Ben e Nellie estão em Praia do Forte, no Litoral Norte, desde segunda-feira. Ele, um dos primeiros holandeses a chegar ao Brasil para acompanhar a Laranja Mecânica no Mundial de futebol, conta os dias para a estreia contra a Espanha, no dia 13, na Arena Fonte Nova. Ela, apenas faz companhia. Aliás, sem ciúmes de sua paixão pela seleção nacional e pelas Copas. Nellie ronca um pouco, mas só quando Ben gira a chave na ignição e acelera, com todo o carinho.
Nellie, na verdade, é quase uma motorhome, uma moradia sobre quatro rodas. A carroceria, com cobertura em formato de bola de futebol, é equipada com cama. Um gigante no alto dos seus 2 metros de altura, Ben teve que cortar Nellie e soldá-la para ampliar o espaço interno.
Estacionou o veículo em um terreno ao lado de uma pousada, onde usa o banheiro e toma banho. Bastou o CORREIO aparecer para meter-se em uma indumentária laranja de doer os olhos, calçar seus tamancos “da Nike”, vestir os óculos gigantes, abrir a bandeira do Brasil e soltar sua frase preferida: “Meu sangue é laranja”.
Na estrada - Até chegarem a Mata de São João, Ben e Nellie viveram uma louca aventura que durou nada menos que cinco meses. Em janeiro, saíram de São Francisco, na Califórnia, onde ele mora há 23 anos. A bordo de Nellie, atravessou as estradas dos EUA, México, Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá. Dali, foi de barco para Cartagena, na Colômbia, de onde seguiu por Equador e Peru.
Na porta do carro, as bandeiras de todos os países que a dupla passou. “Nellie aguentou bem nas montanhas de Machu Picchu (Peru)”, lembra. “Disseram que eu chegaria ao Brasil em três dias. Mas, com Nellie, durou duas agradáveis semanas”, conta, dando tapinhas na companheira.
Entraram no Brasil pelo Acre, passaram por Rondônia e Brasília até chegar à Bahia. Uma viagem, calcula, de 20 mil quilômetros. No caminho, foi fazendo amizade com os caminhoneiros. “Agradeço muito a eles pelo apoio. Principalmente ao amigo Chico, de São Paulo. Ele me acompanhou por cinco dias. Quando nos separamos, me deu o relógio dele de recordação”, lembra.
Na Bahia, pararam um tempo em Barreiras, seguindo depois o litoral. “Na estrada, o pessoal vai indicando. Muita gente falou de Praia do Forte. Queria um lugar tranquilo antes de chegar em uma cidade grande. Aqui, acordo e dou uma nadada”.
Em todos os países que passou, foi deixando sua mensagem contra o racismo e a discriminação. “One people, one Earth” - um planeta, uma só gente -, é uma das frases estampadas no carro. Para Ben, é isso que interessa. Tanto que sequer tem ingressos para os jogos da Holanda. “Vim para celebrar a união dos povos. O futebol no final das contas serve para isso. Os olhos do mundo estão voltados para cá e esse é o momento de passar essa mensagem de unidade. Somos todos iguais”, defende.
Carro - Nem todos. Ben e Nellie são diferentes de tudo. Além de cílios enormes nos faróis, Nellie tem uma chaparia incrivelmente exótica e colorida, com adesivos, mensagens escritas à mão, fotografias e símbolos por todas as partes. Dentro, há flâmulas de clubes, camisas, chapéus e penduricalhos de todo tipo. Tem desde uma bolsa com a imagem de Bob Marley até uma foto em que estão Van Basten, Ruud Gullit e Frank Rijkaard, craques holandeses do passado.
Mas, diz quem é seu rei: “ Cruyff é nosso Pelé”. Ben nasceu em Twente, na Holanda, e torce pelo Twente FC. Seus pais morreram há 30 anos e foi adotado por um casal dos EUA. Trabalhou com portadores de deficiência mental e física, na Califórnia. “Onde tem um lugar em Salvador que faça esse trabalho com crianças? Vou lá com Nellie”, diz.
Expedição - Na Copa de 1994, Ben viu o Brasil desclassificar a Holanda nas quartas de final e ser campeão. Pela primeira vez, organizou uma expedição. Não teve o menor receio de pegar estrada sozinho. Quer dizer, com Nellie. “Quando soube que a Copa de 2014 seria no Brasil, fiquei louco. Assim que terminou a Copa da África, comecei a guardar dinheiro. Não tenho receio nenhum do contato com as pessoas”, salienta.
Arranhando um portunhol misturado com inglês, as previsões de Ben dentro de campo são positivas - pelo menos para nós. “O Brasil tem o melhor futebol do mundo. É difícil pensar em outro campeão aqui”, reconhece. Mas, não deixa de ter esperanças na sua Holanda. “Quem sabe? O futebol é imprevisível”, torce. Mas, como ele próprio diz, o que interessa é que todos falam a linguagem da bola. Matéria original: Jornal Correio* Com muita irreverência, holandês percorre 20 mil quilômetros de carro para acompanhar seleção na Bahia
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