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O juiz imparcial - por Paulo Leandro

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26/02/2011 às 13:37 • Atualizada em 28/08/2022 às 17:17 - há XX semanas
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Essa invenção da torcida do Vitória de bater palma e gritar o nome do juizão no Ba-Vi é um justo reconhecimento à grande importância de Sua Senhoria para o resultado de um clássico. Nada como um bom juiz para dar aquele clima diferente num baba muito equilibrado: e viva a polêmica! Só assim para entender o motivo do aplauso inédito da galera no Ba-Vi Retrô de domingo passado no Pituaço. Enfim, um juiz valorizado! Mas apesar da novidade, teve gente que ficou com sensação de túnel do tempo. “Pareceu um Ba-Vi da Era A.C., antes de Carneirão”, compara, meio na noia, o leitor Fernando Sampaio.

“Virão outros”, viu ele, na bola rubro-negra de cristal. Conhecedor da história do futebol baiano, o angustiado Fernando botou sua juba de molho. Mas tem mesmo algum risco de retrocesso ou é muita viagem do amigo? Sempre espirituoso, o grande guru da crônica esportiva, Nelson Rodrigues, pode ajudar. Ele perguntava o que seria do futebol sem os erros de arbitragem. Que tédio, já pensou, tudo justo, certinho!

No texto ‘O juiz ladrão’, Nelson, que era torcedor do Flu do Rio, lembra uma severa lei da compensação: “existia um juiz que era um canalha em estado de pureza, de graça, de autenticidade. Um domingo, ele vai apitar um jogo decisivo. Que fazem os adversários? Tentam suborná-lo. Ora, o canalha é sempre um cordial, um ameno, um amorável.

E o homem optou pela solução mais equânime: — levou bola dos dois lados. Justiça se lhe faça: — roubou da maneira mais desenfreada e imparcial os dois quadros. Ao soar o apito final, os 22 jogadores partiram para cima do ladrão. Mas o gângster já se antecipara, já estava pulando muros e galinheiros. Era uma figurinha elástica, acrobática e alada. Isto foi em 1917. O juiz gatuno está correndo até hoje”.

Vejam bem, vale repetir, este juiz só existia em 1917. Do Flu de Nelson para o Fluminense de Feira, homenageado no escudo acima, a torcida do Touro pode ficar tranquila no Joia amanhã. É a chance do Flu retribuir as gentilezas do Bahia durante o jejum feirense que já dura, só fazendo as contas, quem ganhou título em 1969, estamos em 2011... 42 anos na fila, confirmem!

O Touro tem nos chifres a chance de furar o tórax do SuperMan, ali mais ou menos onde temo S desenhado. Uma vitória do Flu deixa o Bahia com o pé na cova do Torneio da Morte, na briga contra o rebaixamento. Rebaixamento estadual. A Falange tá doida pra gritar: - Uh, elevador! Sobe o galicinha, desce o tricolor! Como já se sabe, o Bahia de Salvador mantém-se em quinto lugar de seu grupo, mesmo depois dos 2x0 no Ba-Vi Retrô. O time da 1ª não pode dar vacilo no Joia.

Amanhã, se o juizão cometer alguma falha, sem querer, claro, pois errar é humano, poderia lembrar da crônica de Nelson e aplicar a lei da compensação. O importante é manter a imparcialidade, errando para os dois lados. Então, ficamos combinados: errou, basta compensar. Errando pros dois times, não tem problema. Vamos ver se a torcida feirense saberá reconhecer a atuação do bom juiz com os merecidos aplausos. Já tava na hora de alguém dar valor ao cara do apito!

Paulo Leandro é Secretário de Redação e escreve aos sábados. Coluna publicada na edição impressa do jornal Correio* do dia 26 de fevereiro de 2011

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