A Justiça manteve a prisão preventiva de Deolane Bezerra e de Solange Alves Bezerra, mãe da advogada, em audiência de custódia nesta quinta-feira (5).
A audiência foi realizada por videoconferência e as duas permanecerão na Colônia Penal Feminina Bom Pastor. Ambas são investigadas na "Operação Integration", que mira uma organização criminosa voltada à prática de lavagem de dinheiro e jogos ilegais.
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Vale destacar que nesta quarta-feira (4), o juiz da 12ª vara criminal de Recife também declinou um pedido de julgamento do habeas corpus da influenciadora.
Família de Deolane defende influenciadora
As irmãs da influenciadora defendem a família. Dayanne Bezerra afirmou que a família está sendo perseguida e que a inocência deles será provada.
"Mais uma vez, a minha família está sendo perseguida. Mais uma vez venho aqui, com a minha cara a bater, falar que estamos sendo perseguidas e que vamos provar a nossa inocência, custe o que custar. Espero que não venham especular e não me perguntem nada. O que eu tinha pra dizer eu disse aqui. Não temos vergonha e não devemos nada", afirmou.
Ainda de acordo com a Polícia Civil (PC), foi decretado o sequestro de bens como carros de luxo, imóveis, aeronaves e embarcações. Ativos financeiros no valor de mais de R$ 2,1 bilhões também foram bloqueados de Deolane.
De jogo do bicho a apostas: tudo o que já se sabe da prisão de Deolane
Deflagrada nesta quarta-feira (4), a "Operação Integration" foca em uma organização criminosa vinculada ao jogo do bicho em Pernambuco, suspeita de utilizar uma rede de empresas e sites de apostas esportivas para lavar dinheiro ilícito. O caso ganhou maior destaque com a prisão preventiva da empresária e influenciadora digital Deolane Bezerra, detida junto com sua mãe, Solange Alves dos Santos. A Justiça determinou o bloqueio de mais de R$ 2,1 bilhões em ativos financeiros, além do sequestro de carros de luxo, imóveis, aeronaves e embarcações. No entanto, a polícia ainda não detalhou como os envolvidos operavam no esquema.
A investigação já está em andamento há pelo menos um ano e oito meses. Em dezembro de 2022, policiais civis de Pernambuco apreenderam R$ 180 mil em espécie na banca Caminho da Sorte, pertencente a Darwin Henrique da Silva, um nome associado à contravenção no Nordeste. Um caderno encontrado pelos agentes, contendo anotações diárias de prêmios pagos, ligou o esquema ao site de apostas Esportes da Sorte, cujo CEO é o filho homônimo do suspeito. Além da documentação que conecta o jogo do bicho ao site, a banca estava decorada com a logomarca da bet, também exibida na camisa de um dos funcionários. O local ainda permitia apostas físicas.
Assim como outras casas de apostas, a Esportes da Sorte está registrada fora do país, em Curaçao, um paraíso fiscal no Caribe a mais de quatro mil quilômetros da capital pernambucana, onde residem seus donos e executivos. A investigação apontou essa localização como uma tática para "burlar" a legislação brasileira. Em outra frente, um relatório encomendado ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) analisou as contas da família de Darwin da Silva e de suas empresas, revelando "indícios de práticas reiteradas de lavagem de dinheiro", conforme um processo de mil páginas publicado pelo portal Poder 360.
No total, a Justiça de Pernambuco emitiu 19 mandados de prisão na Operação Integration, e foram cumpridas 24 ordens de busca e apreensão em pelo menos cinco estados: Pernambuco, Paraíba, São Paulo, Paraná e Goiás. Segundo o delegado Renato Rocha, responsável pelas investigações, foram apreendidos dezenas de imóveis, embarcações, aeronaves, além de dinheiro vivo e joias. Entre os itens recolhidos, destacam-se 11 relógios da marca Rolex encontrados em um único alvo. A operação também incluiu a empresa VaideBet, fundada por José André da Rocha Neto. Em nota, a empresa afirmou estar à disposição das autoridades e que está em conformidade com a legislação vigente.
Entre os mandados de prisão estavam os de Darwin, pai e filho. Ao jornal O Globo, o advogado Ademar Rigueira, que representa Darwin Filho, disse aguardar o acesso ao pedido de prisão para definir um posicionamento. No momento da operação, seu cliente se encontrava fora do estado, mas o advogado acredita que ele deverá se apresentar às autoridades para prestar esclarecimentos. Segundo Rigueira, o site de apostas está em conformidade com a legislação brasileira e informações já foram fornecidas no âmbito do inquérito. Já o advogado do pai do CEO da Esportes da Sorte afirma que o Darwin da Silva não vai se entregar e aguardará a reversão do pedido de prisão.
