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Teste de esforço é fundamental para prevenir excessos |
Preste bem atenção nas fotos. Em dois meses, eu quero, e vou, estar bem diferente. Não se trata de bravata, mas compromisso. A ideia não é nova, mas foi adaptada. Em 2011, Daniela Leone, colega de redação e amiga de longa data, estreou um desafio: em dois meses, treinou e completou os 10 km da
Meia Maratona Caixa/Correio. Mais de dez anos nos separam, sem falar na diferença de condição física. Eu sei, marmanjada, acompanhar as peripécias de Dani foi bem mais interessante do ponto de vista estético. Mas, como diz o título, o desafio agora é outro. Quem se apresenta, com a cara, a coragem e muitos quilos de sobra, é um jornalista prestes a completar 42 anos, pai de família que nos últimos anos tem tentado, em várias oportunidades, perder peso e levar uma vida saudável. Cirurgia no joelho, dores crônicas na coluna - tudo fruto do excesso de peso, rotina de trabalho e algum relaxamento - sempre estancaram o processo no meio do caminho. Agora, terei um prazo e todo o suporte necessário para atingir o objetivo. Mas, as metas são ousadas e o tempo, curto.
Família - Os números dos testes e exames médicos preliminares apontam a necessidade de uma mudança drástica. Mas, é no histórico familiar que reside o maior motivo de preocupação. Pai infartado, mãe hipertensa, tios com infarto e derrame nos dois ramos da família. Tudo isso potencializa o risco de doença cardiovascular. E a família, a que eu constituí, é o maior motivo para não desistir. Minha filha, Alícia, 10 anos, deu de ombros, desdenhou do desafio. "Vai correr 10 quilômetros? Ah, que legal", ela disse. Não imagina que cada quilômetro percorrido pode me dar alguns anos a mais para embalar os meus netos, os filhos que um dia ela terá. É nisso que quero acreditar.
INSCREVA-SE NA MEIA MARATONA DA BAHIA; PROVA ACONTECE NO DIA 22 DE JULHO Ressalvas - Para aceitar o desafio, é lógico que pesei vários fatores. Afinal, o risco de não conseguir é real. Não é possível prever como será minha evolução e lesões não estão descartadas. A coluna, sobretudo, pode gritar. Além disso, estampar as páginas do jornal é, pra mim, a quebra de um paradigma, um tabu. Desde que me entendo por jornalista, aprendi que nós não somos notícia. Vincular a própria imagem a um projeto como esse é uma faca de dois gumes, e bastou ver as fotos do meu teste de esforço na redação para ter a certeza do imenso risco que a partir de agora corro de me tornar motivo de chacota. É nesse momento que penso no porquê de tudo isso. Tá certo, eu nunca consegui levar à frente um programa de emagrecimento. Mas, poderia muito bem fazer tudo que estou fazendo agora sem me tornar um "personagem". Acontece que, se nas próximas semanas, quando estarei com alguma regularidade relatando minha evolução, eu conseguir inspirar outros a mudarem suas vidas, terá valido a pena. O que só aumenta a a minha responsabilidade. No que depender de mim, prometo vontade e dedicação. Em dois meses, saberemos o resultado dessa aventura.
Exames garantem condição pra começar |
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Cardiologista Luiz Ritt mede a circunferência da cintura |
Desafio sim, loucura não. Antes de bater o martelo quanto à minha participação na
Meia Maratona da Bahia Caixa-Correio, todos os cuidados foram tomados. A prova este ano tem três distâncias, 5, 10 e 21 quilômetros, e será disputada totalmente à beira-mar. Logo surge a pergunta: por que não correr os 5 quilômetros? A resposta é óbvia: a ideia é provar que é possível repetir o feito de Daniela. Então, vem a outra pergunta, agora mais difícil: eu aguento correr 10 quilômetros com apenas dois meses de treino? O responsável pelo programa de treinamento, professor Diogo Andrade, diz que sim. Mas, com muito comprometimento e uma rotina intensa. Resta saber se o corpo suporta essa mudança de hábito em tão pouco tempo. Exames de sangue, avaliação física, teste de esforço, eletro e ecocardiograma fizeram parte da preparação pré-desafio. Alguns dados preocupam, como o índice de massa corporal de 31,6 - que indica obesidade grau 1. A cintura com 107 centímetros também é motivo de apreensão. A gordura acumulada nessa região é a principal responsável por problemas cardiovasculares. A meta é reduzir para menos de 94 centímetros num primeiro estágio.
Desconfiança impera, mas não falta apoio O desafio que apresentamos neste domingo começou, de fato, há 12 dias, quando Diogo deu o parecer sobre a viabilidade do quarentão aqui correr os 10 quilômetros. A última semana foi de exames e consultas, e também de muita piadinha e provocação. "Ele não aguenta!"; "vai desistir!"; "ele para no meio do caminho!". Houve até quem dissesse que eu poderia morrer na prova. Não é invenção, eu lembro o nome de cada um que disse essas frases. Pra ser sincero, o próprio treinador, Diogo, sugeriu que eu poderia caminhar durante a prova e dar um piquezinho na chegada, só pra completar. Na boa, até chateia, mas procuro tomar como incentivo. Porque de outro lado, em menor número, é verdade, existem os que apostam no meu sucesso desde o primeiro momento. Engraçado mesmo é ouvir as pessoas dizendo que agora minha geladeira vai ficar cheia de salada e que leite lá em casa vai ser só desnatado. Nada diferente do que já é. Sempre comi salada e lá em casa não entra leite integral. Difícil mesmo é tomar café sem açúcar.
CONHEÇA O BLOG PAPO DE CORRIDA E VEJA DICAS DO TREINADOR DIOGO ANDRADE Fatores de risco exigem cuidados O problema começa na balança, depois a fita métrica confirma os números alarmantes. Batimentos cardíacos, consumo de oxîgênio e exames de sangue completam o diagnóstico. E, surpresa! Nem tudo é negativo. Na avaliação física com Danilo Haun, da Sportlab assessoria esportiva, a minha resistência abdominal é considerada excelente, após 37 flexões em um minuto. A classificação por somatotipo - composição do corpo definida pela genética - mostra predominância de massa magra (41%), o que é um bom indício para perder peso. A pressão 12 por 8 é a exceção no diagnóstico clássico de síndrome metabólica. Sobrepeso, aumento da cintura e colesterol alto pesam contra. No sangue, o colesterol total é de 251, muito acima do limite de 200. O HDL, o bomcolesterol, está em 39, quando o mínimo seria 40. E o mau, com taxa de 185, assusta qualquer cardiologista. A meta é baixar de 130, o ideal é menos de 100. Para o cardiologista Luiz Ritt, do Instituto Pró-Cardíaco, a capacidade física apurada no teste de esforço foi surpresa. Apenas "um pouco abaixo do normal para uma pessoa do seu peso e idade". O eletrocardiograma sem alterações ou indicação de isquemia nem arritmia é outro ponto positivo. Mas, para conseguir baixar os índices de gordura no sangue e reduzir os 10 quilos necessários, treino só não adianta. Aí entra o nutricionista Thiago Onofre, da Redenutri, que já montou o cardápio (abaixo), abraçou a causa, mas adverte: "Mesmo que você emagreça rápido, algumas coisas demoram a mudar no sangue".
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