As duas primeiras semanas do ano foram marcadas pela partida de Mário Jorge Lobo Zagallo (1931-2024), um dos maiores técnicos da história do futebol mundial e da Seleção Brasileira; pela demissão nada surpreendente de Fernando Diniz do comando do escrete canarinho; e pela chegada de Dorival Júnior como o novo treinador da equipe verde e amarela, após a negativa de Carlo Ancelotti, que preferiu ficar no Real Madrid a enfrentar as incertezas que rondam a CBF.
Os desafios para reconstruir o futebol pentacampeão do mundo são enormes, mas um deles chama muita atenção pelo seu apelo dramático, quase de brincadeira criada pelo destino: o reencontro entre Dorival Júnior e Neymar na Seleção Brasileira. Isso porque o novo técnico e o jogador protagonizaram uma grande polêmica em 2010 e vão precisar esquecer os traumas do passado para seguirem juntos.
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Com grande poder e influência sobre os companheiros, o Camisa 10 já demonstrou que tem o poder de harmonizar ou desestabilizar a equipe e de questionar a autoridade de qualquer treinador que venha a se opor aos seus caprichos e preferências. E Dorival Júnior sabe muito bem disso.
Logo em sua coletiva de apresentação, o novo treinador precisou falar do atleta e afirmou que o Brasil precisa aprender a jogar sem ele, já que o atacante está lesionado e se recuperando da cirurgia que realizou no joelho esquerdo.
Apesar de considerá-lo como um dos três melhores do mundo, Dorival Júnior enfatizou nas entrelinhas que o jogador é muito importante para a Seleção, mas só deve voltar ao time quando estiver em plenas condições físicas e totalmente focado. Mesmo mostrando disposição em conversar brevemente com o atacante do Al-Hilal e manifestar seu desejo de contar com o jogador durante o ciclo para o Mundial de 2026, é preciso lembrar porque a convivência entre eles não foi das melhores no passado.
Os dois tiveram uma desavença de grandes proporções em 15 de setembro de 2010, quando Dorival Júnior, técnico do Santos, preteriu Neymar e pediu para outro jogador (Marcel) bater um pênalti contra o Atlético-GO, na Vila Belmiro.
Numa evidente quebra de hierarquia, Neymar se descontrolou e iniciou uma grande discussão com o treinador e com os próprios companheiros em campo que se estendeu ao vestiário. Após os ânimos terem sido acalmados, o então comandante santista pediu punição ao jogador, mas a diretoria do Alvinegro Praiano não aceitou e desautorizou o técnico publicamente. O episódio culminou na permanência de Neymar e na demissão de Dorival Júnior, que havia sido, nada mais nada menos, que campeão do Campeonato Paulista e da Copa do Brasil naquele mesmo ano.
E a temperatura da polêmica aumentou ainda mais após o final do jogo, que terminou com o Santos vencendo o Atlético-GO por 4 a 2. Uma declaração de René Simões, treinador do time goiano na época, criticou o comportamento de Neymar - que despontava no time profissional santista aos 18 anos - com uma declaração que se tornou célebre: “Estou desde garoto no futebol e poucas vezes vi alguém tão mal-educado desportivamente. Sempre trabalhei com jovens e nunca vi nada assim. Está na hora de alguém educar esse rapaz, ou vamos criar um monstro. Estamos criando um monstro no futebol brasileiro!”.
Em 2020, pela imprensa, Dorival Júnior negou qualquer desavença pessoal com o jogador e disse que o atrito ganhou uma proporção muito maior do que se esperava porque as atitudes foram tomadas no calor do jogo. Explicou que o episódio foi superado com pedido de desculpas no dia seguinte e que os encontros posteriores entre eles sempre ocorreram de forma positiva. Na entrevista dez anos depois do fato, o técnico considerou que o erro acontecido em campo foi de Neymar e que ele sabe disso; e admitiu que o desacerto dentro do vestiário foi dele.
Em manifestações públicas, o atacante reafirmou que não tem qualquer problema com o treinador, que o respeita como profissional e que está disposto a ajudá-lo na Seleção Brasileira, como tentou fazer com Fernando Diniz.
A conferir nas cenas dos próximos capítulos...
