Numa semana em que influenciadores digitais foram presos e até cantores de grande sucesso receberam voz de prisão de autoridades policiais por envolvimento com esquemas de apostas, a imprensa divulgou dados econômicos surpreendentes e estarrecedores sobre este setor, por onde correm rios de dinheiro. Segundo o levantamento, os brasileiros devem destinar às casas de apostas, apenas via Pix, um total de R$ 216 bilhões, quando o estimado originalmente pelo Ministério da Fazenda era de R$ 150 bilhões. E, para complicar, ainda mais esse cenário, o Banco Central, em uma análise sobre o mercado de jogos de azar e apostas online no Brasil, destacou que cinco milhões de beneficiários do Bolsa Família destinaram R$ 3 bilhões às casas de apostas virtuais apenas no mês de agosto.
A invasão das empresas de apostas, conhecidas por "bets", como patrocinadoras de clubes e campeonatos no Brasil tem gerado um debate intenso e acalorado que se trava em todos os setores da sociedade, pois há pouca gente ganhando muito e muita gente perdendo tudo. Enquanto há narrativas que apontam aspectos positivos, não são poucas as que sinalizam os negativos. No meio disso tudo, um esquema bilionário tem viciado milhares de pessoas e as levado à completa bancarrota, a um clique do celular.
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O lado positivo que as casas de aposta vendem...
- Recursos financeiros: As apostas esportivas proporcionam uma nova fonte de receita para os clubes e o patrocínio dessas empresas pode ajudar a financiar salários de jogadores, infraestrutura e outras áreas essenciais do esporte, especialmente em um cenário econômico desafiador.
- Visibilidade da imagem: O envolvimento com poderosas marcas de apostas pode aumentar a visibilidade dos clubes, atraindo novos torcedores e patrocinadores. Isso potencialmente amplia o alcance e a popularidade das equipes e do campeonato como um todo, pois as “bets” hoje estão estampadas nas camisas dos times, batizam campeonatos e estádios, geram recursos publicitários, inclusive, para veículos de comunicação, e são divulgadas obsessivamente por atletas, artistas e influenciadores. Mas há também o perigo nessa associação.
- Profissionalização do esporte: Por não ser um fenômeno exclusivamente brasileiro, a parceria com empresas de apostas pode contribuir para uma maior profissionalização no gerenciamento de clubes, incentivando melhores práticas de marketing e gestão.
- Inovação e engajamento: Focadas em grandes recursos tecnológicos e na interatividade entre torcedores e clubes, as empresas de apostas costumam incentivar a inovação em termos de engajamento, por meio de promoções, palpites em jogos e eventos especiais.
O imenso perigo que ronda torcedores, clubes e o próprio esporte
- Vício em jogos: A promoção de apostas pode impactar negativamente a sociedade, especialmente em relação ao formato viciante e à grande exposição digital. Torcedores e jovens, em particular, podem ser influenciados a participar desse sistema, levando a graves problemas financeiros e emocionais.
- Dependência financeira: Clubes que se tornam excessivamente dependentes das receitas de patrocínio das apostas podem encontrar dificuldades se esse mercado passar por mudanças, regulamentações e até mesmo suspensão das atividades. A instabilidade econômica e jurídica do setor de apostas pode afetar diretamente os clubes e comprometer até mesmo a existência desses últimos.
- Problemas de ética e integridade: Inevitavelmente, a presença de empresas de apostas levanta questões sobre a integridade das competições. Existe o risco de manipulação de resultados e escândalos que podem minar a confiança dos torcedores nos jogos, o que já vem sendo visto nas rodas de conversa.
- Desvio do foco esportivo: A excessiva comercialização do esporte em torno das apostas pode desvirtuar o foco principal, que é a competição esportiva em si e o alto grau de imprevisibilidade. Esse fator já vem gerando preocupações quanto à autenticidade e ao espírito do jogo.
- Impacto na imagem do esporte: A presença significativa e cada vez maior de casas de apostas pode prejudicar a imagem do futebol como um esporte saudável e limpo. Esta associação com ganho de dinheiro fácil oferece uma perspectiva negativa que pode afastar alguns torcedores.
As contradições no meio disso tudo e o que precisa ser feito
A invasão das empresas de apostas no futebol brasileiro apresenta um dilema que exige cautela. Embora haja oportunidades para financiamento e inovação, os riscos éticos e sociais são significativos. Um balanço cuidadoso deve ser feito, e é essencial que haja regulação e supervisão adequadas para mitigar os impactos negativos enquanto se aproveitam as vantagens potenciais. O diálogo entre clubes, federações, autoridades e a própria sociedade é fundamental para garantir que o futebol permaneça um esporte genuíno e digno de respeito e suporte.
SÍLVIO TUDELA
Sílvio Tudela
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