As obras do metrô para construção da Estação Pirajá atingiram uma tubulação da Embasa, na manhã de ontem, e provocaram o rompimento de uma adutora de água tratada. O incidente, que aconteceu por volta das 10h30, próximo à Jaqueira do Carneiro, provocou uma imensa poça na BR-324, o que fechou a via nos dois sentidos. A água ainda atingiu casas, no Calabetão, e moradores perderam móveis, eletrodomésticos e roupas. Cinco famílias tiveram que ser retiradas de suas casas. Segundo a Transalvador, o congestionamento na BR-324 travou o trânsito de Salvador nos bairros de São Caetano, Mata Escura, Porto Seco, nas imediações da Estação Pirajá, além das avenidas Barros Reis, Rótula do Abacaxi, San Martin e no Largo do Retiro.
O trânsito só foi liberado, por volta do meio-dia, após a contenção do vazamento pela Embasa. Carros e pedestres chegaram a ficar ilhados no local alagado, mas a Polícia Rodoviária Federal (PRF) não registrou ocorrência de acidentes. Um motorista teve que sentar na janela do carro, com o veículo invadido pela água. Depois de solucionado o vazamento da adutora — que fica a 12 metros de profundidade —, a Via Bahia ainda utilizou jatos de água de um carro-pipa para tirar a lama da pista e fiscalizou o tráfego com agentes e câmeras para orientar os motoristas.
Prejuízo A limpeza da pista, porém, passou longe de resolver os problemas dos moradores do Calabetão. Na Rua das Pedreiras, próximo à BR-324, a água inundou casas e arrebentou o asfalto da ladeira que dá acesso ao lugar. Cinco famílias tiveram de ser retiradas de casa por conta dos danos do vazamento. A recepcionista Lucenildes Santos, 35, trabalhava em um salão de beleza, na Barra, quando uma vizinha ligou, por volta das 11h, avisando que sua casa havia alagado e que sua filha de 17 anos estava presa dentro do imóvel. “Fiquei totalmente desesperada. Pra piorar a situação, estava tudo engarrafado. Saí feito louca, pegando vários mototáxis”, contou Lucenildes. A força da água bloqueou a porta e a adolescente só conseguiu sair com a ajuda dos vizinhos, que arrombaram a porta e a retiraram de lá. “Ainda tentaram recuperar os móveis e os eletrodomésticos, mas não sobrou nada. Inundou muito rápido. Estou arrasada”, lamentou. Já Edneuza Santana, 50, que mora no segundo andar de uma casa da Rua das Pedreiras, perdeu toda a roupa que tinha comprado para revender como forma de complementar a renda que ganha trabalhando como faxineira. “Não tem condição de aproveitar nada. As roupas estão enlameadas. Uma mulher que trabalha pro metrô veio aqui e disse que é só lavar. Eu não vou vender roupa suja. Sei o quanto eu luto todo dia e não quero perder o que tenho”, disse Edneuza. A dona de casa Lucimeire Coelho, 40, teve que apoiar o móvel da cozinha sobre duas cadeiras. Os mantimentos foram todos concentrados sobre a pia. “Estou nervosa, não quero perder minhas coisas. Sem falar que estou até agora sem comer, sem poder tomar banho e cheia de lama nos pés. Pra onde eu vou? O que vai ser agora?”, reclamou. Uma equipe do Consórcio Mobilidade Bahia, vinculada ao Grupo CCR e responsável pelas obras, esteve presente na rua para analisar a situação das casas e os danos provocados pelo vazamento aos moradores da região. De acordo com a assessoria de comunicação da CCR, a situação das famílias será avaliada e os prejuízos serão ressarcidos. As famílias foram encaminhadas para um hotel enquanto a situação das casas não é resolvida.
Explicação Procurado, o Grupo CCR, responsável pelas obras do metrô, disse não ter identificado, até as 21h, o que provocou o acidente. Segundo a assessoria de comunicação do grupo, os engenheiros e técnicos das concessionárias estão empenhados no trabalho de avaliação do local para identificar as causas do rompimento da adutora. A CCR ainda informou que o problema pode não ter acontecido no mesmo local onde houve o vazamento. A empresa também alegou não ser possível avaliar se o rompimento impactará o cronograma das obras do metrô. Os trabalhos que estão sendo realizados na região do acidente são para a construção da Estação e do Complexo de Pirajá, com previsão de entrega para junho.
Sem água A Embasa informou que a adutora atingida é uma das principais da cidade, por isso o grande volume de água jorrado. O órgão não soube estimar quantos litros foram desperdiçados. O vazamento, porém, comprometeu o abastecimento de água em 34 bairros da capital, além de afetar a distribuição nos municípios de Amélia Rodrigues, Coração de Maria, Conceição do Jacuípe e Terra Nova. De acordo com a assessoria de comunicação da Embasa, a empresa já iniciou escavações para consertar a tubulação da adutora e estima que os trabalhos de reparação sejam concluídos hoje. O abastecimento nas regiões afetadas deve voltar ao normal de forma gradativa. Ficaram sem abastecimento os seguintes bairros: Bonfim, Ribeira, Caminho de Areia, Massaranduba, Monte Serrat, Boa Viagem, parte do Lobato, Jardim Cruzeiro, Calçada, Mata Escura, Calabetão, São Caetano, Capelinha, Boa Vista de São Caetano, Fazenda Grande, parte da Liberdade, IAPI, Pero Vaz, Largo do Tanque, parte de Santa Mônica, Av. San Martin, Baixinha do Santo Antônio, parte da Av. Barros Reis, Estrada das Barreiras, Engomadeira, Arraial do Retiro, Cabula, Pernambués, Narandiba, Saboeiro, Doron, Tancredo Neves, Novo Horizonte e Sussuarana.
