Ex-moradores do Morro da Manteiga ocupam prefeitura de Camaçari

Por volta das 16h desta terça-feira 18 um grupo de pessoas ocupou a sede da Prefeitura da cidade de Camaçari, zona metropolitana de Salvador. Os ex-moradores do Morro da Manteiga, esvaziado há 20 dias, solicitaram que as autoridades se posicionassem sobre a condição de desalojados que as famílias enfrentam desde então. "Quando nossos barracos foram retirados, eles marcaram uma reunião, mas deixaram a gente sem solução", conta Luciano Maciel dos Santos, 23, que está morando numa casa alugada. Ainda de acordo com ele, a desocupação foi grosseira e envolveu a Polícia de Choque de Salvador. "Largaram a gente num ônibus [depois que saímos] e o caminhão com os móveis foi direto pro lixão", denuncia. A prefeitura teria assegurado suporte aos indivíduos quando estes deixassem a "invasão". Segundo os ex-moradores, cerca as 36 famílias estão em um abrigo onde residem quatro pessoas por quarto e disputam um único banheiro. Érica Santos, atualmente no último mês de gravidez, disse ter desistido de morar no local. "Eu estive lá e tinha quarto que estava alagado. Não sei como aquelas crianças estão morando lá". A gestante está "de galho em galho", segundo ela, e afirma ter perdido seus pertences quando os imóveis foram demolidos. "Perdi o enxoval do meu filho. Ele vai nascer nu", lamenta. Além dela, outras mulheres grávidas também estão morando no abrigo, conforme os moradores. Foi em reunião do dia 4 de outubro entre a Prefeitura de Camaçari, representantes da Polícia Militar, Ministério Público (MP), Juizado de Menores e Conselho Tutelar que se discutiu os prováveis danos à cidade, provocados pelo Morro da Manteiga. O local é reconhecido como uma APP, Área de Preservação Permanente, e um terreno de fácil erosão e deslizamento. "Um possível incidente no local pode causar ainda a interrupção do abastecimento de água de quase 88% da população de Camaçari, além de interferir nas obras de ampliação da rede de abastecimento de água do Município.", relata um texto publicado no site da Prefeitura da cidade. O Secretário de Comunicação da cidade, Rogaciano Medeiros, reiterou que a desocupação ocorreu em obediência a uma decisão do MP e em consonância com o Governo do Estado.

Moradores foram retirados do Morro da Manteiga e reclamam de operação

Lotes de terra eram vendidos no Morro"A policia abriu uma investigação para especular a venda de lotes de 300 m² por R$400 e outros R$700 no Morro", afirma o secretário. Apenas seis imóveis estavam ocupados no dia do esvaziamento, ainda de acordo com ele. "Muitas pessoas não residentes no Morro apareceram 10 dias antes da desocupação". Será analisado caso por caso, conforme Medeiros, que garante que a Secretaria de Desenvolvimento Social prestou atendimento aos moradores. Ele diz que alguns estão inscritos no Programa Minha Casa Minha Vida do Governo Federal. "Mas amanhã teremos a paciência de ouvi-los, se eles quiserem". O encontro está previsto para ocorrer por volta das 09h30 da manhã. Cadastro no Minha Casa Minha vida existe desde 2009Leonardo Paim conta que a demolição dos barracos foi alertada pela prefeitura, mas não houve uma alternativa para a saída da população. "O secretário do meio ambiente falou que o morro não pode ser habitado porque é um local íngreme, mas o prefeito não deu nenhuma liminar", diz. "Algumas pessoas estavam cadastradas no minha casa a minha vida desde 2009 e os papeis já estavam sendo liberados", destaca. Ele mensura que no total foram 228 abrigos demolidos. Segundo o Secretário de Comunicação, 100 imóveis foram abaixo. Igor de Oliveira, do movimento social Bloco de Resistência, que acolhe a causa dos ex-moradores do Morro da Manteiga, sublinha que Prefeitura deu flexibilidade para que os moradores ocupassem a APP por conveniência política. As pessoas foram retiradas de maneira "truculenta", relembra. * Edvan Lessa participa do programa CORREIO do Futuro Matéria original: Correio 24h Ex-moradores do Morro da Manteiga ocupam prefeitura de Camaçari