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Em cinco dias, sete bairros têm rotina alterada por criminosos

Ontem foi a vez de Ipitanga, em Lauro de Freitas, onde até escolas suspenderam as aulas

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Redação iBahia

15/08/2017 às 12:16 • Atualizada em 27/08/2022 às 22:14 - há XX semanas
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Depois de bairros da capital sofrerem com comércio fechado após toques de recolher e ônibus queimados, ontem foi a vez da Região Metropolitana de Salvador (RMS). Mais de 40 estabelecimentos, entre salões de beleza, restaurantes e lojas de roupas, em Ipitanga, no município de Lauro de Freitas, fecharam as portas. Até escolas suspenderam as aulas.
Nos últimos cinco dias, foram sete bairros afetados em Salvador e Região Metropolitana, incluindo Boca do Rio, Imbuí, Stiep, Tancredo Neves, São Cristóvão e Brotas, além de Lauro de Freitas.
Em Ipitanga, comerciantes decidiram fechar grande parte das lojas depois de receberem ameaças de criminosos. O motivo teria sido a morte, após uma briga de trânsito, de um criminoso, de prenome William, apontado como chefe do tráfico na Lagoa dos Patos, em Lauro.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA) não deu mais detalhes sobre essa motivação. Disse apenas que os casos da Boca do Rio e de São Cristóvão, na semana passada, distinguem de ontem, ocasionado “por outro motivo”, referindo-se a William.
Após morte de Marcelo Batista dos Santos, lojas fecham na Boca do Rio (Foto: Marina Silva/CORREIO)
A polícia investiga a relação das ações dos últimas dias na capital com a morte de Marcelo Batista dos Santos, o Marreno, 30 anos, considerado o número 1 da facção criminosa Bonde do Maluco (BDM), morto na quarta-feira em confronto com a polícia. O comparsa e motorista dele, Anselmo Nascimento Sena, também acabou morrendo.
Sem aulas
O CORREIO percorreu as ruas de Ipitanga e da localidade vizinha de Vila Praiana e encontrou escolas fechadas. Uma das instituições que encerraram as atividades antes do horário previsto foi a Escola Municipal Gregório Pinto de Almeida, na Rua Vitória da Conquista. “Quando tem essas situações aqui, a gente sempre libera mais cedo. E foi o que fizemos hoje”, explicou o porteiro da escola que preferiu não se identificar.
Também ficaram fechadas as escolas municipais Enock Amaral, na Rua dos Vereadores, e da Vila Praiana, na Rua Alto da Vila Praiana. Em Ipitanga, ficou fechada a Escola Municipal Itamar de Oliveira Rodrigues. A Secretaria Municipal de Lauro de Freitas informou que as escolas abriram, mas os pais preferiram não levar as crianças.
Dois homens foram presos, no início da tarde, suspeitos de ordenarem o toque de recolher na Avenida Luís Tarquínio, uma das principais vias da cidade. Yuken Santos Silva, 21, e Alex Santos da Silva, 31, foram detidos em flagrante por uma equipe da 52ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Lauro de Freitas). Com Yuken e Alex a polícia afirmou ter apreendido uma motocicleta que estava sendo usada pela dupla.
“Recebemos a informação de populares e intensificamos as rondas e abordagens. A população pode ficar tranquila que a polícia continuará agindo firme contra esses bandidos”, afirmou o comandante da 52ª CIPM (Lauro de Freitas), major Fabrício de Oliveira Silva. O oficial acrescentou que as Rondas Especiais da Região Metropolitana de Salvador (Rondesp/RMS) ampliaram o patrulhamento na região, permanecendo no local na noite de ontem.
Ônibus
Em Salvador, os ônibus continuavam sem circular ontem, no fim de linha do Stiep, onde, na quinta-feira à noite, um coletivo foi incendiado. “Por lá, é uma situação bem mais delicada, já que não há uma frota policial. Mas já solicitamos à polícia para voltar à normalidade”, disse Pedro Celestino, diretor de saúde e segurança do Sindicato dos Rodoviários. A PM informou que a segurança no bairro permanecia reforçada ontem.
Já no bairro de Tancredo Neves, onde um ônibus foi incendiado na noite da última sexta-feira, os coletivos voltaram a rodar por volta das 9h30 de ontem. “A situação estava tensa. A gente andava assustado. Só que a polícia não ficará aqui constantemente”, disse o ambulante Magno de Assis, 28, que vende café no final de linha. Como os ônibus não estavam indo até o local, ele amargou um prejuízo. “Quem mais compra na minha mão são os rodoviários. Não vendi nada”, disse ele.
Comércio fechado na sexta-feira, no bairro de São Cristóvão (Foto: Almiro Lopes/CORREIO)
As queixas se estendem aos comerciantes da Avenida Jorge Amado. A loja de utensílios para hotéis e restaurantes Suprinox foi uma das que fecharam na sexta. Com isso, a loja precisou desmarcar com diversos clientes. “O clima estava bem tenso, ficou um verdadeiro deserto, então, achamos por bem não colocar a vida dos clientes em risco”, contou um vendedor que preferiu não se identificar.
A fábrica de bolos artesanais Meu Bolo, também na Jorge Amado, estima um prejuízo de cerca de R$ 700. “Parece pouco, mas para um pequeno negócio é um prejuízo muito grande”, lamentou uma funcionária.
