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Brasilino tem 78 anos e trabalha no preenchimento de lajes |
Seu Brasilino desce as escadas de madeira das
obras da Arena Fonte Nova com alguma dificuldade, mas sem tirar o sorriso no rosto. Aos 78 anos, ele se diverte com as brincadeiras dos companheiros de canteiro que gritam: "Aê, professor, vai ficar famoso!". Ali, ele se sente bem. "Admiro a turma. Ninguém briga, não abusam". Trabalhando no preenchimento de lajes, Brasilino Almeida dos Santos levanta o segundo estádio da sua carreira no mesmo lugar.
Acredite, ele participou da construção da antiga Fonte Nova, que começou no final dos anos 40 e terminou em 1951. "Com 13 anos, eu vendia verduras na Sete Portas de manhã e de tarde vinha pra cá quebrar brita para a construção", relembra. "O pessoal trazia aqueles pedras pretas lá do presídio e a gente quebrava com a marreta".
Naquela época, seu Brasilino, o quarto de 14 irmãos, passava dificuldade. "A gente tinha uma roça, minha mãe plantava cana, mas tinha dia que não tinha nada pra comer. Ela mandava eu vir vender latinhas de brita e voltar", conta, cheio de vitalidade.
Segundo ele, o valor pago para cada medida de pedras dava para comprar três pães. Além dele, duas irmãs e o pai também contribuíram para a construção do antigo estádio. Após a inauguração, o jovem Brasilino pegou gosto pelacoisa e partiupara outras cidades para trabalhar em outras obras. Rodou 19 anos pelo interior da Bahia e Sergipe. "Onde o gado bebia água, a gente bebia também".
Voltou para Salvador e passou a fazer obras em casas de família. Hoje, casado pela segunda vez, com um filho de 35 anos e morando no bairro do Doron, seu Brasilino contempla a quantidade de máquinas nas obras. "Naquele tempo, tinha, no máximo, um caminhão. É um espetáculo", diz, admirando uma das gruas. "Quando olho quase três mil pessoas e eu sou o mais velho... na outra, eu era o mais novo!", ri.
Para ele, o novo estádio vai ficar mais resistente, já que as fundações do antigo foram feitas "cavando com a mão". A obra acaba em dezembro, mas elenãopara. "Melhor que ficar em casa". Brasilino até gostaria de ver um jogo da Seleção quando a Arena ficar pronta, mas a dele é outra. "Ah, meu filho, não gosto de futebol, não. Eu gosto é de obra!".