Lavagem de dinheiro: entenda esquema que Deolane Bezerra estaria envolvida
No intervalo de um ano, a HSF Entretenimento, de propriedade de Darwin Filho, recebeu R$ 10 milhões da Pay Brokers, empresa que intermedeia os pagamentos dos apostadores para o Esportes da Sorte. Para os investigadores, isso prova que a HSF é a "pessoa jurídica de direito e de fato" da casa de apostas. Depósitos fracionados feitos a um executivo da casa de apostas são vistos como uma tentativa de ocultar a origem ilícita dos recursos. Além disso, outras transferências milionárias também foram examinadas pelas autoridades.
"É um esquema voltado à lavagem de dinheiro. A lavagem é divida em três fases: a colocação, a ocultação e a integração do dinheiro ao patrimônio daquelas pessoas envolvidas", afirmou o delegado Renato Rocha, que investiga o caso, durante coletiva de imprensa. "A ilegalidade dessa organização está linkada a esses jogos que não são autorizados legalmente. As bets eram utilizadas pela organização criminosa também, além de outras empresas, para a lavagem do dinheiro ilícito oriundo do ramo ilegal de jogos".
Presa nesta quarta-feira (4), Deolane Bezerra chegou à Colônia Penal Feminina do Recife recebendo gritos de "vai dar tudo certo" de seus fãs, conforme mostram imagens divulgadas pela imprensa local. Um dos elementos que liga a influenciadora e empresária — que ganhou notoriedade após a morte do marido MC Kevin — ao caso é a aquisição de um carro de luxo, um Lamborghini Urus 2023, avaliado em R$ 4 milhões. O veículo foi importado por Darwin Filho através da Sports Entretenimento. Documentos obtidos pelo jornal O Globo indicam que, atualmente, o carro está registrado em nome da Bezerra Publicidade e Comunicação Ltda, empresa na qual Deolane e sua irmã, Daniele, são sócias.
Aos policiais, a influencer confirmou ter adquirido o carro de luxo, segundo mostram trechos do seu depoimento. A Polícia Civil suspeita que a aquisição do veículo, comprado à vista por Darwin Filho, faça parte do esquema de lavagem de dinheiro. Os agentes também questionaram Deolane sobre transações suspeitas envolvendo pessoas físicas e depósitos da empresa Pay Brokers para a Bezerra Publicidade. De acordo com a influenciadora, esses valores estão vinculados a trabalhos de publicidade. Durante a coletiva de imprensa, o delegado Renato Rocha não forneceu detalhes sobre a suposta conexão entre a influenciadora, sua mãe e o esquema.
Os advogados da influencer afirmaram, por nota, que “a defesa está impossibilitada de se manifestar neste momento, pois, até o momento, não foi concedido acesso à íntegra dos autos do inquérito policial”. No início da tarde de ontem, após sua prisão, Deolane Bezerra publicou uma carta em suas redes sociais, assinada por ela, para tranquilizar seus fãs. Na mensagem, ela afirmou estar sendo injustiçada.
“É notório o preconceito e a perseguição contra minha pessoa e minha família, mas isso tudo servirá para provar mais uma vez para todos vocês que não pratico e nunca pratiquei ‘crimes’ (...) Peço orações para todos vocês. Obrigada pelo carinho. Já, já estou aqui de novo. Esquece que a mãe está enjaulada. ‘Só para descontrair’”, escreveu Deolane.
A Polícia de Pernambuco ainda vê indícios de que o dinheiro do jogo do bicho e da casa de apostas — que também opera cassinos online, como o Jogo do Tigrinho — foi utilizado nos contratos de patrocínio realizados pela bet, bem como na compra de imóveis e carros de luxo.
"Toda banca de jogo tem o seu algoritmo que é benéfico para ela, tanto em jogos legais quanto ilegais. Alguns recebem um retorno quando são premiados, mas a grande maioria das pessoas que apostam nesses jogos, por isso que eles são chamados de “jogos de azar”, tem prejuízo", completou o delegado.
Empresa de apostas se defende
Em nota, a empresa Esportes da Sorte informa “que não teve acesso à decisão judicial que autorizou busca e apreensão em sua sede”, no entanto, ressalta que tem fornecido os esclarecimentos necessários nos autos do inquérito policial, que está em curso desde 2023.
“A operação policial será impugnada perante o Juízo competente, demonstrando-se que houve interpretação precipitada e equivocada dos fatos apurados, sem qualquer análise ou consideração dos argumentos já apresentados. Tanto é assim que a autoridade policial não apreendeu qualquer objeto, documento ou equipamento na sede da empresa”, também diz o comunicado.
Jonattas Neri
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