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Lixão: em Maraú, os resíduos ficam em Área de Proteção Ambiental

Lixões a céu aberto em paraísos baianos, como a Ilha de Boipeba e Barra Grande, na Península de Maraú, ameaçam o meio ambiente e estarão proibidos por lei a partir do ano que vem.

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17/09/2013 às 15:50 • Atualizada em 30/08/2022 às 0:25 - há XX semanas
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O turista que passa as férias na Península de Maraú, no Baixo Sul do estado, mal imagina. Mas ele divide belas paisagens que misturam manguezais, lagos, rios, cachoeiras e praias paradisíacas, com urubus, abutres e porcos. E com uma imensidão de lixo a céu aberto. Lixo a perder de vista.
Na alta estação, pelo menos 9 mil quilos (nove toneladas) de lixo sem tratamento são despejados a céu aberto todos os dias em um lixão que fica na península. O depósito de lixo, que não para de crescer e está numa Área de Proteção Ambiental (APA), hoje tem aproximadamente 40 mil quilos (40 toneladas) de resíduos sólidos acumulados.
Localizado na estrada entre a cidade-sede de Maraú e a praia de Barra Grande, lixão da Península de Maraú tem40 mil quilos de lixo acumulado e fica próximo de rio da região
Tudo isso a apenas 12 metros do Rio Tabatinga, um afluente do Rio Maraú que deságua em praias conhecidas da região, como Taipu de Dentro e Campinhos. O lixão fica em um esburacado trecho da BR-030, estrada que liga Maraú à praia de Barra Grande e de toda a extensão da península. Hoje, o local serve de moradia para catadores de lixo e é fonte de alimento para porcos e urubus.ContaminaçãoO chorume do lixão já contamina parte do paraíso oferecido aos turistas. “Esse chorume já vem sendo jogado no rio e poluindo os lençóis freáticos da península”, admitiu o secretário do Meio Ambiente de Maraú, Jorge Robson. Hoje, apenas a cidade-sede de Maraú, que tem um lixão próprio e fica mais próxima ao continente, possui saneamento básico. As outras nove localidades da área, que produzem resíduos despejados no lixão da península, nem sequer possuem água encanada. “A população ainda bebe água de poços”, diz.Situação semelhante vive a paradisíaca Ilha de Boipeba, que pertence ao município de Cairu, no arquipélado de Tinharé. A limpeza dos locais mais visitados por turistas chama a atenção, mas a realidade é bem diferente a cerca de um quilômetro e meio do centro da vila de Velha Boipeba, a principal da ilha.Todo o lixo produzido pelas quatro localidades da ilha - Velha Boipeba, Moreré, Cova da Onça e Monte Alegre - é diariamente recolhido por um trator da prefeitura e despejado em um lixão a céu aberto localizado no ponto mais alto da ilha. No lugar, é possível encontrar de tudo - de garrafinhas plásticas a móveis e eletrodomésticos, como geladeiras e fogões.PraiasUma montanha de lixo já se forma em frente a um córrego localizado no topo da ilha, onde vivem animais de várias espécies. “Até jacarés já foram vistos por lá”, conta a presidente da Associação de Amigos e Moradores de Boipeba (Amabo), Jussa Vasconcelos. Segundo ela, o córrego deságua no Rio Ipiranga, cujos afluentes desembocam em praias da ilha. Como o lixão fica no alto da ilha, os ambientalistas da região acreditam que parte do lençol freático do local também esteja contaminada. Sem saneamento, boa parte dos 4 mil habitantes da ilha ainda bebe água de poços.
Turistas procuram a Península de Maraú pela beleza natural da região, uma das mais bonitas da Bahia
