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O Legado da Copa: precisamos de menos direitos e mais deveres

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12/06/2014 às 7:07 • Atualizada em 02/09/2022 às 3:50 - há XX semanas
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O clima de copa do mundo também invadiu a nossa coluna. Afinal, não se fala em mais nada neste País. Muito se tem reclamado e debatido acerca dos legados desta Copa, sob a forma de aeroportos melhores ou uma melhoria de infraestrutura aqui e acolá, é certo que algumas obras físicas permanecerão e todos poderemos usufruir delas. Ainda que se discutam os fatores de custos-benefício, e sobretudo os custos, é certo que alguma coisa permanecerá. Nossa imagem, para o bem ou para o mal, ou ambos, será amplamente projetada globalmente e provavelmente deixaremos de ser tão desconhecidos mundo afora. Com certeza, uma série de estereótipos serão derrubados e uma parte de nossa verdadeira face será revelada. Se a Copa vai, no final da contas, ver-se refletida em uma contabilidade positiva, é algo que suscitará muitos debates e será ainda tema de muitas palestras. Mas se há algo que podemos chamar de conquista imaterial é o fato de o gigante ter, aparentemente acordado. O gigante acordou e, não mais do que de repente, não gostou do que viu. Não gostou da própria cama onde adormecera por séculos, não gostou das escola onde seu filho estuda, do transporte, das oportunidades de emprego e da educação. Cutucado pelo Copa, levantou-se furiosamente um dia e resolveu sair na rua protestar. Uma onda de protestos e desencantamento com a própria vida varreu o país. De repente, o país maravilhoso que nos era vendido impunemente pelo marketing político, e da Copa, não guardava mais relação com a realidade e seu entorno. Aprendemos a reclamar, afinal. Mas será que reclamar, somente, adianta ? De uma hora para outra parece legítimo, aos olhos de comentaristas condescendentes, que paralisar vias e rodovias, sob qualquer pretexto, desde uma viela esburacada ao “direito” à moradia quase gratuita, tudo se demanda do Governo, esta entidade paternalística, o “pai” do Gigante.
Esta onda de energia que se traduziu em revolta ainda insiste em reclamar do “Pai Governo” que tudo deverá prover. Mas o Gigante que acabou de acordar de seu berço esplêndido parece ainda imaturo demais. E o Governo, e não somente este, mas todos os que se sucederam desde os tempos do Império, contribuem para vender a estória do Pai-Governo-Provedor. É o governo que distribui, o Governo Pai, que dá uma mesada para a população. Voltando ao legado imaterial da Copa, nosso maior retorno deverá ser justamente esta oportunidade única que tivemos de enxergar nossos reflexos no espelho e descobrirmos que os Reis estão nus e nós também. O legado imaterial da Copa é justamente a oportunidade que temos de entender melhor o mundo ao redor e que governo algum resolve a vida das pessoas. Que existe um limite para a mesada, para a “ajudinha” e que em algum momento teremos que despertar para uma conscientização acerca do papel de cada um neste mundo. Em um mundo cada vez mais cercado pela ubiquidade da informação, o saber está ao alcance de todos. Não se trata mais de “acesso ao saber”. Todos temos este acesso ao saber. Para quem duvida, basta uma breve pesquisa na versão Scholar do Google e você verá o que existe de informação acerca de temas científicos, publicações sobre tudo e mais um pouco. No Youtube você encontra cursos inteiros de tudo e qualquer coisa e mais alguma coisa ainda. Se você deseja enveredar, por exemplo, pelo caminha da programação de computadores, em qualquer linguagem, há cursos inteiros, gratuitos, didáticos e disponíveis. Quando se fala de nosso sistema educacional “falido”, temos que falar também do carater paternalista que também cerca o nosso sistema de ensino. O professor “tem que ensinar”, mas ninguém diz “o aluno tem que aprender”. E tudo isto reside na questão da atitude individual do grupo e do aluno em sala de aula. É a cultura da disciplina e da responsabilidade. Mesmo em condições precárias, no mundo de hoje, é possível aprender, é apenas uma questão de atitude em sala de aula. O papel do professor, o mais importante, é ensinar o aluno a acreditar em si, e ajudar a mostrar qual atitude trará mais resultados, onde deve buscar a informação, como o espírito de grupo unido pode ajudar os mais fracos a buscar ajuda com os mais avançados. E os pais devem entender que o aprendizado não é uma atividade que se “terceiriza” para a escola, seja ela pública ou privada. Por enquanto, ainda estamos na fase da gritaria, tal e qual a criança birrenta que reclama do pai aquilo que julga ter direito. O Gigante talvez não tenha ainda percebido a verdadeira dimensão deste pai, que para ele lhe será sempre minúsculo e pouco mais poderá lhe oferecer. Cabe ao gigante crescer, e cobrar, nas urnas, organizar-se e cobrar sistematicamente, no fórum mais adequado, a satisfação acerca do dinheiro que o Estado toma da sociedade e que devolve a conta-gotas, como se fosse um favor, uma “conquista”, uma mesada. Enquanto o Gigante acreditar no pai que oferece vantagens e atalhos para conseguir um cargo público ou uma mesada, não conseguirá crescer. Um enorme ganho imaterial que nós, brasileiros, poderíamos retirar desta experiência, suscitada pela Copa do Mundo é a noção de que, ninguém nos dará nada se não nos esforçarmos para conseguir. Mais deveres e menos direitos. Mais trabalho e disciplina e menos, muito menos jeitinho. Precisamos passar novos valores para a nossa juventude pois esse preço será cobrado dela, no futuro. Aproveite então, e faça uma lista das coisas que quer aprender. Tudo começa por aí. Mexa-se, seja o seu próprio coach. Não espere mais pelo pai sobre o qual falamos neste artigo. Não se enquadre no estereótipo do brasileiro acomodado a quem, Deus, tudo proverá. Seu futuro depende de você!

Sérgio Sampaio
E-mail: [email protected]
Consultor de TI da ValoRH. Engenheiro, empresário da área de Tecnologia da Informação, proprietário da IP10 Tecnologia.

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