Não é necessário ser expert no assunto para perceber que a forma de fazer negócio no mundo mudou. Além disso, os avanços tecnológicos estão modificando a forma como adquirimos informações e também o modo como nos relacionamos. Tudo isso, passou a ser chamado de transformação digital.
Inicialmente, as mudanças podem assustar, mas se bem utilizados, conceitos como Internet das Coisas e Big Data, que fazem parte da transformação digital, tendem a facilitar os negócios e de que forma ele chega ao consumidor. O que ainda falta é muitas empresas brasileiras entenderem o que isso significa e como fazer parte desse processo.
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CEO e fundador da Kanamobi, empresa de tecnologia criativa, Cristiano Kanashiro, explica que a transformação digital não passa apenas por soluções objetivas e mais simples, como criar um aplicativo, um novo site ou um canal de comunicação com o consumidor final. É preciso mais. “A maior parte dos projetos envolvendo transformação digital – 70% deles - falham porque existem diversos outros pilares que se não estão bem resolvidos, a experiência acaba não acontecendo de forma efetiva”, diz.
De acordo com Kanashiro, o processo vem de dentro para fora. O que significa que é preciso mudar a mentalidade da empresa. “É preciso reconhecer que todos os pontos devem ser trabalhados, se reestruturar, entender essa mudança e sua alteração e que o mundo vem passando por um processo de reinvenção. Não é da noite por dia. Conheço empresas em que a transformação digital iniciou-se há 2, 3 anos e hoje estão colhendo os frutos”, ressalta.
Dito isso, é possível afirmar que a transformação digital começa, antes de mais nada, com a mudança de pensamento e uma busca por uma mentalidade digital. Nara Littério, sócia diretora da Ekantika, empresa de consultoria especializada em processos de mudanças, acredita que essa mentalidade precisa existir independentemente do segmento da empresa, e passa por ser mais ágil, ter um pensamento mais enxuto e menos burocracia.
Como colocar na prática
De acordo com Littério, que trabalha com empresas em busca de mudanças, o que inclui o processo de transformação digital, é preciso haver um equilíbrio em três pilares da empresa: pessoas, sistemas e processos. E todos precisam funcionar conjuntamente.
“Feita a avaliação desses três pilares, eles precisam ser atacados de forma conjunta. Se não passa a ser mais uma barreira do que um acelerador. Como consultoria, fazemos um diagnóstico, para entender em que nível de maturidade eles estão para podermos encaminhar o processo de transformação digital”, explica.
Ou seja, são necessárias mudanças que passem da direção aos funcionários. O que, segundo Kanashiro, é ainda mais difícil em organizações que estão há anos no mercado. “Uma coisa é uma empresa nova, que já iniciou como uma startup, por exemplo, outra são empresas grandes, multinacionais, que existem há anos, com milhares de funcionários, começarem este processo”, analisa.
Sendo mais difícil ou mais prático, para atingir o objetivo é necessário começar. Uma dica é ter uma visão macro do negócio, entender que o mercado está em constante modificação e analisar de que forma o mercado está se comunicando.
Pensar na empresa e seus processos como um todo é outra dica fundamental para o processo. Além disso, entender que não é porque sempre trabalhou-se de tal forma e deu certo, que continuará dando.
De forma prática, Carlos Macedo, executivo de Tecnologia da Informação na innovativa Executivos Associados, enumera algumas perguntas que devem ser feitas para começar uma transformação digital. Ele sugere analisar de que forma é feita a coleta de informações; quais informações são importantes para seu negócio e para manter o relacionamento com o cliente; como é realizado o feedback para o cliente; se as soluções tecnológicas da empresa conseguem processar no tempo correto do negócio; se os funcionários exploram as oportunidades no tempo correto e se eles têm boa comunicação e compartilham experiências; e se o perfil de profissional da empresa é correto para liderar uma transformação digital.
“A ideia é analisar quem está me acompanhando, quem se interessa por esse negócio, que informações são importantes para ele e o que é importante para meu cliente. E também é necessário um feedback, para você saber que sua solução tecnológica está casada com o que seu cliente espera”, completa o executivo.
Melhora no bolso
Mas se está dando certo, como convencer empresas de que é preciso mudar? O melhor argumento, segundo Nara, é focar nos rendimentos. “Você tem que olhar o quanto isso vai impactar no resultado direto. A melhor forma de convencer uma empresa a seguir no processo, é quando você começa a contabilizar os ganhos financeiros da transformação digital”.
Se melhora no bolso da empresa, é sinal de que estão consumindo seu produto, o que aponta para um cliente mais satisfeito. “O consumidor final percebe claramente a diferença de posicionamento e serviço. A transformação digital foca no cliente e o reflexo para ele é notório”, completou a especialista.
Não tão novo assim
Para muitos, o conceito de transformação digital pode ser uma novidade. Mas Carlos Macedo defende que é algo que está presente na nossa sociedade há pelo menos 20 anos. Ele explica que nesse período, o Brasil viu a chegada, por exemplo, de sites institucionais, o que já dava indícios de uma transformação no modo de fazer negócios.
Para Macedo, as empresas brasileiras estão cada vez mais buscando novos processos tecnológicos que atinjam positivamente o consumidor final. “Um exemplo legal são os deliveries de alimento. Antes, o cliente pedia a comida, entre as opções apresentadas, e pronto, esperava um bom tempo até o produto chegar. Agora, muitos aplicativos já te informam quando a comida estiver sendo preparada, quando ela saiu para a entrega, e até mesmo quando o motoboy chegar no seu destino. Tudo isso via internet, sem precisar ligar para o restaurante”.
O que difere os passos para a transformação digital dados lá atrás, nesse período de 20 anos, não são só as novas tecnologias. Anteriormente, defende o especialista, as empresas e seus executivos não souberam o que fazer com a informação ou até mesmo demoraram de tomar ações. Já hoje, as grandes barreiras para a transformação são, para ele, definir quem vai comandar essa mudança e a situação financeira do país, que impede investimentos na área.
Já Cristiano Kanashiro defende a questão cultural ainda é também um grande impasse. “Estive em uma reunião com 15 pessoas de uma empresa e a discussão é que precisavam inovar, fazer um aplicativo. E eu disse: as ideias são ótimas, mas antes vamos descer na fábrica e entender como funciona a logística, vamos olhar na prática. E lá vimos que todo o processo que faz o produto chegar ao consumidor final era lento, com falhas”, exemplifica.
A resistência a mudanças é uma característica do ser humano e está presente nessa situação, acredita Nara. “Industrias antigas e tradicionais e não conseguem entender a mudança”, ressalta. A profissional ainda destaca que sistemas tecnológicos antigos em determinadas empresas também retardam o processo, assim como o lado burocrático presente em muitas organizações.
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Redação iBahia
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