Para poder começar a entrevista, Zeca Pagodinho tenta, mas não consegue desligar o próprio celular.
— Eu tenho que aprender. Ele não me obedece.
Depois de repassar o aparelho a alguém mais hábil, senta-se para falar de “Turma da espuma”, single que lança hoje nas plataformas. É a primeira música que apresenta desde o início da pandemia. A encomenda a dois compositores muito presentes em sua discografia, Serginho Meriti (“Deixa a vida me levar”) e Claudemir (“Ser humano”), foi de um “samba de alto astral”, como ele diz na introdução da faixa.
— Pedi uma música que saísse da tristeza em que a gente estava. E ainda estamos.
Zeca é profissional, mas não é de mentir. Apesar de a letra otimista falar em “Pra chegar bem perto/ Ficar mais juntinho” e “É hora de reencontrar”, ele opta pela cautela. Quando o repórter pergunta se está “um pouquinho” mais esperançoso, ele vai de bate-pronto:
— Esse “um pouquinho” caiu na hora certa.
O cantor também é sincero ao afirmar que nunca ouvira falar da dupla sertaneja que gravou “Turma da espuma” com ele. Conheceu Zé Neto e Cristiano numa live de carnaval realizada neste ano. Depois de acertado o trabalho em conjunto, estiveram no estúdio para a gravação e em seu sítio em Xerém, na Baixada Fluminense, para o clipe.
— Eles são alegres. Pararam na praça em Xerém, tiraram fotos com as meninas do sacolão. Zé Neto é mais da pesada — diz Zeca.
José Tocano Martins Neto, 31 anos, primeira voz, é mais expansivo. Irineu Táparo Vaccari, vulgo Cristiano, 33 anos, é tímido. Juntos há uma década, formam uma das duplas mais bem-sucedidas do neossertanejo.
Embora Zeca seja um dos mais populares e queridos sambistas, a dupla de São José do Rio Preto (SP) está em outro patamar para os parâmetros atuais do que significa sucesso. Os amigos têm 12,2 milhões de seguidores no Instagram (Zeca tem 2,3 milhões). O canal deles no YouTube tem 14 milhões de inscritos (o de Zeca, 1 milhão). Há, no canal, um clipe com 840 milhões de visualizações, outro com 136 milhões... Nada fica abaixo de sete dígitos.
Segundo declaração de Cristiano enviada pela assessoria de imprensa — a agenda agitada inviabilizou uma entrevista —, há mais coisas entre o pagode e o sertanejo do que supõe o vão sucesso: “A maioria dos nossos encontros e parcerias jamais é pensando no lado comercial. Gostamos de gravar principalmente com nossos ídolos e pessoas que nos marcaram de alguma forma”, afirma ele.
Os números da dupla não devem impressionar Zeca, que não visita plataformas digitais:
— Nem sei mexer.
Mesmo rádio ele não tem acompanhado.
— Escuto Ave Maria às 6 da tarde. De música, não tem nada tocando. Muito crime, muita maldade, feminicídio. Não dá pra ficar ouvindo essas coisas. Entristece.
Diz também estar ficando pouco diante da TV.
—Só vejo o Viva, aquelas novelas antigas. É difícil ver o resto. Toda hora estão enfiando uma injeção no braço de alguém. É bom que seja assim, mas não gosto de injeção, tenho pavor. E toda hora está entrando agulha no braço de um infeliz. Ou, no caso, feliz.
Ele tomou duas doses da vacina e diz que tomará quantas mais houver. Teve Covid-19 em agosto e assegura que não sentiu nada — ficou cinco dias internado por precaução. Mas perdeu para a doença o sogro e amigos como Ubirany (fundador do Cacique de Ramos e do Fundo de Quintal) e o percussionista Gordinho.
A possibilidade de retomar os shows o anima. Em 12 de novembro fará apresentação no Espaço das Américas, em São Paulo.
— Sinto saudade da banda, das nossas viagens, das nossas risadas.
Passou um ano e dois meses em Xerém, na casa com muito espaço ao ar livre. Só recentemente voltou para o apartamento na Barra. Ainda assim, não tem ido ao Bar do Zeca Pagodinho, que funciona num shopping do bairro. Garante que estará nas inaugurações das filiais do Flamengo (no antigo hotel Novo Mundo), agora em outubro, e em Jacarepaguá, em novembro. É outra área de investimento, que pode contrabalançar o prejudicado mercado da música.
— A despesa é grande, as contas chegam.
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Redação iBahia
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