A calmaria com a qual Pinóquio andava no Presídio Salvador terminou em 16 de junho, quando estourou o segredo guardado em seu corpo havia duas semanas: uma das 21 cápsulas de cocaína alojadas no intestino. Seis dias depois, morria de infecção, no Hospital Geral Roberto Santos, Eduardo Antònio Serra Portela, um dos mais procurados traficantes internacionais, caçado pela Interpol por nove crimes.
Conhecido pelas polícias internacional e brasileira pelo apelido de Pinóquio, Eduardo António foi preso em 2 de junho no aeroporto de Salvador. Tentava embarcar normalmente em um voo da TAP para Lisboa, capital portuguesa. Entretanto, desde dezembro de 2010, a Justiça de Portugal havia expedido um mandado de prisão contra ele, depois de descobrir que o traficante estava escondido no Brasil.A Polícia Federal (PF) também tinha conhecimento de um alerta vermelho contra Pinóquio, expedido pela Interpol. Depois de localizá-lo no salão de embarque do aeroporto, os policiais submeteram o fugitivo aos procedimentos de rotina e o levaram para a carceragem da PF, em Água de Meninos, sem desconfiar que ele havia ingerido cocaína em cápsulas.Ao CORREIO, a assessoria de comunicação da PF na Bahia admitiu não ter submetido Pinóquio a exames minuciosos antes de encarcerá-lo, como raio x, praxe quando se há suspeita de transporte de cocaína dentro do corpo. A justificativa foi a de que a prisão atendia a uma ordem do Supremo Tribunal Federal, com base no mandado solicitado pelas autoridades portuguesas, e de que também não havia indícios apontando para a prática. Contudo, agentes brasileiros estavam atrás do traficante há meses em uma investigação de tráfico. Surdina Após passar a noite em uma cela da PF, Pinóquio foi transferido em 3 de junho para o Presídio Salvador, na Mata Escura, onde foi novamente submetido a exame de corpo de delito. De acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), o traficante manteve em segredo a droga armazenada no intestino. Durante os 13 dias em que passou na unidade, o português aparentou tranquilidade e bom comportamento, segundo informou a Seap. Em 26 de julho, ele seria ouvido pela Justiça Federal na Bahia, como parte do processo de extradição que tramitava no Supremo, cujo relator era o ministro Joaquim Barbosa. As autoridades portuguesas queriam colocá-lo na mesma prisão na Ilha da Madeira da qual fugiu em abril de 2009, depois de ser beneficiado por uma liberdade provisória. Interrupção No presídio, ninguém conhecia o verdadeiro histórico daquele homem de 47 anos, 1,74 metro de altura e sotaque português. Nem que ele havia entrado no Brasil em 2009, sem ter sido detectado pela polícia, mesmo procurado no mundo inteiro por assalto à mão armada, tráfico de drogas, associação criminosa e receptação de mercadoriwa.
Fama e fortuna através das drogas O português Eduardo Antònio Serra Portela, o Pinóquio, nascido em Angola, é descrito pelas autoridades e agências de notícias europeias como um criminoso altamente perigoso e dono de uma longa ficha. Criado no Bairro do Relógio, uma das áreas mais violentas de Lisboa, iniciou a vida no crime através de roubos à mão armada, especialmente a joalherias da capital lusitana. No início do anos 80, já era fichado pela polícia portuguesa. Contudo, foi através do tráfico de drogas que conquistou fama e fortuna. Nos anos 90, foi um dos 65 presos e investigados por integrar a Colombian Connection, rede de narcotráfico responsável por levar cocaína, heroína e haxixe da Colômbia e do Brasil para Portugal e Espanha. Foi capturado pela polícia em Madri, onde gerenciava pizzarias. Mas, em 1997, escapou da temida prisão de Carabanchel, tida como a “Alcatraz da Espanha”. Para sair, subornou um dos guardas por 15 milhões de pesetas, equivalente, hoje, a cerca de R$ 200 mil. Em 1998, tentou furar um cerco imposto pela polícia de Portugal, que estava em seu encalço. No tiroteio, acabou ferido e preso. Foi condenado a 19 anos, um mês e 12 dias. Na cadeia, continuou a comandar a distribuição de drogas. Em 2009, foi beneficiado por um alvará de liberdade provisória. Deixou a penitenciária da Ilha da Madeira, situada na costa sudoeste de Portugal. Fugiu para o Brasil no mesmo ano, onde entrou livremente. Segundo a polícia portuguesa, era recebido como rei nos morros cariocas, devido às conexões que mantinha com os cartéis colombianos. A PF informou que já havia detectado suas movimentações criminosas no país e também estava à cata do traficante internacional.
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