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Tratamento desigual frustra voluntários da competição em Salvador

Cerca de 1,5 mil trabalhadores reclamam das condições de trabalho a que estão submetidos ante aos voluntários da Fifa

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18/06/2013 às 10:09 • Atualizada em 30/08/2022 às 13:00 - há XX semanas
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O estudante Roberto Santos Júnior, 19 anos, tem uma semana que não vê a própria mãe. A professora Karlla Miranda da Costa, 31, desembolsou mais de R$ 1 mil em passagens de ônibus. O jornalista pós-graduado Diogo Vasconcelos, 27, vai passar 12 horas em pé apenas apontando o portão de saída. A guia turística Gisliane Lopes da Silva, 32, vai levar as mesmas 12 horas proferindo sempre a mesma frase: “seja bem-vindo, a entrada é por ali”. Como se vê, essas pessoas têm algo em comum: elas se sacrificam. A questão é: Pelo que? Aí entra o outro aspecto em comum. Todas vão ter o mesmo ganho, a mesma vantagem: nenhuma. Pelo menos não financeira. Lucro? Zero. Os voluntários da Copa das Confederações estão prontos para doar o seu tempo e sua disposição. No total, em Salvador, serão cerca de 1,5 mil. Mas, no país das desigualdades, existe uma polêmica divisão entre eles. É que há dois tipos de voluntários no evento. Os voluntários do Comitê Organizador Local (Col), com supervisão da Fifa, e os voluntários do programa Brasil Voluntário (BV), do Ministério dos Esportes. Digamos que os primeiros são a Série A do voluntariado. Os demais, por sua vez, foram claramente relegados à segunda divisão.
Os voluntários do BV, mais de 570, reclamam de desorganização. Do uniforme que vão receber nesta terça à alimentação, se consideram desprestigiados. “Basta olhar para os da Fifa, vestidos pela Adidas. Nos prometeram casaco e tênis e vamos receber apenas uma camisa simples com uma sacolinha e um boné”, diz o jornalista Diogo Valadares. A bronca vai além da roupa. Pós-graduado, Diogo diz que nada do que foi questionado na hora do cadastro foi levado em conta. “Perguntaram em que área eu gostaria de atuar. Disse que queria trabalhar com mídia. Aí me botam para dispersar o torcedor”, afirma. Até segunda, boa parte dos voluntários do governo federal diziam não ter recebido a escala e local de trabalho. “Estamos completamente perdidos. Nossa camisa parece um abadá”, ironiza o estudante Emerson Sant’s, 19 anos. Uma página de voluntários do BV no Facebook se tornou local de protestos. Um deles contra o valor que vai ser pago pela alimentação: R$ 15 por dia. Acontece que o dinheiro só poderá ser resgatado depois do evento, no caixa do Banco do Brasil. “Não dá nem para comer um sanduíche decente”, critica uma voluntária. O descaso contrasta com o empenho. Muita gente chega a tirar do próprio bolso para trabalhar de graça. A guia turística Gisliane Lopes, que mora em Itabuna, Sul do estado, calcula ter gastado R$ 1,5 mil em transporte e alimentação para participar dos treinamentos. “Isso porque fiquei na casa de parentes em Salvador”. Impecáveis - Os voluntários Fifa, que serão mais de 900 na capital baiana, já estão atuando. Impecáveis, usam meias, tênis, calça, camisa, casaco e boné Adidas. “Ainda recebemos kit higiene, protetor solar e band-aid”, enumera Karlla Costa, que trabalha na entrega de ingressos, no Iguatemi. A alimentação do voluntário Fifa é feita com cartão de débito com R$ 24 por dia. “Também temos chocolate, refrigerante e água à vontade”, gaba-se.
Até mesmo os locais onde ficam são motivo de discórdia. Enquanto 80% dos voluntários Fifa vão ficar dentro e no entorno do estádio, além dos hotéis das delegações, a maioria dos voluntários BV serão deslocados para aeroporto, rodoviária, postos de gasolina e pontos turísticos. Apesar de satisfeitos, os voluntários Fifa não são menos sacrificados. Para participar dos treinamentos, Karlla tinha que vir de Una, a mais de 500 quilômetros de Salvador. “Devo ter gastado mais de R$ 1 mil”, diz ela. Já Roberto Santos Júnior está quase sem dormir há semanas. Depois da faculdade pela manhã, vai direto para o voluntariado à tarde. Aí ainda tem o estágio à noite. “Cochilo no ônibus. Tem uma semana que não vejo minha mãe”. 'Queixas são reais', diz assessora da Secretaria da Copa na BahiaA assessora especial de planejamento da Secopa e representante do Brasil Voluntário em Salvador confirmou que as queixas dos voluntários do programa são reais. “Realmente houve alterações no caminhar do programa, e isso frustrou o pessoal”, disse Mônica Baqueiro. Mas a assessora informou que apenas o Ministério dos Esportes poderia explicar os motivos das mudanças. Mais de 6 mil voluntários vão atuar na Copa das Confederações em todo o país. Segundo Rodrigo Hermida, gerente de voluntários do Comitê Organizador Local (Col), a previsão é de que na Copa do Mundo de 2014 esse número fique entre 15 e 18 mil. “No Brasil sobra boa vontade, sorriso, comprometimento e esforço”, diz Rodrigo. “Uma coisa é certa. Sem os voluntários, um evento dessa magnitude seria impossível”. Voluntários tiveram treinamentos online e presenciais para a CopaSejam os voluntários da Fifa ou do Ministério dos Esportes, todos passaram por treinamentos. Inicialmente, online e depois presenciais. Além de hospitalidade, era preciso conhecer de atendimento, ética, segurança, mobilidade história das cidades-sede e das Copas, e informações sobre o evento. No caso dos enviados para áreas específicas, como o aeroporto, havia treino nos próprios locais. “O voluntário é aquele que conhece o evento e a cidade. Sabe ajudar o turista a se locomover”, explica Mônica Baqueiro, assessora de planejamento da Secopa e representante do Brasil Voluntário na Bahia. Para ser voluntário, basta ter mais de 18 anos, residir no Brasil e ter disponibilidade de horário. Foram levados em conta os idiomas que domina, experiência em voluntariado, formação e cursos. VOLUNTÁRIO FIFAQuantidade Entre 900 e 1 mil espalhados por diversos pontos da capital baiana Uniforme Tênis, meias, calça, casaco, camisa e boné da Adidas, além de kit higiene Alimentação Têm direito a R$ 25 por dia em cartão de débito aceito em diversos restaurantes Locais 80% deles no estádio e seu entorno, além de hotéis e campos das delegações VOLUNTÁRIO BVQuantidade 570 em toda a capital baiana Uniforme Camiseta, sacolinha, boné e crachá Alimentação Têm direito a R$ 15 por dia. Mas o dinheiro só poderá ser resgatado após o evento, no Banco do Brasil Locais Atuam principalmente no aeroporto, rodoviária, postos de gasolina, pontos turísticos e entorno da Arena Fonte Nova

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