Às vezes, faço deste espaço um diário. É que passamos por coisas que, entre nossas paredes, pensamos que apenas nós estamos passando por aquilo, mas, na realidade, milhares de pessoas estão passando pelas mesmas reflexões, cada qual do seu jeito único, mas com pontos-chave parecidos. Falar, escrever, se conectar com outras pessoas de certa forma, sempre expurga, cura algo.
Esse ano inteiro vivi uma questão profunda e inquietante: cheguei num momento da vida que encontrei as coisas que eu mais gosto de fazer, o trabalho, as pessoas que admiro e gosto de trabalhar, me sinto mais plena e confiante de mim mesma, com muitos planos e ideias para colocar em ação. Mas, por outro lado, vivo uma labuta diária de que as contas não fecham. Recorro a algum empréstimo para ajudar nas contas básicas do mês. Viver de audiovisual nesses tempos não tem sido fácil. Aliás, viver sendo trabalhadora autônoma nesses tempos, não tem sido nada fácil. Os trabalhos pintam aqui e ali, mas o condomínio aumentou, alguma emergência estrutural na casa surgiu, um equipamento audiovisual que quebrou... E aí você está no vermelho novamente.
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Recorro aos meus oráculos para tentar burlar a minha ansiedade e acreditar que devo seguir fazendo as coisas que mais pulsam dentro de mim, as coisas que mais acredito. Mas, e o cartão de crédito que teve que ser usado mais do que você gostaria? E a prestação da lente que você queria há décadas e comprou, mas que aperta o seu orçamento todo mês? Como alguém já disse, o Brasil não é para amadores.
Vejo Uma garota de muita sorte (2022, Netflix), e sinto aquele soco no estômago, ao mesmo passo que vejo uma mulher escolhendo seu caminho. Vi também Espaço Além - Marina Abramović e o Brasil (2016, Amazon Prime) e sua trajetória de arte e vida e, especificamente neste documentário, que se passa aqui no Brasil, encontro uma busca espiritual latente e poderosa.
Até o fim (2020), filme que se passa no Recôncavo Baiano, traz uma narrativa de superação, encontro e autoconhecimento entre quatro irmãs que, apesar de ter assistido há um tempinho, me mostra também resiliência e força feminina. E ainda, visto mais recentemente, Marte Um (2022, nos cinemas) onde, uma frase dita do pai para seu filho, “a gente dá um jeito”, faz brilhar o peito de amor e esperança.
A real é que não temos ou teremos todas as respostas sempre. A tentativa do equilíbrio nesse mundo é a grande questão a ser buscada. Graças a muito trabalho e criação dos seus realizadores, as narrativas compartilhadas desses filmes sempre me salvaram nos momentos de maiores angústias e também nos de alegrias e buscas. É assim que pretendo continuar, buscando, experimentando, vendo o que serve na minha trajetória e o que não serve também. Mas, menina, como manter a autoconfiança? No meu caso, é me conectando com tudo aquilo que me faz lembrar meus propósitos, da onde eu vim, o que já passei e conquistei até aqui. É preciso não deixar a ansiedade te revirar e deixar esquecer nada disso. E os filmes e suas narrativas contribuem justamente para isso: trazer memórias essenciais, fomentar sensações e reflexões sobre si mesma e tudo que te cerca. Um dia de cada vez e assim seguimos.
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Vanessa Aragão
Vanessa Aragão
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