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Confira as declarações marcantes dos escritores da Flica 2016

iBahia lista momentos especiais das mesas da 6ª edição da festa literária de Cachoeira; evento recebeu 16 autores

Redação iBahia • 17/10/2016 às 18:25 • Atualizada em 29/08/2022 às 0:44 - há XX semanas

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A 6ª edição da Festa Literária Internacional de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, acabou neste domingo (16) e o iBahia faz um balanço dos momentos mais marcantes dos quatro dias de evento, que recebeu público de cerca de 35 mil pessoas, conforme estimativa da organização, e 16 escritores na programação.

Kabengele Munanga, Miltom Hatoum, Conceição Evaristo e Ana Maria Machado na Flica 2016 (Foto: Egi Santana/ Santana)

Mary Del Priore sobre a violência contra a mulher no Brasil Colônia
“A condição da mulher da Colônia não era muito diferente da nossa. E um dos problemas está nas próprias mulheres e na capacidade que ainda hoje têm de transmitir o machismo e o patriarcalismo aos seus homens. Tem mãe que não deixa o filho lavar pratos, que não deixa o marido fazer cama, que quando vê mulher inteligente falando diz logo que é ‘sapatona’, que gosta de ver as piores vulgaridades na televisão ao lado das filhas, aplaudindo e dizendo ‘vai ser mulher fruta, é muito melhor’. Temos que ter mais cuidado. Estar mais consciente e pensar melhor no que estamos transmitindo dentro de nossas casas. Não se pode pensar apenas na violência do homem contra a mulher. É preciso pensar na violência da mulher contra a mulher. Nós somos um povo violento e é preciso corrigir isso. Precisamos lutar pela tolerância e pela liberdade. A liberdade não deve ser um ideal a ser conquistado, mas sim uma prática que se deve exercer no dia a dia. A situação da mulher é gravíssima.”

Jailma Pedreira e a importância de Zélia Gattai na luta pelos direitos das mulheres
“Zélia Gattai era uma dona de casa que também era escritora. Reinventou o feminino: mostrou que, para além dos afazeres domésticos, também poderia ser uma ótima contadora de histórias [...] A narrativa de Zélia é como se ela contasse uma história por meio de uma conversa. Como se estivesse falando com a gente. São aspectos próprios da sua forma de escrever. Foi de uma extrema importância para a discussão das questões do feminino. Mostrou que a mulher pode ser muito mais que uma dona de casa. As mulheres até escreviam, mas não chegavam a publicar porque acreditou-se por muito tempo que era algo sem valor.”

Miltom Hatoum (Foto: Egi Santana/ Divulgação)

Miltom Hatoum sobre o prêmio Nobel da literatura a Bob Dylan
“Foi um golpe de marketing. É como se desse o prêmio para John Lennon, se ainda estivesse vivo. Ou seja, não estamos querendo dizer que ele não seja bom, mas que não faz parte da área. Acho que eles quiseram celebrar uma celebridade, ao invés de premiar quem ainda merece ser reconhecido mundialmente e que é realmente da literatura. Não precisava disso mesmo”

Kabengele Munanga e os haitianos no Brasil
"Uma convivência não pacífica entre os diferentes gera uma coisa chamada por alguns de xenefobia. Se você olhar a discriminação com imigrantes nos países europeus, você vai ver que a imigração entre países pessoas de países europeus não tem essa rejeição. No caso do Haiti, que foi a primeira independência negra no mundo, todos os problemas começam com o terremoto. Eles estão fugindo da miserabilidade e em busca de melhorias de vida. Isso acontece em várias partes do mundo. Todos em busca de melhores condições de vida. Eles chegam e encontram um país [Brasil] que já é preconceituosos com os negros. Acredito que se fossem imigrantes europeus fugidos da guerra eles seriam bem recebidos aqui. Os haitianos encontram um país que já tem um mercado de trabalho com problema, além de outros problemas. Mesmo sem aceitar, o Brasil tem preconceito com os negros da sua própria terra. Como vão aceitar os negros de outras terras?."

Eduardo Spohr (Foto: Egi Santana/ Divulgação)

Eduardo Spohr e a literatura brasileira
"Na afirmação que se faz de que o brasileiro não lê, tem uma verdade e uma mentira. É verdade que no Brasil há um problema crônico de educação e talvez isso possa levar as pessoas a não lerem, por não serem incentivadas. Ainda hoje temos analfabetos funcionais porque não tiveram acesso à leitura, um problema crítico e político. No entanto, a gente percebe que dentre aqueles que leem, esse hábito tem crescido muito. Isso é uma coisa boa. Discordo totalmente que a literatura morreu ou que esteja perto disso. Diziam que a internet acabaria com o livro, mas isso não ocorreu. O que a internet fez foi diversificar as plataformas de leitura hoje, além do livro, temos os smartphones e tablets."

