Os mais velhos poderiam comparar com Sucupira, a fictícia cidade de o Bem Amado, novela exibida pela Rede Globo em 1973. Os mais jovens, com a também fictícia Brogodó, exibida diariamente em Cordel Encantado. Mas as idas e vindas políticas das duas cidades não chegam nem aos pés do que anda acontecendo numa cidade real aqui da Bahia.
Em Madre de Deus, na Região Metropolitana de Salvador, o atual prefeito é Daílton Filho (DEM), mas na semana passada era Jeferson Andrade (PR) e há dez dias Erenita de Brito (PMDB). Daílton tomou posse ontem, mas este foi apenas mais um capítulo de uma novela que está longe de acabar. Até o momento foram 13 decisões e liminares, dadas por dez magistrados diferentes, (ver boxe), mas o mérito do processo ainda não foi decidido pelo Tribunal de Justiça da Bahia. Mesmo quando isto acontecer, o caso ainda pode ir pro Supremo Tribunal de Justiça (STJ), onde ainda caberão inúmeros recursos. A prefeita original, Erenita, eleita em 2008, foi cassada junto com o vice, no dia 9 de agosto, acusados de corrupção, e pela lei, o presidente da Câmara de Vereadores deveria assumir a prefeitura. Só que não há um consenso sobre quem preside a Câmara. Conta Na eleição da mesa diretora, em dezembro do ano passado, aconteceu algo inusitado, que desafia os princípios básicos da Matemática. A Casa só tem nove vereadores, mas o candidato democrata teve seis votos e o republicano, cinco. Isso porque, inicialmente, Daílton seria eleito por chapa única, com o apoio de cinco colegas, mas durante a sessão apareceu uma segunda chapa, que tinha Jeferson como candidato a presidente. Partidários do democrata juram que a chapa só apareceu depois que a sessão foi encerrada. Já os amigos do republicano garantem que a inscrição foi feita no tempo regulamentar. O próprio Jeferson inicialmente apoiava a chapa de Daílton, mas acabou seduzido pelo grupo adversário com o cargo de presidente. Como a cassação de Erenita já era esperada, a presidência da Casa significava o cargo de prefeito e a vice-presidência, logo se transformaria na presidência. O cargo de vice foi então oferecido ao vereador Anselmo Duarte (PHS), que aceitou a oferta, acompanhou o colega e mudou de lado, deixando desfalcado o grupo do democrata Daílton. Uma nova sessão foi realizada, apenas entre os cinco, e a chapa eleita. A partir daí, travou-se uma batalha judicial para decidir qual votação valeu. No lugar dessa decisão, o que saiu dos tribunais até hoje foi uma série de despachos, liminares, mandados de segurança e outras decisões sem caráter definitivos. Prefeitura Após a cassação de Nita, Daílton chegou a tomar posse como prefeito, numa sexta-feira, dia 12 de agosto. Mas não ficou nem um dia útil no cargo. Às 13h de segunda-feira, dia 15, um despacho da desembargadora Daisy Lago deu a prefeitura ao rival, Jeferson Andrade. Ontem, foi a vez do republicano ter que deixar o cargo, graças a um mandado de segurança de outro desembargador, Clésio Rosa. “Não resta dúvida que agora a Justiça foi feita, e eu reconduzido ao posto de onde nunca devia ter saído”, disse o atual prefeito – atual pelo menos até o fechamento desta reportagem. Isso porque decisão ainda não é definitiva e os advogados de Jeferson prometem ir novamente à Justiça. “Lógico que vamos recorrer, vamos fazer tudo o que for possível”, avisou o advogado Luiz Montal. Enquanto isso, Daílton diz que vai governar como se fosse o prefeito definitivo, o que inclui recontratar os mais de 400 funcionários com cargos comissionados que haviam sido demitidos pelo prefeito da semana passada. Festa Estes (os funcionários) estavam esfuziantes com a volta do prefeito, e o receberam com carros de som e faixas. Ele foi carregado pelos aliados políticos para dentro da Câmara de Vereadores, enquanto cartazes de apoio a Jeferson eram retirados dos muros do prédio. “Vou tocar a administração normalmente. Se ficar esperando a decisão de A, B ou C, o prejuízo vai ser maior”, anunciou. Em sua cerimônia de posse, na Câmara de Vereadores, uma surpresa. A vereadora Tânia Pitangueira (PTC), que havia apoiado a chapa adversária na eleição, mudou de ideia. “Apoio Jeferson para presidente da Câmara, mas para prefeito é Daílton. Jeferson na prefeitura traz Carmem de volta e isso eu não quero”, justificou, referindo-se à ex-prefeita Carmem Gandarela (PT), sua inimiga política e aliada de Jeferson. Com a mudança, Daílton dá lugar ao suplente Amilton Pereira (DEM). O presidente da Casa passa a ser Antônio Carlos Soró (PSDB).
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