Algumas iniciativas de educação ambiental e coleta seletiva de lixo com cooperativas de catadores já são realizadas em Boipeba, com o apoio de organizações não-governamentais, como a Pró-mar. Individualmente, pousadas também reaproveitam o lixo orgânico para produzir adubo para plantações. Mas a maior parte dos resíduos acaba sendo destinada ao lixão, o que desestimula a população a selecionar o lixo.SoluçõesHoje, o problema dos lixões acomete cada uma das três ilhas que compõem o arquipélago de Tinharé (Boipeba, Cairu e Tinharé - onde se localiza o Morro de São Paulo). Para resolver a questão, a prefeitura de Cairu pretende ampliar as iniciativas já existentes. “Queremos implementar a coleta seletiva em toda a extensão das três ilhas, produzir adubo com o lixo orgânico e revender parte do lixo para as indústrias”, disse o prefeito de Cairu, Fernando Antônio (PMDB).O prefeito pretende começar por Morro de São Paulo, que recebe mais turistas e produz um maior volume de lixo. “Em seis meses, pretendemos reduzir 40% do lixão de lá, que será extinto em um ano”, prometeu. No entanto, as ilhas de Boipeba e Cairu não deverão cumprir o prazo estabelecido pelo governo federal, na sua Política Nacional de Resíduos Sólidos, de acabar com todos os lixões do país em 2014. “A situação de Boipeba e de Cairu será resolvida em cerca de dois anos”, previu.Em Maraú, algumas iniciativas também já estão sendo realizadas. Desde março deste ano, a prefeitura começou a implementar um plano de educação ambiental e de coleta seletiva em parceria com a sociedade civil. Cerca de 40% dos resíduos despejados diariamente no lixão da península já estão sendo selecionados por catadores e vendidos em Itabuna para reaproveitamento de indústrias.
No lixão de Boipeba, no topo da ilha, é possível encontrar de tudo: desde objetos menores a geladeiras
Cerca de dez catadores moram em barracos montados no entorno do lixão da Península de Maraú. Ganham R$ 500 por mês para separar o lixo vendido. “Isso ainda é muito pouco, mas espero que no futuro, quando tudo se organizar melhor, a gente possa ganhar mais”, disse um deles, José Júnior, de 22 anos.Novo complexo hoteleiro construirá usinaO município de Maraú vai aproveitar o interesse de um grupo português em instalar um novo complexo hoteleiro na península nos próximos anos para colocar em prática ações previstas no Plano de Gestão Integrada dos Recursos Sólidos, plano que está a cargo da Conder e faz parte do projeto nacional de acabar com os lixões do país. “Denominado Espaço 21, esse empreendimento gerará emprego e renda para a região, mas, por outro lado, será o maior produtor de lixo da península”, calcula o secretário do Meio Ambiente de Maraú, Jorge Robson. Em compensação, o município exigiu uma contrapartida do grupo Américo Amorim, responsável pelo empreendimento, para solucionar o problema do lixão: a construção de uma usina de tratamento de resíduos sólidos. “A empresa já se comprometeu a financiar a construção da usina, que ficará pronta até 2015, junto com a infraestrutura de saneamento básico da península”, afirmou Robson. O secretário acrescentou, no entanto, que a prefeitura ainda aguarda a apresentação de um projeto final por parte da empresa. Na usina idealizada, todo o lixo captado em coleta seletiva na península será tratado, processado e revendido às indústrias. O complexo hoteleiro incluirá um resort, quatro hotéis (voltados respectivamente para as classes A, B, C e D), além de cinco vilas de condomínios. Com um investimento previsto de US$ 678 milhões (cerca R$ 1,5 bilhão), o Espaço 21 deverá gerar 1,7 mil empregos na região. As obras do complexo serão iniciadas em janeiro de 2014 e ficarão prontas em 11 anos. A ideia da usina surgiu porque a avaliação da Conder sobre a questão do lixo na ilha descartou a possibilidade da implantação de aterro sanitário no local.
No lixão de Boipeba, no topo da ilha, é possível encontrar de tudo: desde objetos menores a geladeiras

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