O vestiário do Real Madrid transmite tranquilidade nas paredes em cores brancas e azuis. Funcionam como equilíbrio aos muitos espelhos que refletem o narcisismo do maior clube do mundo no século XX, status dado pela Fifa. Quando tinha 18 anos e 19 partidas pelo Fluminense no Brasileiro, o lateral-esquerdo Marcelo sentiu como é ser um “galático” logo na primeira vez que pisou no local: o primeiro a falar com ele foi David Beckham, o mais midiático jogador do planeta em 2007.
“Ele falou o inglês dele lá, eu falei: ‘Beleza!’ (risos) Tranquilo, até meio sem graça assim. Eu saí de um lugar e vem o cara que está sempre nas revistas e tudo mais...”, lembrou-se o atleta em entrevista à TV Globo, no dia 23 de fevereiro deste ano. Ronaldo, Raul, Sérgio Ramos e Casillas eram outros companheiros que Marcelo só tinha visto pelo videogame.
Por sorte - ou por benção divina -, a forte personalidade sempre foi uma das suas maiores virtudes. “O primeiro jogo foi em São Januário. Jogou muito! Você ia reclamar e ele respondia naquele estilo: ‘Quem sabe aqui sou eu’. Personalidade da p... Era tipo Daniel Alves. Mesma coisa”, comenta o meia Preto Casagrande, que viu Marcelo estrear pelo Fluminense, em 2005, e antes tinha passado por situação parecida com Daniel Alves no Bahia, em 2001.
Marcelo estreou na derrota para o Vasco por 2x0, em São Januário - gols de Romário -, substituindo Lino por opção do técnico Abel Braga. Hoje no Vitória, Juan, o titular da esquerda, cumpria suspensão. “Você vê logo que o cara é bom. Pode até não dar certo na carreira por outra coisa, não por personalidade. Tem garoto que sobe e é caladão, tímido e some no profissional. Marcelo não. Nunca tinha treinado com a gente, porque ficava em Xerém (bairro onde treina a base do Fluminense) e era longe (das Laranjeiras, onde treina o profissional). Subiu uma vez, jogou e não desceu mais”, conta Preto, que chegou ao Fluminense após ser campeão brasileiro em 2004 pelo Santos, ao lado de Robinho.
A história de glórias do Real nunca tinha visto caso igual ao do jovem carioca, criado no bairro do Catete. Nunca um sul-americano estrearia tão rápido com a camisa branca. O desafio até hoje é do tamanho do ineditismo: fazer a torcida exigente e bem acostumada esquecer Roberto Carlos, apontado como o maior lateral-esquerdo da história do Real e titular de 1996 a 2007.
Bingo - Apostar R$ 0,25 em máquina caça níquel num bar da zona Sul do Rio é algo comum a muitos cariocas. Para Marcelo e o avô Pedro era decisão de risco. Sem dinheiro para pegar ônibus ou lanchar antes do treino pelo Fluminense, a dupla apostou tudo o que Pedro tinha no bolso naquela hora: R$ 0,25. E Marcelo ganhou R$ 25.
Boa parte da confiança do atleta tem influência do convívio com o avô, seu maior incentivador. Outra vez, no jogo do bicho, Pedro ganhou, comprou um Fusca vermelho e passou a usar o carro para levar o neto aos treinos. No braço direito, Marcelo tatuou o Fusca como homenagem ao avô.
Hoje, a cada início de temporada no Real, o lateral-esquerdo tem direito a escolher um Audi, montadora que patrocina os espanhóis, para ir aos treinos. É também um dos melhores amigos do craque português Cristiano Ronaldo, a quem ajudou a decifrar os segredos do vestiário do estádio Santiago Bernabéu, a casa do Real Madrid, onde Marcelo, aos 25 anos, se sente em casa. Matéria original: Jornal Correio* Com personalidade, Marcelo chegou ao Real para ser herdeiro de Roberto Carlos
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