Menu Lateral Buscar no iBahia Menu Lateral
iBahia > colunistas > de resenha
Whatsapp Whatsapp
DE RESENHA

De Resenha: Balé Folclórico da Bahia se recria em sua própria essência

Dezessete dançarinos selecionados em oficinas realizadas pela companhia em diversos bairros de Salvador dão vida ao espetáculo “O Balé que você não vê”

Arlon Souza • 11/11/2022 às 18:00 - há XX semanas

Google News siga o iBahia no Google News!

				
					De Resenha: Balé Folclórico da Bahia se recria em sua própria essência
Foto: Célia Santos / Divulgação

Acessar o processo criativo do Balé Folclórico da Bahia (BFB) é sempre uma experiência que nos toca em lugares profundos da nossa alma, da nossa identidade e da nossa ancestralidade. Com a montagem do novo espetáculo “O Balé que você não vê”, não é diferente.

Os 17 dançarinos (selecionados em oficinas realizadas pela companhia em diversos bairros de comunidades de Salvador) retroalimentam esse corpo híbrido, multimídia e intergênero, que transita entre a dança moderna, o clássico, o popular e o contemporâneo, encarnando a pluralidade da dança afro e das matrizes da cultura afro-brasileira.

Leia mais:

Em tempos de intolerância, o novo espetáculo nos dá as boas-vindas fazendo um convite à harmonia, onde o sagrado e o simbólico do Alá de Oxalá, o manto da paz, se transmuta através da energia feminina, da fertilidade, da força, da sensualidade e da sensibilidade.

A música composta originalmente pelos músicos do grupo escorre como água doce em rio de maré que pede calma aos corpos em luta. O Balé abre os caminhos com “OKAN”, coreografia de Nildinha Fonseca, cujo título em yorubá significa “coração”. Nela, a artista traz como referência esse coração conciliador que media “as relações entre os Itãs e Yabás - Divindades da mitologia africana - numa reflexão sobre o papel da mulher negra como determinante na manutenção da condição humana”, como ela própria apresenta.

O grupo se recria dentro da sua própria essência e gramática de movimentos, formando intérpretes de histórias, conceitos, formas, energias e estilos diversos. E o desafio é equacionar e dar unidade a esse coletivo, que agrega em si origens distintas, transbordando expressões muito vivas do seu lugar, de sua geração e de sua personalidade. Sendo assim, nenhum desses corpos fica isento das manifestações culturais que os cercam. E assim uma das dimensões marcantes do espetáculo é a perspectiva de criação coreográfica a partir de princípios e golpes de capoeira, onde corpos duelam em dança, inseridos nos fundamentos dessa arte e luta, jogando com o equilíbrio, a sustentação, a ginga e a malemolência.

E há ainda espaço de diálogo e criação a partir de gêneros como o pagode, a dança de rua, as danças populares, numa conexão com o jazz, o ballet, o breaking, entre outras modalidades de dança. Embora haja uma autoria para cada obra do espetáculo, o que percebemos, por exemplo, na coreografia “2-3-8”, assinada por Slim Mello, é que não se trata de uma reprodução literal dessas vertentes da Dança, mas de como cada corpo entende essas pulsações e gera a tradução delas em movimentos. Mais na perspectiva de uma releitura.

Nesse caso, a trilha sonora chama a atenção pela fusão percussiva, pop e eletrônica criada por Renato Neto (edição) e Luis Paulo Serafim (mixagem e masterização). E a participação especial de Maria Bethânia recitando em off o poema “Mandato de Despejo aos Mandarins do Mundo”, de Álvaro de Campos, é um bálsamo para os ouvidos.

Nessas zonas entre fronteiras, o Balé Folclórico da Bahia também se renova ao criar uma interlocução entre o erudito e o popular, homenageando obras-primas como o “Bolero de Ravel” a partir da versão criada pelo dançarino e coreógrafo francês Maurice Béjart (1927-2007), intitulada “Bolero”, que no grupo tem autoria do coreógrafo Carlos Santos, porém agora é revisitada por Vavá Botelho (diretor do BFB) e Zebrinha (Diretor Artístico do BFB). “Bolero” renasce nesse momento em novos corpos, com o mesmo sincretismo calcado na matriz afro-brasileira.

A apoteose tão característica dos trabalhos da companhia se dá com “Afixirê”, que terá a participação especial da dançarina e coreógrafa Nildinha Fonseca, que é um verdadeiro desbunde em cena. “Afixirê”, que em yorubá significa “festa da felicidade”, é uma coreografia criada por Rosângela Silvestre, que se inspira na “influência que os povos africanos tiveram na formação cultural brasileira e na Bahia”, como descreve o programa. É a própria Bahia encarnada, de tudo que nos toca de mais profundo, se multiplicando nesse nascedouro de artistas ávidos por dança. É puro encantamento!

Espetáculo “O Balé Que Você Não Vê" - Balé Folclórico da Bahia

  • Onde: Sala Principal do Teatro Castro Alves (TCA)
  • Quando: 18 e 19 de novembro, às 21h, e dia 20 às 20h.
  • Quanto: Fila de A a P - R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia) e Fila de Q a Z11 - R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia). Ingressos: através do site Sympla e na Bilheteria do TCA
  • Classificação livre

				
					De Resenha: Balé Folclórico da Bahia se recria em sua própria essência

Leia mais sobre Dança no iBahia.com e siga o portal no Google Notícias.

Imagem ilustrativa da coluna De Resenha
Venha para a comunidade IBahia
Venha para a comunidade IBahia

TAGS:

RELACIONADAS:

MAIS EM DE RESENHA :

Ver mais em De Resenha