexta para abastecer as bocas de fumo com drogas”, explicou. Na outra ponta está o domingo, com 120 roubos. Os 672 roubos em fevereiro apontados nos boletins diários da Secretaria da Segurança Pública (SSP) representam um crescimento de 17% com relação ao registro mensal de fevereiro do ano passado (573 ocorrências). O número deste ano, no entanto, pode ser ainda maior, já que o balanço mensal só será fechado este mês. Para se ter uma ideia, em 2011, os boletins diários de fevereiro somam 246 roubos e furtos - 42% dos 573 registrados no mensal.
VítimasA forma de abordagem se repete. “Eram umas 19h quando fui comprar o pão e parei o carro em frente ao shopping Caboatã (Imbuí). Na volta, quando coloquei a chave na porta, dois caras vieram por trás, pediram a chave e levaram o carro. Me disseram até que não me preocupasse, que depois eu ia achar”, relatou a estudante de Direito Marília Gonçalves, 22, uma das vítimas da quarta-feira. A fisioterapeuta Laís Guimarães Jatobá, 28, até achou. “Mas foi perda total. Só de conserto dava R$ 28 mil. O carro estava cheio de balas lá em Santo Amaro (da Purificação, no Recôncavo)”, conta. Ela foi roubada, às 20h, na Av. Centenário, Barra, no dia 23 de janeiro. “Fui sair com o carro, ele veio, pôs a arma em minha cabeça e pediu para sair. Minha pressão subiu muito e quase perco meu bebê. Até hoje não tenho coragem direito para sair na rua”, diz. Já o empresário Gildate Simões, 50, foi assaltado no dia 26 de janeiro, na avenida ACM, à luz do dia. Mais especificamente ao meio-dia. Estava esperando um colega no carro, quando um rapaz armado, entrou pela porta do carona e ordenou que ele saísse. “Eu dei mole, fiquei dentro do carro com os vidros abertos. Mas a gente nunca acha que vai acontecer com a gente, é sempre com os outros”, lamenta, quase em tom de alerta para os demais. Morador de Pojuca, na Região Metropolitana, o operador de escavadeira José Carlos dos Santos, 41, ia sair com a família, por volta das 20h do dia 5 de fevereiro, quando foi assaltado. Ao embarcar no carro, com três filhos (10, 7 e 6 anos) e a mulher, um ladrão entrou e colocou a mulher no fundo e a arma na sua cabeça. Eles ficaram de reféns até a saída da cidade. “Uma alma de Deus viu uma família com crianças e nos deu carona até a delegacia. Mas os marginais estão todos lá, circulam por lá como se fossem os donos”, denuncia. “Eu sei que vão me roubar de novo, não saio mais de noite com medo”, conta. Apesar de casos como o de José Carlos, o delegado Nílton Borba tenta tranquilizar e salienta que em menos de 1% dos casos (em janeiro foram dois), as vítimas são levadas como reféns e liberadas em seguida, em locais isolados. “A estratégia é de retardar a denúncia e o trabalho da polícia, mas é raro que eles agridam as vítimas”, afirma. MétodosAlém do transporte de drogas, em geral os carros pequenos são utilizados também em confrontos de quadrilhas; as picapes e vans, no transporte de mercadorias roubadas; e as motos, no transporte nas comunidades, além da prática de crimes como a saidinha bancária. A maioria dos casos é registrada no início da noite, quando as pessoas estão voltando para casa. Em janeiro, por exemplo, segundo dados da polícia, distribuindo as ocorrências por hora do dia, até as 16h registram-se no máximo 15 ocorrências. A partir daí, o número vai aumentando até o pico das 22h, com 60 registros. Ainda de acordo com os dados da DRFRV, em 58,6% dos casos, os criminosos chegaram a pé; 28,2% assaltaram em motocicletas; e 13% estavam em um carro. RecuperaçãoEm todos os casos, ressalta, os veículos são encontrados. “Praticamente não existem mais as quadrilhas especializadas em roubo de veículos para desmonte e adulteração de chassis", afirma. “Eles querem o dinheiro rápido, dos pertences pessoais e das peças do carro que vendem rápido, como rodas, bancos e som, e depois abandonam o veículo. Apenas 5% dos carros roubados vão para desmonte”, detalha. Borba afirma que 80% dos veículos roubados são recuperados pela polícia, mas não apresentou dados. De acordo com o balanço da SSP dos 1.161 roubados este ano, 347 foram recuperados - 29% do total.
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