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Às 23h do dia 18 de outubro de 1983, nascia no hospital Santa Izabel, em Nazaré, um menino que 30 anos depois seria o único representante soteropolitano na Copa do Mundo no Brasil. Saudável, logo seguiu nos braços de dona Vera para o bairro da Federação. Estudioso, bom de gude, fera na arraia e também na capoeira, não deixava de mão o baba no Largo do Binóculo, ali bem na boca da Avenida Garibaldi. Entre as atividades de caixa de supermercado e vendedora de confecções, Dona Vera via com bons olhos as múltiplas atividades do filhão, sempre com o cabelo cortado baixinho na máquina. Obediente, o garoto fazia as tarefas de casa. As professoras do Colégio São Lázaro (Cabula), da Escola do Sião (Garcia) e, por último, do Odorico Tavares (Vitória), jamais precisaram mandar o típico bilhetinho pra casa. Dante era exemplo. E continuou sendo. Inventou de seguir o caminho da bola e rodou muito por essa Salvador. Pelas recordações da mãe coruja Vera, passou a jogar num time de Mussurunga. Residente numa das ladeiras próximas ao Hospital Salvador, na Federação, Dante tinha que racionar para jogar. Só tinha dois transportes por dia: ia na paleta até o Odorico e guardava o vale transporte pro buzão de ida e volta ao treino. O menino também curtia uma Fonte Nova. Chorou ao ver o Bahia levar 1x0 num dos tantos Ba-Vis. Achou que era culpa dele. Mas logo descobriu que não era azarado. O Tricolor empatou, o clássico acabou e ele voltou pra casa ainda mais sonhador com o futebol.
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Testes - A empolgação deu uma trégua após decepção num dos grandes clubes daqui. “Ele fez os testes, exame médico e teve burocracia... Desculpa a palavra, mas teve máfia, ele não tinha costa larga pra finalizar o contrato. Outro menino que tinha alguém por trás pegou a vaga dele. Não posso revelar em qual dos dois clubes aconteceu essa situação”, revela dona Vera, com uma ponta de tristeza, mas em plena felicidade pelo rumo que tomou a carreira do filho. Dante persistiu. E quem diria que o zagueiro de passagem relâmpago pelo Galícia terminaria no Bayern de Munique, na Seleção - falando bem francês, inglês e alemão? É que aos 17 anos surgiu uma chance no Capivariano, da cidade de Capivari, interior paulista. “Eu não podia pagar toda a passagem, então ele vendeu o videogame pra completar. Deixei ele no ponto em frente à descida do Garcia, ele pegou um ônibus para o Iguatemi e atravessou pra Rodoviária. Lembro que abençoei ele e fui trabalhar”, conta a mãe que, por opção, segue na descida da rua Miguel Lemos. Daqui, dona Vera viu o filho chegar ao sul do Brasil ainda nos juniores. Dante se profissionalizou no Juventude, completou o ensino médio e se casou com a gaúcha Jocelina, mãe de seus filhos Sophia, 6 anos, e Diogo, de 3. Já adaptado ao frio, não titubeou ao aparecer a possibilidade de transferência para o Lille, da França. Lá, começou a mudar o visual. “Quando ele foi pra Europa, deixou criar o cabelo. E está até hoje esse cartão postal aí (risos). Eu aprovo. Eu aprovo tudo dele”, brinca. A situação financeira começou a mudar. Dante pediu para dona Vera largar o trabalho e procurar um novo lugar para morar. Ela mudou de endereço, mas não de rua. Comprou uma casa mais acima na ladeira. “Sou simples, humilde. Aqui tenho paz, a alegria da gente. Tem minha família perto. Ir pra longe pra quê? Ia me sentir melhor aqui. Lá na casa de baixo ficou Dandara (irmã de Dante)”, explica. Nas férias, Dante aparece pela Federação, faz seu baba com os amigos, assa uma carne e curte um sambão, sempre com o pandeiro nas mãos. Depois vai pra Villas do Atlântico, onde tem casa há quatro anos. Saiu da França, foi parar na Bélgica - atuou por Charleroi e Standard Liège. Em 2008, chegou à Alemanha. Primeiro, o Mönchengladbach e, em 2012, o Bayern. Titular, recebeu o chamado de Felipão em 2013 e não saiu mais. Dante, baiano de coração, é Seleção. Matéria original do Correio
Soteropolitano no Mundial, Dante é da Federação e passou no Galícia