Escrevo estas linhas da Chapada Diamantina, respirando aquele silêncio cheio de sons, o tipo de silêncio que não esvazia, mas reorganiza. Sempre que venho para cá, sinto como se a natureza devolvesse algo que a rotina, aos poucos, vai desalinhando. E, enquanto caminho perto da Cachoeira do Buracão, percebo no meu próprio corpo aquilo que observo tantas vezes em quem me procura: a dificuldade de admitir que precisamos de um intervalo. Não um intervalo grandioso, desses que mudam toda a vida, mas um espaço simples, capaz de permitir que a mente volte a pulsar no próprio ritmo.

É curioso como esquecemos disso. Basta olhar para uma criança quando ela não tem nada para fazer: ela inventa, cria, explora, se regula. O vazio não deveria assustar; deveria mover. Nós crescemos, acumulamos responsabilidades e começamos a fugir exatamente dessa pausa que, lá atrás, fazia parte do nosso próprio funcionamento. E, quando evitamos essa fresta de tempo, o humor se desorganiza, a atenção falha e até o pensamento perde profundidade. A mente trabalha sem descanso, mas ela não é infinita.
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Quando permitimos essa brecha, algo diferente acontece. O cérebro descansa do excesso de estímulos, as emoções encontram lugar para se acomodar e aquela sensação abafada de confusão começa a se dissipar. A pausa cria um tipo de silêncio interno que reorganiza. E, muitas vezes, é desse silêncio que surgem compreensões soterradas pelo barulho dos dias.

Talvez por isso dezembro nos pese tanto. Chegamos ao final do ano saturados de telas, tarefas, urgências e expectativas. Esquecemos que a mente precisa de respiro para transformar experiência em entendimento. Aqui na Chapada, cercado por essa imensidão, percebo como o corpo agradece quando finalmente permito que ele desacelere. Vá por mim, o tédio, esse estado que tentamos evitar a qualquer custo, funciona como um reinício suave, abrindo espaço para que ideias, emoções e memórias ganhem nitidez.

Se, neste dezembro, você sentir aquele vazio que incomoda, não tente preencher imediatamente. Talvez seja apenas o seu corpo pedindo o mesmo que o meu encontra quando chega perto da natureza: um intervalo para respirar por dentro. Nesse espaço, a mente repousa, se reorganiza e volta a criar.
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