Ana Maria Machado e as crianças leitoras
"As crianças continuam lendo muito e cada vez mais. Existe todo um trabalho que foi feito de distribuição de livros nas escolas. A questão do acesso ao livro infantil no Brasil ficou praticamente resolvido. As crianças leem muito. Quando vai chegando os jovens, eles vão saindo das escolas, se interessando menos e eles vão tendo uma relação com professores que nem sempre é uma questão bem resolvida. Em grande parte das vezes esses professores nem leem. Esse professor que não lê vai afastando os alunos da leitura. Muitas vezes, a leitura é cobrada apenas para fazer uma prova. [...] As crianças antes tinham contato com o quintal, que também era uma distração. Não acho que a tecnologia mudou isso. Eu acho que quem lê no Brasil é uma minoria e isso que deve ser resolvido."

Conceição Evaristo discursa sobre a literatura negra
"Por que se reconhece uma música negra e toda influência das músicas negras? Também não temos dificuldade em falar de uma culinária negra. Mas quando chega na área da literatura existe esse impasse. A literatura é vista e publicada pelas classes hegemônicas. Até hoje se tem a ideia de que esse processo da escrita tenha um lugar nessa classe própria. Mas por que não acreditar que a experiência do sujeito negro possa ser um diferencial dessa produção de texto? Por que podemos pensar numa literatura judaica e não numa literatura negra? Eu não tenho dificuldade nenhuma em afirmar que a minha experiência como negra na sociedade influência no que escrevo. Tudo está muito ligada a minha experiência como negra mineira. Para se pensar literatura negra, é preciso pensar nas forças extra literais."

Juan Gabriel Vásquez (Foto: Egi Santana/ Divulgação)

Juan Gabriel Vásquez sobre a literatura latino-americana
"Os escritores latino-americanos escrevem para saber o que é a literatura latino-americana. Os poderes nos contaram muitas mentiras. Os latinos americanos tem que viver um passado que é mentiroso ou que está esquecido por muitas partes. Os livros daqui têm, durante muitas décadas, essa urgência de definir-se como latino-americanos, pois há um continente que essa história é mentirosa em parte e tem que se corrigir essa mentira. A gente pode fazer diferente. A maravilha desta literatura é que não é solitária, que não fala de uma só coisa ou de uma maneira. Se algo sei é que temos uma vocação de reconstruir um retrato da América Latina, mas temos que competir com as mentiras dos seus governantes."

Antonio Prata e o "politicamente correto"
"Sou escritor há mais de 20 anos e é curioso o fato de as pessoas do Brasil serem preocupadas com as classes, com o que vão dizer sobre sua forma de escrever. É preciso levar em conta que o humor é uma faca de dois gumes: tanto pode servir para o bem, quanto para o mal e, claro que é preciso ter cuidado com o que se fala. Mas acho que não existe tema proibido para o humor. Até mesma a violência pode ser tema. O Vásquez é prova viva disso. É preciso, sobretudo, coragem para se tentar fazer o humor."

Ana Martins Marques (Foto: Egi Santana/ Divulgação)

Ana Martins Marques e a imagem do poeta 'isolado'
"Existe uma imagem muito comum do poeta como uma pessoa isolada e que de cerca forma precisa se destacar, precisa da solidão, indo contra a multidão. É interessante que eu tive uma infância muito próxima dessa figura. Eu era uma menina muito tímida e calada. Eu encontrei na leitura silenciosa, na relação com os livros, esse lugar que era um pouco 'meu quintal', um lugar de experiência. Eu experimentei as coisas nos livros, de forma protegida."

Ângela Vilma e os poderes da poesia
"Viemos falar sobre exílio interior e é por esses e outros motivos que prefiro estar exilada, longe desse mundo externo. Eu escrevo porque vivo em exílio. Na verdade, nem queria ter nascido para esse mundo e ele esta cada dia pior. A poesia é que me salva, a arte é que me salva. E se ainda consigo viver, é por causa disso. [...] Não tenho convicção de quais são os poderes da poesia, mas sei que ela teve um impacto muito grande na minha vida e em tudo que aprendi. É um aprendizado que nao dá para descrever, uma experiência que vale a pena. E a gente pede que as pessoas leiam mais poesia, é uma arte que muda vidas."

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