Shoppings lutam para garantir respeito às vagas preferenciais

Motoristas espertinhos ganham aviso

Vagas preferenciais de estacionamento, em shoppings e supermercados, ficam em locais privilegiados, próximo dos acesso às lojas ou aos elevadores. Por isso, elas são tão cobiçadas por motoristas que se acham no direito de ignorar a sinalização. Shoppings da capital, porém, lançam estratégias para que a prática mude. O Salvador Shopping e Salvador Norte bolaram uma campanha de educação e constrangimento. Quando o motorista “distraído” deixa o carro em local errado recebe uma notificação no vidro. Não é uma multa, nem tem efeito punitivo. Mas, segundo a administração do shopping, serve para que os motoristas saibam que alguém sabe o que ele faz e que reflita. Já o Shopping Iguatemi, além de panfletos nos vidros dos carros, está testando a instalação de cavaletes na entrada das vagas prioritárias. Com a medida, o motorista só terá acesso à vaga com auxílio de um funcionário do shopping. Há uma lei federal que exige que pelo menos 2% das vagas de estacionamentos que atendam ao público sejam reservadas a pessoas com deficiência. “Quando reservamos essas vagas não só cumprimos a legislação, que inclusive exige a identificação vertical e horizontal das vagas, mas também preservamos o conforto dos clientes”, diz Fabiano Mehmeri, coordenador de projetos socioambientais do Shopping Salvador. Lá, ao entrar no empreendimento, o motorista já recebe o recado da voz eletrônica na cancela do estacionamento. “Respeite as vagas preferenciais”, diz. Por todo o shopping, há cerca de 200 placas de uma campanha educativa que alerta para a importância da garantia das pessoas com necessidades especiais e idosos de terem o acesso facilitado. Ou seja, é preciso mesmo muita “distração” para estacionar no local reservado. FlagrasAinda assim, o CORREIO viu que há “distraídos” aos montes. Ontem, um Renault Sandero Preto com selo da Ordem dos Advogados de Ilhéus estava estacionado na vaga reservada para cadeirantes do Salvador Norte. No Salvador Shopping, um carro de uma empresa de manutenções de caixas eletrônicos ocupava duas, e não apenas uma dessas vagas. O carro foi estacionado entre os cones posicionados pelos seguranças do shopping para coibir o uso irregular. A desculpa do funcionário da empresa, que não quis ser identificado, foi de que a vaga reservada para carros que transportavam valores também estava sendo utilizada indevidamente por um carro de passeio. Mesmo errados, dois rapazes, um deles que disse ter 25 anos, se exaltaram ao perceber que a reportagem registrava imagens de quando usavam a vaga para idosos. Ao apontar outros veículos estacionados em situação irregular, o jovem ameaçou. “Agora eu vou delatar todo mundo”, disse. O controlador de estacionamento Gledson Sena explica que os infratores costumam não gostar dos avisos. “Eles amassam, jogam no chão. E o engraçado é que tem veículo que a gente já conhece, que coloca o carro no lugar todos os dias”, revela. Bom exemploAtivista pelos direitos das pessoas com deficiência, Mariangela Bião diz que várias vezes retornou de centros comerciais por não encontrar vagas. “É importante que as pessoas sejam conscientizadas. Alguém diga que não curtiu o que eles estão fazendo. Minha filha mesmo, às vezes, coloca pequenos adesivos no carro dos outros, dizendo que é feio ocupar o lugar de quem precisa”, diz. No Salvador Shopping, o CORREIO flagrou também o bom exemplo da enfermeira Vanessa Monteiro, 32. Uma das vagas de idosos acabara de vagar. Vanessa foi em direção à vaga e chegou a manobrar. No entanto, quando percebeu que a vaga era reservada para idosos, deu meia volta e procurou outro local – bem distante do acesso ao shopping. “Eu acho que é uma pura questão de educação. Se é para idoso, é para idoso. Tem que ser respeitado. Não tem desculpa”, afirma. Cadastramento de carros seria solução, diz ativistaO cadastramento de carros de pessoas com deficiência resolveria a farra dos motoristas que estacionam em vagas preferenciais segundo o Wilson Cruz, membro da Comissão Civil de Acessibilidade de Salvador (Cocas) e associado à Associação Baiana de Deficientes Físicos (Abadef). “Há uma omissão dos órgãos de trânsito, que poderiam cadastrar todos os deficientes, o que facilitaria a identificação dos carros. Faz tempo que tentamos nos reunir com a Transalvador para discutir isso e não obtemos respostas”, diz. O Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que aponta o estacionamento nessas vagas como infração, atribui o credenciamento ao órgão municipal de trânsito. A assessoria da Transalvador foi procurada durante toda a tarde de ontem, mas ninguém foi localizado. Matéria original Correio 24h Shoppings lutam para garantir que vagas especiais sejam respeitadas