A bióloga Elionai Santana passou o ano passado dividindo o tempo entre as visitas ao ginecologista e ao urologista, pois não conseguia se livrar de uma infecção urinária recorrente, que comprometia suas atividades profissionais e sociais a cada três meses. “Sentia muita dor, febre e aquele incômodo por não conseguir segurar o xixi”. Depois de várias consultas e gastos significativos com anti-inflamatórios e antibióticos, veio a resposta: Elionai se tornou mais uma vítima do estresse e o resultado disso foi sentido diretamente na saúde. De acordo com levantamentos do Ministério da Saúde, o nível de estresse dos trabalhadores brasileiros aumentou de forma considerável nos últimos anos. Entre policiais e bombeiros, por exemplo, os valores sofreram uma alteração de 51% entre os anos de 2006 e 2011. Outro levantamento feito pela International Stress Management Association (Isma - Associação Internacional do Controle do Estresse) e divulgado no final do ano passado, o Brasil é apontado como o segundo país com o maior nível de estresse do planeta. A psicóloga Suzane Bandeira explica que o estresse é uma reação natural do organismo a algo, a princípio, ameaçador. “Ao contrário do que muitos pensam, o estresse é importante porque nos faz reagir às situações do cotidiano. O perigo à saúde ocorre quando o indivíduo vive situações de estresse constantes, chamadas de estresse negativo, que sobrecarrega o organismo, levando o corpo, a mente e as emoções a um esgotamento”, completa. O resultado dessa ameaça constante pode se manifestar na forma de dores de cabeça, musculares, problemas cardíacos, asma, gripes, queda do sistema imunológico, crises de ansiedade, depressão e até mesmo o agravamento de doenças crônicas como a hipertensão, obesidade e diabetes, entre outras. O caso de Elionai foi resolvido finalmente com a prática diária de Pilates e uma mudança nos hábitos alimentares que a levaram a vigiar diariamente a ingestão de água e o consumo de frutas. “Resolvi meus problemas urinários e até mesmo os intestinais, pois também não tenho mais problemas de prisão de ventre”, completa lembrando que essa medida simples também proporcionou uma qualidade de vida melhor. “É difícil manter o humor quando se tem dor, mas também é preciso ficar atento às rotinas, do contrário, viramos escravos de nós mesmos”, completa. Limpeza emocionalO pneumologista e professor adjunto da Escola Bahiana de Medicina Guilhardo Fontes diz que a Medicina ainda sabe pouco sobre o estresse, mas para não transformar a resposta natural do organismo num desencadeador de doenças, é preciso adotar algumas estratégias para reduzir a sobrecarga física, mental e emocional a que todos estão submetidos. “Sabemos hoje que o estresse reduz as defesas do organismo e que as emoções possuem um vínculo muito estreito com a saúde respiratória, por isso mesmo, indico aos meus clientes e alunos que vivam um dia de cada vez para reduzir a ansiedade de ontem, que não pode ser mudado, e do amanhã, que ainda não aconteceu”, completa o médico. Ele ressalta a importância da higiene mental diária por meio da realização de uma atividade física prazerosa, ter um tempo de meditação distribuído ao longo do dia e dormir bem. “Aliado a isso, é importante que o indivíduo possua uma prática religiosa, independente de qual o credo abraçado”, diz o médico, pontuando que a fé também ajuda a promover a saúde. “Embora, historicamente, ciência e religião não caminhem juntas, a prática nos mostra que uma pessoa com crenças religiosas possui uma resposta orgânica maior às situações de estresse e doença”, completa o médico, destacando que são comuns os casos de pacientes com crise de asma, por exemplo, cujo desencadeador das crises são os problemas emocionais. “No entanto, quando esses cuidados já não conseguem reduzir a pressão, é fundamental buscar o auxílio terapêutico de um profissional da área de psicologia e psiquiatria”, aconselha o professor de Medicina. Com uma postura parecida, a psicóloga Suzane Bandeira lembra que as estratégias para combater o estresse variam de pessoa para pessoa, mas que, no geral, se baseiam em não descuidar dos aspectos diversos da vida, como o lazer, a saúde física e mental, a necessidade de socialização e da presença de amigos e a espiritualidade. “É fundamental que as pessoas desenvolvam o hábito de se observar, de olhar para si, perceber o que faz e o que não faz bem e desenvolver as estratégias para lidar com suas tensões”, explica a psicóloga. Suzane ressalta que profissionais ligados às áreas onde o cuidado com o outro é a tônica, como enfermeiros, professores precisam de atenção especial para que as dificuldades típicas da escolha vocacional não se transformem em distúrbios de ansiedade e doenças, como a Síndrome do Burn out (do inglês, queimar-se), quando a pessoa vive um esgotamento profissional. “O autoconhecimento é uma ferramenta importante, inclusive, para que se reconheça os sinais dados pelo próprio corpo nos chamados órgãos de choque, como os intestinos, a pele e o estômago, que são os primeiros a sentirem os impactos do estresse negativo”, esclarece. Espaço de prazer A enfermeira Clarice Figueiredo é prova disso. Vivendo uma rotina intensa de plantões numa ala onde os pacientes tinham uma expectativa reduzida de vida, ela adquiriu uma doença de pele chamada psoríase. “No início, era terrível, porque além de ter que lidar com o cansaço, com as questões pessoais que me levavam a questionar minhas escolhas de vida, ainda tive que enfrentar o preconceito porque, embora não seja contagiosa, a psoríase não tem um aspecto muito bonito”, completa. Hoje, Clarice faz terapia e natação, além de ter aprendido a revalorizar o espaço dos amigos e da família em meio às responsabilidades profissionais. Para o psicólogo e personal wellnes Diego Sant’Anna, o maior problema das pessoas que sofrem com o estresse reside no fato de que elas não conseguem equilibrar e harmonizar os lados da vida, privilegiando mais o racional e o trabalho, esquecendo que a espiritualidade, as emoções e o prazer precisam ser contemplados para se viver bem. Método desenvolvido por psicólogo baiano contra a doençaCom apenas 16 anos, o psicólogo Diego Sant’Anna enfrentou um câncer de mediastino. Na época, além da surpresa com a doença, ele se perguntava o que poderia ter propiciado seu problema, visto que ele cuidava da saúde. “Apesar de treinar muito, me alimentar bem, ter uma fé que foi importante como apoio, percebi que não cuidava das minhas emoções”, relembra. A partir daí, Diego criou uma estratégia para unir um trabalho voltado para o desenvolvimento mental, espiritual, físico e emocional, que ele chamou de método Benecer (www.benecer.com.br). “Não se trata de uma receita pronta ou de mágica, mas de uma percepção que para combater os inimigos da saúde como o estresse, é preciso não deixar que nenhum aspecto da vida fique sem o cuidado necessário”, explica Diego. Segundo ele, o método auxilia no combate à doença através do desenvolvimento da inteligência emocional, em que o indivíduo irá aprender a lidar melhor com as situações adversas diárias, do estímulo a uma maior conexão com a espiritualidade, independentemente da crença adotada, aliada à otimização dos hábitos alimentares e à prática regular de atividades físicas. Ainda segundo Diego, o método Benecer funciona, através dos encontros semanais, visando cuidar do que pode ser melhorado e desenvolver aspectos que já são positivos. Juntamente com o auxílio do psicólogo, as pessoas recebem o acompanhamento de um educador físico, que prescreve atividades e suporte nutricional. Matéria original: Correio 24h Cuidar do corpo, mente, espírito e emoções é importante para se livrar das doenças
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