O francês Pierre Fauchard, que viveu entre os séculos XVII e XVIII, é considerado o pai da odontologia moderna, mas o tratamento de doenças dentárias começou muito antes, ainda durante a pré-história. É isso o que mostra um estudo conduzido por uma equipe internacional de arqueólogos, que descobriu evidências do uso de ferramentas para o tratamento de cáries em dentes datados de 13 mil anos atrás.
O estudo, publicado recentemente no periódico “American Journal of Physical Antrhopology”, analisou dois dentes incisivos superiores encontrados há cerca de 20 anos numa região montanhosa da Toscana, na Itália. Os pesquisadores encontraram buracos “escavados”, provavelmente com ferramentas de pedras afiadas, até a polpa dentária, num procedimento que deve ter sido muito doloroso.
"Isso é bem diferente, não é algo que você vê num dente normal", disse Stephano Benazzi, arqueólogo da Universidade de Bologna e coautor do estudo, em entrevista à “New Scientist”.
Os cientistas relataram arranhões e outras marcas nas paredes internas dos dentes, indicações claras de que algo, além da mastigação aconteceu. E as análises mostraram que esses buracos foram preenchidos com betume — um material viscoso utilizado atualmente na produção de asfalto e, na antiguidade, para unir partes de uma ferramenta — e um tipo palha, provavelmente cabelo, num procedimento parecido com as atuais obturações.
“Os resultados são consistentes com manipulação realizada com ferramentas para remover a polpa necrosada ou infectada durante a vida, e o uso subsequente de um composto para preenchimento”, dizem os pesquisadores.
O betume servia para tapar a cavidade, enquanto a palha, provavelmente, fornecia alguma ação antisséptica. Os pesquisadores dataram os dentes, de um homem adulto, entre 13 mil e 12.740 anos atrás, período anterior ao surgimento da agricultura. Dessa forma, dizem os cientistas, ele viveu antes do período em que as pessoas começaram a ter dietas ricas em carboidratos, e, consequentemente, a ter mais cáries.
A mesma equipe já havia descoberto um outro dente na Itália, datado de 14 mil anos atrás, com uma cavidade escavada até a polpa, que é considerado o mais antigo exemplo tratamento dentário, mas a nova descoberta é o primeiro indício de preenchimento dos buracos abertos. Os arqueólogos destacam que trata-se dos dentes de apenas um indivíduo, uma amostragem mínima, mas essas duas evidências apontam que a prática de escavar e preencher dentes careados era comum na pré-história.
Veja também:
Leia também:
Redação iBahia
Redação iBahia
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!