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Presidente da TWB levanta a âncora |
Após cinco dias de silêncio, desde o início da intervenção do governo estadual na TWB, o diretor presidente da empresa, Reinaldo Pinto dos Santos, concedeu uma entrevista exclusiva ao CORREIO, em que explica o que ocorreu nos últimos seis anos, período em que a TWB esteve à frente da administração do sistema ferry-boat.
Além de detalhar investimentos, dívidas e prejuízos, o diretor revelou as controvérsias existentes no relacionamento entre a empresa e o governo estadual. Segundo o empresário, seu maior erro foi ter “confiado demais nas pessoas”.
O maior erro do governo“O mais grave de tudo foi o fato de o governo nunca ter cumprido a cláusula dos reajustes de tarifas. No contrato, a regra era que a cada 12 meses houvesse recomposição tarifária pelo IGPM. Isso deveria acontecer a cada fevereiro, automaticamente. Em seis anos, a tarifa só foi reajustada três vezes. Neste momento, o sistema está há 38 meses sem reajuste. A tarifa do pedestre, para estar atualizada seria aproximadamente de R$ 5, e atualmente está em R$ 4,10. Tem também o fato de não ter recuperado as estruturas subaquáticas. No contrato previa também que nós receberíamos um terreno na Ribeira para conserto das embarcações. O governo nos tirou esse terreno e disse que daria um em Bom Despacho e mais R$ 4 milhões para a compra de equipamentos, mas nunca deu. Para nós, ir para a Base Naval reparar uma embarcação, um dia parado lá custa R$ 20 mil”.
Prejuízo“Não teve nenhum período, desde o primeiro ano, que a gente tenha fechado no azul. O cálculo do prejuízo não é da TWB, é da Fipe e a FIA, a Faculdade de Administração da USP. Elas calcularam um desequilíbrio de R$ 196,3 milhões. Não é que a TWB está cobrando R$ 196 milhões do governo. Isso é o desequilíbrio calculado pela Fipe até junho deste ano. Estamos cobrando esse valor? Não. Não é assim que funciona. Isso já faz 60 dias aproximadamente, nós entramos na Justiça, dada a situação caótica criada pelo governo numa tentativa de asfixia do sistema, com um pedido de rescisão do contrato. Isso é o que as pessoas não estão divulgando. Neste pedido de rescisão, nós apresentamos o estudo da Fipe. A Agerba fez outro estudo com a Fipecafi, que também é uma instituição respeitada, que mostra números díspares. O que eu imagino que o juiz vai fazer é nomear o perito para avaliar o que é certo e o que não é”.
Investimentos“Eu vi publicado por aí declaração da Agerba de que a TWB só investiu R$ 24 mil. Eu gostaria de saber: fizemos um investimento em dois ferries, que custam aproximadamente R$ 80 milhões – o Ivete custou R$ 35 milhões, o Ana Nery custou R$ 40 milhões - mais as estruturas. Tinha uma previsão de, em 25 anos de contrato, investir cerca de R$ 100 milhões. A Agerba está confundindo os conceitos de capital social, capital de investimento e capital de giro. O contrato exigia que eu fizesse no mínimo um capital social de R$ 6 milhões. Peguei bens da empresa, avaliados em cerca de R$ 5, 9 milhões. Faltavam R$ 24 mil para 6 milhões? Então ok: toma um cheque aí de R$ 24 mil. Hoje, esse capital, que começou com R$ 6 milhões, é de R$ 32 milhões: R$ 31 milhões e alguma coisa em bens e R$ 24 mil em dinheiro.Cada gaveta de atracação do Ivete Sangalo e do Ana Nery custou aproximadamente R$ 8 milhões. Cada embarcação custou cerca de R$ 40 milhões, mais o sistema de bilhetagem, mais as catracas. Em todo o sistema, nós temos um investimento de cerca de R$ 110 milhões”.
A intervenção“Estou buscando entender as verdadeiras razões da intervenção. Isso certamente vai trazer um prejuízo ao Estado e à própria população. O Estado tem que se preocupar em honrar seus contratos. Acho importante que outros empresários conheçam a realidade do que ocorreu. Embora queiram construir uma imagem para que a empresa saia como vilã, a verdade surgirá. Se eu tivesse um amigo que quisesse investir na Bahia, recomendaria que não o fizesse, pelo menos até que o governo dê provas de que cumpre o que escreve. O governo que está aí demonstrou que não tem essa disposição. Não coloco mais um centavo. Temos outros projetos que queríamos realizar aqui na Bahia, mas foram completamente abortados”.
Internacional marítimaSe o governo abrir seus cofres, como parece que está disposto a fazer, qualquer um consegue operar bem. O contribuinte vai pagar. Outro factoide que está se construindo é que eles dizem que a Internacional Marítima vai assumir com a mesma receita da TWB. Eles deixaram, durante seis anos, de remunerar o investimento da TWB. Isso acumulou um ônus de R$ 54 milhões. Eles deixaram de repassar as tarifas, isso está estimado em R$ 26 milhões. Isso eu carrego nas minhas costas. Além de remunerar, tenho que amortizar os investimentos. Isso me custa anualmente, R$ 10 milhões. Aí, como no passe de mágica, tiram a TWB e não amortiza mais. Diz: isso aqui eu não vou pagar mais. Eles não vão ter ônus nenhum, só vão receber em cima do que o outro fez”.
Erros da TWB“A TWB errou em não avaliar o risco político do contrato. A força do poder público é muito grande. Um exemplo prático: no ano passado, terminamos com um prejuízo de R$ 17 milhões. Ao final do ano, sentamos com Otto Alencar (secretário de Infraestrutura e vice-governador), preocupados com o Verão. Eu relatei a necessidade de que o sistema fosse reequilibrado. Ele me disse o seguinte: ‘Tudo aquilo que for de direito da TWB, especialmente na questão das tarifas, nós iremos dar, desde que a TWB garanta a operação de seis ferries no Verão. Dê seu jeito, me garanta a operação de seis ferries’. Acreditei. Vendi por R$ 1,5 milhão minha casa em São Paulo - tenho a escritura - e coloquei o dinheiro 100% na conta da TWB. Conseguimos garantir não seis ferries, mas sete ferries. A nossa expectativa era de que o governo também honrasse o compromisso, desse o reajuste, fizesse o investimento, desse o terreno em Bom Despacho. Se fizesse, o sistema não entraria em colapso. Qual foi o retorno que tivemos, diante do esforço realizado? Multas”.
Multas“Essa dívida de R$ 9 a R$ 10 milhões poderá existir depois do julgamento de todas as multas, o que não ocorreu ainda. Mas a maioria delas é ilegal, de acordo com o contrato. Na nossa proposta, temos uma grade de horário de 28 partidas/dia. Do nada, há 2 anos, o governo disse: a partir de hoje, eu quero que você faça 38 partidas/dia. Já carregávamos uma taxa de ociosidade de 45%. Quando começamos a fazer 38, essa taxa subiu para 58%. Vou viajar muito mais e transportar a mesma quantidade de gente. Isso quer dizer que o custo fixo se elevou. O governo pode fazer isso, desde que haja - a lei é muito clara sobre isso - reequilíbrio do sistema. ‘Queremos que você faça 50 viagens’. Ok, calcula quanto dá. Se dá R$ 100 mil, ou aumenta a tarifa ou dá esses R$ 100 mil de contrapartida. Ele não deu absolutamente nada de contrapartida”.
Matéria original Correio 24h
Presidente da TWB diz que não investe mais 1 centavo na Bahia