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Virgindade e ISTs: reflexões sobre a saúde sexual das sapatonas

Gisele Palma discute sobre mecanismos sociais que excluem mulheres que amam mulheres

Gisele Palma • 10/11/2023 às 23:31 - há XX semanas

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"Qual método contraceptivo você usa?” / "Nenhum.” / "Então está tentando engravidar?" / "Não.” / "Ué... Como assim?" / "Sou lésbica." Um diálogo que provavelmente toda sapatão já teve na consulta ginecológica. A presunção de cisheterossexualidade das pacientes por profissionais de saúde precisa, urgentemente, ser abolida. Esse comportamento constrange, invisibiliza e marginaliza as sapatonas e indivíduos LGBTQIAPN+ em geral.


				
					Virgindade e ISTs: reflexões sobre a saúde sexual das sapatonas
Presunção de cisheterossexualidade das pacientes por profissionais de saúde precisa, urgentemente, ser abolida.. Foto: Freepik

A lésbica que nunca fez sexo penetrativo com um homem é lida como virgem, inclusive por médicas(os), o que é ainda mais absurdo. Basta o mínimo de conhecimento sobre anatomia e sexualidade para aprender que:

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1) hímen não é um lacre que atesta a virgindade, até porque nem todo mundo que tem vulva nasce com ele, outras terão um hímen complacente (que, às vezes, não se desgasta nem com o parto), isso para não citar o imperfurado, que é quando essa membrana "fecha" a abertura vaginal e a pessoa precisa passar por uma cirurgia para retirá-la. Ou seja, o hímen é nada mais nada menos que um restinho de pele sem qualquer função biológica - porém carregada de terror social; e

2) não é necessária a chancela de um pau de carne para deixar de ser virgem. O sexo vai muito além da introdução do pênis na vagina. Fora que já passou da hora de rever a importância dada à famigerada "primeira vez". Já reparou que todo esse papo incide unicamente sobre corpos de mulheres? A própria expressão "perder a virgindade" carrega em si um tom negativo, uma perda. A "virgindade" é um conceito misógino, heteropatriarcal, moralista e castrador, segundo a qual uma menina de 11 anos estuprada pelo padrasto não seria virgem, mas uma lésbica que faz sexo entre vulvas há décadas seria.

Outro mito consiste em considerar que a penetração peniana é a única via de contágio de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Qualquer tipo de sexo é capaz de transmitir ISTs, porque o contato com secreções, mucosas e sangue é suficiente para te expor ao risco. Portanto, sexo oral (na vulva, no pênis e no ânus), tesourinha, estimulação manual... Todas essas são vias de possíveis contágios e, consequentemente, todas as pessoas devem buscar se prevenir, mesmo que não tenha relações pênis-vagina.

Exceto iniciativas internacionais privadas, como Vulvarnes e Oral Dam, não temos um método de barreira pensado especialmente para fazer um sexo que não envolva um pênis. E, enquanto essa for a realidade, infelizmente, a prevenção de ISTs no sexo entre vulvas vai seguir sendo algo raro. O estudo "Comportamento de risco para doenças sexualmente transmissíveis/HIV entre mulheres que fazem sexo com mulheres” revelou que apenas 2,1% das lésbicas cisgênero usam algum método de prevenção de ISTs.

Eu sonho com um mundo em que encontrar médicas(os) atentas(os) às demandas da comunidade LGBTQIAPN+ seja regra, não sorte. Sonho em poder ir a um posto pegar um preservativo "vulvar". Sonho, por fim, que tenhamos cada vez mais mulheres e sapatonas no poder, porque só assim teremos uma esperança palpável de ver nossas pautas virarem políticas públicas de proteção e promoção da nossa saúde e da nossa vida.

Imagem ilustrativa da coluna Educação xualSe
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