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O grande legado para a Bahia poderá ser a infraestrutura implantada no Estado para sediar a Copa do Mundo em 2014. Uma benéfica herança que poderá se transformar em um entrave caso o governo do Estado e a prefeitura de Salvador não consigam chegar a um acordo quanto aos investimentos que devem ser feitos em aeroporto, mobilidade urbana, transporte público e porto. A ideia foi defendida pelo professor e doutor em Gestão Esportiva da Universidade de São Paulo (USP), Claudio Rocha, que participou do último dia do Agenda Bahia, realizado nesta quarta-feira (14), no auditório da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), no Stiep. Durante sua palestra “Grandes eventos esportivos mundiais: uma comparação para servir de exemplo para o Brasil”, Rocha apresentou um panorama das últimas copas e olimpíadas realizadas no mundo desde 1980. Segundo ele, copa do mundo e olimpíadas não trazem tantas vantagens ao país-sede, já que os direitos de transmissão são a maior fatia da receita de um megaevento que conta ainda com patrocínios, ingressos, licenciamento, turismo, além de dinheiro federal nos municípios. “Em uma copa do mundo, os direitos de transmissão vão 100% para a Fifa, porque o evento é dela, ela é a dona. Já em uma olimpíada, o país-sede fica com 49% e o COI (Comitê Olímpico Internacional), com 51%”, ressalta Rocha, destacando que nas olimpíadas de Atenas, o gasto estimado de US$ 1,5 bilhão passou para US$ 15 bilhões e ainda as instalações esportivas tiveram um alto custo e hoje estão sem uso. No Brasil, o gasto estimado para sediar a Copa do Mundo 2014 é de US$ 14 bilhões e US$ 14,4 bilhões para as olimpíadas no Rio. “E, certamente, o Brasil vai gastar ainda mais”, explicou citando os gastos que outros países tiveram para sediar as olimpíadas. “Em Pequim, estimaram gastar US$ 1,61 bilhão, mas acabou gastando US$ 42 bilhões. Já no Canadá, a estimativa era de US$ 120 milhões e o custo real foi de US$ 1,6 bilhão, só conseguiram pagar a conta depois de 20 anos”. Apesar de defender que existem centenas de maneiras de gastar dinheiro público que trariam um melhor retorno à sociedade do que gastá-lo em uma copa do mundo, ele aponta que o legado chave de um megaevento esportivo é o turismo que ele pode alavancar. “A escolha para sediar a Copa do Mundo já foi feita. O ponto agora não é mais pensar se vale a pena, mas buscar maneiras de aproveitar a oportunidade, tudo vai depender de como isso será feito”. Rocha afirma que Salvador já tem vocação para o turismo com suas belezas naturais e deve aproveitar o momento para alavancar o setor em todo o Estado a partir do evento esportivo. Ele cita como exemplo a Austrália, que sediou em Sydney as olimpíadas em 2000. Para alavancar o turismo no país, os australianos construíram quatro estratégias. “Os australianos viram no evento a oportunidade para alavancar o turismo no país. Primeiro, eles tentaram desconstruir a imagem a partir da imprensa de que era o país do ‘Crocodilo Dundee’ e sim um país moderno, com tecnologia de ponta. E isso pode dar certo aqui no Brasil, que é conhecido lá fora como o país das mulatas, do carnaval e do futebol”. A segunda estratégia foi captar convenções para a cidade, que pode ser feita antes e depois da Copa. “Os turistas de convenção gastam, em média, 7 vezes mais que o turista de lazer. E para conseguir sediar mais convenções, usou-se o argumento de que uma cidade que está pronta para receber um megaevento esportivo tem capacidade para sediar qualquer outro evento”, afirmou o especialista, ressaltando que, um ano antes da copa, Sydney se tornou o principal destino mundial de seminários internacionais. Outra estratégia apontada pelo professor foi minimizar a fuga de turistas diante da grande movimentação em aeroportos devido à olimpíada, o chamado “crowding out”. Conforme Rocha, a Comissão de Turtismo Australiana realizou uma campanha para informar operadores e agências de que o país estava preparado para receber turistas sem interesse na olimpíada, criando pacotes turísticos para outras cidades, antes e depois do evento, o que acabou incrementando o turismo no país. “O Brasil deve se preocupar em ter transparência em divulgar o que se faz, tem muita falha de marketing. Eu estudo os megaeventos e não sei que existe um certo tipo de serviço, então tem um erro aí”.