Eurídice e Guida são irmãs, filhas de um vendedor português e de uma dona de casa, vivendo a flor da juventude no Rio de Janeiro dos anos 1950. Eurídice, mais recatada, tímida e com um talento nato para a música, é o oposto de sua irmã inquieta, expansiva, à frente de seu tempo. Em comum, elas têm o desafio de enfrentar o meio machista que as rodeia para viver da forma mais plena suas vontades, paixões e sonhos. Esta é a história de ‘A Vida Invisível’, o grande filme de Karim Aïnouz, que pode levar o Brasil a conquistar seu primeiro Oscar.
Baseado no livro ‘A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, da pernambucana Martha Batalha, o longa foge da pieguice e do lugar comum, mesmo ao abordar um tema recorrente e já considerado batido por muitos. O papel secundário da mulher naquela sociedade patriarcal e a toxicidade do machismo são mostrados de forma clara e direta, mas é na beleza da fotografia, no cuidado com a trilha sonora, na excelente adaptação do roteiro e até mesmo no bom humor em meio à dura realidade das personagens que o filme ganha o público e se recusa a ser mais do mesmo.
Por duas horas, o expectador observa atento as consequências devastadoras de uma sociedade impregnada pelo preconceito e pela submissão. É chocante ver como a cultura patriarcal da época desviou o curso das vidas de Eurídice e Guida e exigiu delas uma resiliência inimaginável para superar os obstáculos cotidianos. As atrizes Julia Stockler e Carol Duarte brilham soberanas na pele das protagonistas e contam com um elenco de apoio afinado, competente e entregue à história. De brinde (e que brinde!), a luxuosa presença de Fernanda Montenegro nos minutos finais traz uma Eurídice castigada pelo tempo e pela vida. Em uma atuação absolutamente comovente, Fernandona faz lágrimas brotarem sem pudor, coroando a história.
‘A Vida Invisível’ estreia nos cinemas brasileiros no dia 21 de novembro depois de ter conquistado o prêmio de Melhor Filme da Mostra Um Certo Olhar, no Festival de Cannes. O longa foi o indicado brasileiro para disputar a estatueta de Melhor Filme Internacional no Oscar 2020 e pode também concorrer nas categorias Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Fotografia e Melhor Atriz Coadjuvante, com Fernanda Montenegro. Belo, intenso e tocante, este é o filme que você precisa ver!
*Heyder Mustafá é jornalista e produtor cultural formado pela UFBA, editor de conteúdo da GFM e Bahia FM, apresentador do Fala Bahia e apaixonado por cinema, literatura e viagens.
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Redação iBahia
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