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A Universidade Federal da Bahia (Ufba) não figura mais entre as 50 melhores da América Latina. Estava na seleta lista até o ano passado, quando ocupava a 42ª posição, conforme ranking elaborado pelo QS Quacquarelli Symonds University Rankings, organização com sede na Inglaterra que avalia o desempenho de universidades. Na lista divulgada esta semana pela instituição, a federal caiu 17 posições e aparece em 59º lugar. Na outra cabine do elevador do ensino superior baiano, a Universidade do Estado da Bahia (Uneb) subiu 51 posições e passou de 175ª para a 124ª. A Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) figura pela primeira vez no ranking, entre a 201ª e 250ª – a lista não faz posicionamentos entre as 50 últimas posições. “Cada ranking tem seus critérios e suas características, mas esse é sem dúvidas o mais criticado de todos. Gera muitas controvérsias, é muito questionável”, minimiza o pró-reitor de ensino de pós-graduação da Ufba, Robert Verhine. A QS Quacquarelli divide a nota em seis critérios: 40% correspondem à reputação (avaliada por questionários aplicados a 15 mil acadêmicos de todo o mundo), 10% à imagem junto a 17 mil empregadores, 20% avaliam a quantidade e importância de citações de trabalhos acadêmicos, 20% contabilizam a titulação do corpo docente e a avaliação do nível de aprendizado entre os alunos, 5% avaliam a proporção de estudantes intercambistas e 5% os professores de estrangeiros. A nota geral da Ufba foi de 50,98 pontos. “Ao todo 50% da nota têm a ver com opinião, então é muito subjetivo, muito instável, depende de quem responde aos questionários”, pondera o pró-reitor. Em reputação, a Ufba vai mal. No reconhecimento entre os acadêmicos de todo o mundo, está na 150ª posição. Entre os empregadores, fica entre 150º e 250ª. A média da universidade sobe nos quesitos produção científica (44ª posição); citações em trabalhos acadêmicos (31ª) – a Uneb supera a Ufba em uma posição neste quesito; titulação dos professores (47ª); aprendizado (31ª); e visibilidade de produção acadêmica na internet (11ª).
Panorama nacionalCom essa avaliação, a Ufba é a 18ª instituição brasileira no ranking e a segunda do Nordeste, atrás da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) - 39ª no continente e 13ª nacional - que somou 62,59 pontos. A Uneb, com 33,82 pontos, é a 41ª do país na lista - veja relação ao lado. A melhor universidade do continente, de acordo com o ranking, é a USP, que atingiu os 100 pontos. No top 10 figuram mais duas brasileiras - a Unicamp, em 3º, e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 8º.
CarênciasNas salas de aula, os estudantes da Ufba reclamam da falta de estrutura, principalmente os que dependem mais de equipamentos específicos. No Instituto de Química, no campus de Ondina, onde um incêndio em 2009 destruiu parte dos laboratórios e causou um prejuízo de cerca de R$ 800 milhões, os alunos estão sem nenhuma sala para as aulas práticas. “Todos os equipamentos dos laboratórios que sobraram foram encaixotados para levar para lá, mas não entregaram o prédio novo a tempo e estamos sem laboratórios”, reclama a estudante Enda Santos de Jesus, 27. Segundo ela, para evitar que os alunos percam o semestre em matérias práticas, os professores realizam experimentos com estruturas improvisadas nas salas de aula. A demora na entrega dos novos prédios também incomoda os alunos e professores do Instituto de Física. “O que era para ser entregue em um ano já tem três e a gente não tem previsão de quando vai acabar”, diz o diretor da Faculdade de Química, Arthur Matos Neto, referindo-se à obra de ampliação e reforma do prédio que sedia o instituto. “Eu estava doido para que fosse como o estádio para a Copa do Mundo, que já está para terminar”, avalia. O pró-reitor Robert Verhine reconheceu haver problemas, mas destacou o investimento realizado nos últimos anos. “Tenho 35 anos aqui e não quero dizer que os laboratórios estão todos adequados. Sei que o investimento não é o suficiente, mas tem sido muito maior que no passado”, finaliza Verhine.
Uneb comemoraApesar de ocupar a 124ª posição no continente e a 41ª no Brasil, a Universidade do Estado da Bahia (Uneb) comemora a ascensão de 51 postos no ranking. “Para uma universidade pública e do Nordeste é muito importante o reconhecimento de um ranking como esse”, exalta o reitor Lousisvaldo Valentim. A Uneb é a sétima da região Nordeste a aparecer no ranking. Valentim ressalta que em cinco anos, o número de laboratórios dedicados a alunos da graduação subiu de nenhum para 342, que estão espalhados em 24 campi em diversas cidades do estado. O reitor reconhece, porém, encontrar dificuldades financeiras para aumentar a estrutura da universidade. Segundo ele, do orçamento de R$ 313 milhões para este ano, apenas R$ 38 milhões são de investimentos. “Ao todo, 82% são de folha de pagamento e eu ainda tenho o custeio com água, luz, telefone, segurança”, pondera. “Temos 40 mil alunos com um orçamento que é um terço do da Ufba”, compara. A federal baiana recebeu em 2011 em repasses diretos do governo federal R$ 943 milhões. Valentim afirma que para driblar as limitações financeiras do estado tem de conseguir verbas com fundações de amparo à pesquisa científica – como a Fapesb, a Fapex e o CNPQ –, com a iniciativa privada (empresas do polo petroquímico, por exemplo, investem em projetos na Uneb), além da ajuda de parlamentares baianos. “Esse ano já tem R$ 10 milhões, mas devemos captar R$ 25 milhões por esses meios”, completa. Os investimentos em laboratórios, entretanto, às vezes, emperram na infraestrutura física. O reitor reconhece ter em seu depósito equipamentos milionários encaixotados há um ano, mas que não puderam ser instalados por falta de condições elétricas. “As instalações da Uneb têm 35 anos”, pontua. Segundo ele, entretanto, uma licitação para a reformulação do sistema elétrico já foi concluída e as obras devem começar ainda neste mês.