Para ir trabalhar na Barra, a secretária Ana Rosa Almeida, 31, que mora em Tancredo Neves, teve de gastar com táxi. “Não ia andar quilômetros como muitos fizeram para ir trabalhar. Optei pelo táxi. Foi mais por segurança. Estava com medo de um tiroteio a qualquer momento entre eles (bandidos) ou com a polícia”, falou Ana Rosa.
A dona de casa Amália dos Santos, 47, preferiu não sair. “Deixei de ir ao médico, marcado há meses. Não quis arriscar. Ultimamente o bairro anda muito violento”, declarou.
Entrevista com César Barreira
‘É muito preocupante que pessoas fora da lei ditem regras’
Para falar sobre o terror imposto por criminosos em ações como toques de recolher, o CORREIO procurou o professor da Universidade Federal do Ceará (UFCE) e coordenador do Laboratório de Estudo da Violência (LEV), César Barreira. Ele vê essas práticas facilitadas pela ausência do estado em locais, geralmente, pouco assistidos. Graduado em Ciências Sociais pela UFCE, com mestrado em Sociologia pela Universidade de Brasília (UNB) e doutorado na Universidade de São Paulo (USP), também em Sociologia, Barreira sugere as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) como uma alternativa, aliada à implantação de equipamentos públicos.
Como o senhor vê essas ações orquestradas pelos criminosos?
Aqui em Fortaleza enfrentamos o mesmo problema. As pessoas que estão fora da lei passam a ditar as regras. Isso é preocupante. É como se tivéssemos duas leis.
O que essas ações podem significar?
Situações como essas demonstram a ausência do poder público no controle social. É como se os bandidos estivessem ocupando o lugar do estado.
Por que elas acontecem?
Os locais onde ocorrem os toques de recolher e demais situações de ameaça são, geralmente, aqueles menos assistidos. Você não vê isso acontecer, por exemplo, nos bairros nobres. Geralmente são em regiões que não contam com serviços básicos.
O que o senhor sugere para evitar essas ações que provocam tensão e medo em comerciantes e moradores?
É preciso que os elos que compõem o estado se unam para resolver o problema da violência. Toda ação de segurança pública é uma ação conjunta, não é apenas de responsabilidade da polícia.
O que deve ser feito?
A curto prazo é necessário que sejam criadas bases comunitárias, a exemplo das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), no Rio de Janeiro. É uma forma do estado demonstrar presença e dar visibilidade à sua existência. Acopladas a essas bases, é necessário desenvolver políticas sociais através da implantação de escolas, postos de saúde e equipamentos de lazer e esporte. Devemos desconstruir a ideia de que a violência deve ser combatida com violência.
Moradores e lojistas ameaçados devem registrar ocorrência
De acordo com o delegado do Grupo Especial de Repressão a Crimes por Meios Eletrônicos (GME), João Carlos Cavadas, os comerciantes e moradores que receberem mensagens por redes sociais ou aplicativos de comunicação e se sentirem ameaçados devem procurar qualquer unidade policial e registrar o fato.
“O GME é um grupo de suporte. Nós auxiliamos as delegacias e demais grupamentos policiais nas investigações. O DHPP ou qualquer outra unidade nos passa as informações sobre o número do telefone, nos encaminha o áudio e desdobramos a investigação”, afirmou Cavadas ao CORREIO.
O delegado contou ainda que, muitas vezes, o temor causado pela divulgação das mensagens é maior do que o que realmente representa. “Situações de toque de recolher existem, mas a repercussão é grande porque esses casos geram muito medo e comoção. Então, muitas situações aparentam ser mais graves”, afirma ele.
Cavadas alerta que o melhor a se fazer ao receber uma mensagem com esse tipo de conteúdo é procurar a polícia e, em hipótese alguma, encaminhá-la para outros grupos e contatos. “Pelo simples fato da pessoa retransmitir uma mensagem ela já poderá responder judicialmente”, disse o delegado.
Ainda segundo Cavadas, o encaminhamento do conteúdo para a polícia, inclusive, deve ser feito obrigatoriamente de modo presencial. “A pessoa não pode mandar por e-mail, WhatsApp ou qualquer outra forma. Ela deve se dirigir até uma unidade policial e fazer o registro”, orientou o policial. Apesar do registro, os prejuízos, muitas vezes, não podem ser recuperados. É o que diz o presidente do Sindicato dos Lojistas da Bahia (Sindilojas), Paulo Mota. “Venda perdida é venda perdida. Não se recupera. Cabe aos lojistas apenas continuarem trabalhando para atender os clientes da melhor maneira possível”, disse Mota, em entrevista ao CORREIO.
Ele afirmou ainda que o comércio deve cobrar do poder público as ações para reverter esse quadro. “Os impostos que pagamos devem ser revertidos para o bom funcionamento do comércio”, afirmou.
Segundo Mota, muitos comerciantes estão recorrendo à segurança privada como alternativa para manterem suas portas abertas: “Eu não concordo com isso, porque já pagamos impostos. E se o estado fosse menos omisso, não haveria necessidade dessa segurança paralela”.
A SSP informou que vem realizando trabalhos preventivos quando toma conhecimento de possíveis ameaças a determinada localidade.

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