Um dia após vir à tona a denúncia de recebimento de uma carta anônima repleta de ofensas racistas e homofóbicas, Júnior Santos e Maycon Aguiar, moradores de uma vila em Vicente de Carvalho, na Zona Norte do Rio, desistiram de registrar ocorrência sobre o caso.
Segundo informações da Polícia Civil, o casal esteve na 27ª DP (Vicente de Carvalho) nesta quarta-feira. Lá, esclareceram detalhes sobre a primeira passagem dos dois pela delegacia, quando teriam sido convencidos a desistir do registro após conversa com um policial. Leia abaixo, na íntegra, a nota enviada pela polícia ao EXTRA:
"De acordo com informações da 27ª Delegacia de Polícia "Vicente de Carvalho, nesta quarta-feira, 25 de janeiro, as duas vítimas de injúria compareceram à delegacia e relataram ao Delegado Titular que, na ocasião do primeiro atendimento, foram bem orientadas pelo policial civil que os recebeu e que retornaram hoje para esclarecer tal fato, bem como informar que, apesar do crime sofrido, não desejavam proceder a registro de ocorrência naquele momento. Na oportunidade, foram ainda informados sobre o prazo de seis meses em que podem retornar para registrar o fato".
O EXTRA tentou contato com Júnior e Maycon, nesta quarta-feira, por email, ligação telefônica e mensagem via WhatsApp, sem obter retorno. Os perfis dos dois jovens no Facebook, onde a denúncia ganhou bastante repercussão, foram deletados.
Relembre o caso
Nesta terça-feira, o EXTRA noticiou a denúncia feita por Júnior Martins e Maycon Aguiar, moradores de uma vila de dez casas em Vicente de Carvalho. Segundo Júnior, uma carta repleta de ofensas racistas e homofóbicas teria sido deixada na casa dos dois pela fresta de uma janela.
Estava fora da cidade, visitando minha mãe. Daí o Maycon me ligou contando o que tinha acontecido, tirou foto da carta e me enviou. Ficamos muito abalados, choramos muito. Estamos em 2017, pago minhas contas e é inadmissível passar por isso dentro da minha casa — desabafa o professor.
O texto, iniciado pela citação ao Levítico, um livro da Bíblia, afirma que Deus não criou o homem para se relacionar com homem, nem mulher com mulher. Em outro trecho, afirma que a homossexualidade é uma conduta “errônea e aberrativa”. Na segunda página da “circular”, o texto afirma que “nenhum morador do condomínio aprova comportamento que envergonha Deus”.
“Gente de cor e ainda por cima afeminada não está no nível dos que moram aqui, por favor, se retirem”, diz uma das frases da carta. “Toda abominação está condenada em nome do Senhor Jesus”, finaliza a “circular”.
Júnior afirma não ter ideia de quem pode ter sido autor da carta. De acordo com o professor, ele e o namorado foram à 27ª Delegacia de Polícia (Vicente de Carvalho), onde foram informados de que não seria possível fazer o registro de ocorrência, uma vez que não há nomes citados nem a assinatura do autor da carta.
"Estávamos acompanhados de uma vizinha e outros amigos. Fomos aconselhados a buscar alguma prova que permita a abertura de uma investigação. Já buscamos acompanhemtno jurídico e vamos até o fim. Racismo é crime e, por mais que homofobia não seja configurado juridicamente como crime, quero identificar o autor e incriminá-lo por injúria. Não posso temer pela minha integridade. Respeito todas as religiões e sempre espero que me respeitem também", alega Júnior, ressaltando que há duas famílias negras que moram no condomínio e também se sentiram ofendidas com a carta.
De acordo com o professor, já foi solicitado mediante a administração do condomínio (feita por uma mediadora de conflitos e uma tesoureira) o acesso às câmeras de segurança do local. Como resposta, Júnior obteve uma troca de emails em que foi informado ao casal que as imagens seriam encaminhadas apenas à polícia conforme solicitação da mesma.
"Solicitamos uma reunião em caráter de urgência pra debatermos uma série de pendências que existem em relação ao condomínio, e também essa questão do acesso às imagens das câmeras", finaliza Júnior.
Caso ganhou grande repercussão nas redes sociais
Na página do EXTRA, o post sobre a denúncia do casal obteve grande repercussão. Foram, até este momento, mais de 18 mil reações e quase 5 mil compartilhamentos.
Milhares de comentários tomaram conta da postagem. Entre eles, o de Karen Sant'Anna, vizinha de Júnior e Maycon: Eu moro no condomínio em questão. Estou chocada e indignada por alguém ter, em meu nome e da minha família, proferido essas ofensas aos nossos vizinhos! Já ofereci meu total apoio aos meninos e espero q a criatura q fez isso seja seriamente punida! Não podemos aceitar que em pleno século XXI ainda aconteça esse tipo de coisa. Estou profundamente envergonhada por estar residindo no mesmo lugar q essa criatura q escreveu esses absurdos. Ainda não sabemos quem é mas nos empenharemos para descobrir! E ela não ficará impune!".
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Redação iBahia
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