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Puxe o ar e sinta. A um mês de sediar um dos maiores eventos do planeta, Salvador ainda não respira Copa do Mundo. Olhe ao redor. Do Farol da Barra ao Mercado Modelo, de Itapuã ao Pelourinho, quase não há vestígios de que muito em breve a capital baiana será invadida por milhares de torcedores apaixonados. Repare. No Aeroporto ou na BR-324, principais entradas da cidade, nada.Os únicos sinais estão na Praça Municipal - um letreiro gigante com a inscrição “Salvador”, pintado nas cores das seleções que aqui vão jogar -, e no Dique do Tororó - o relógio em forma de bola de futebol com a contagem regressiva. Além, claro, das iniciativas das comunidades dos bairros, que ainda planejam de que forma vão deixar as ruas pintadas de verde e amarelo. (Ver página ao lado). No mais, a cidade está longe de ter cara de Copa.A prefeitura nega qualquer atraso e garante: a decoração oficial vai surgir poucos dias antes do Mundial e cumprirá as exigências da Fifa. Mas, de confirmado mesmo, apenas 1,1 mil galhardetes, aqueles estandartes presos nos postes. Metade deles é de responsabilidade da Fifa. A outra metade ficará com o Escritório Municipal da Copa (Ecopa). Também não foram definidos leiautes dos galhardetes e as ruas e avenidas em que eles serão instalados.O secretário da Ecopa, Isaac Edington, promete também a instalação de outdoors temáticos, empenas - os painéis de lona instalados nas laterais dos prédios - e mobiliários urbanos decorados, mas ainda não se sabe sequer a quantidade deles. Um terço de toda a decoração é de responsabilidade da Fifa e de patrocinadores. O restante é com a prefeitura. “Triplicamos a decoração protocolar do plano”, diz.O secretário se refere ao chamado Plano de Decoração que consta no Acordo de Cidades-Sede, assinado entre a prefeitura e a Fifa. O Plano de Salvador estaria em fase de finalização, alinhado com agências publicitárias. Por isso, o orçamento, os valores gastos, não foram divulgados. “Mas não é nada absurdo”, destaca. O secretário garante que está tudo dentro do cronograma previsto. As peças devem chegar no final deste mês. “O período que se considera de mídia exterior é a partir do dia 26 de maio. Dia 23, as peças devem estar chegando. Vai ter toda a parte de galhardetes, outdoors, empenas. Em primeiro de junho deve estar tudo no lugar”, adianta.
Espetacular - Edington admite, porém, que os elementos decorativos poderiam ser mais exuberantes, principalmente os que dependem de patrocinadores e não da prefeitura. Isso porque a existência das chamadas mídias espetaculares, painéis e bonecos gigantes geralmente colocados nas entradas das cidades-sede e pontos turísticos, está quase descartada.Na Copa do Mundo da Alemanha, por exemplo, um enorme Oliver Kahn (goleiro da seleção alemã à época), fazia uma ponte atravessando de um lado a outro de uma avenida. Em Salvador, encontrar peças como essa será difícil.“Mídias espetaculares vão além das exigências da Fifa e dependem muito de parcerias público-privadas. São coisas que são definidas mais próximo do evento, de acordo com os próprios patrocinadores e seus orçamentos. O que depender da prefeitura, vai ser realizado”. Mas, o secretário chama a atenção para um detalhe. Os patrocinadores estariam receosos em fazer esses altos investimentos por conta de possíveis ações de vândalos em manifestações.“O sentimento que a gente tem do patrocinador é que isso, de certa forma, tem prejudicado. Eles se sentem menos à vontade de fazer mídias espetaculares, talvez pela inibição ao investimento pesado pelo receio da manifestações. De certa forma, isso inibe porque o investimento é muito grande”, acredita Edington.Ao CORREIO, o Departamento de Imprensa da Fifa confirmou que o Acordo de Cidades-Sede deixa claro apenas a obrigação de ser desenvolvido um Plano de Decoração que incorpore as marcas da competição. A entidade seria responsável pelo design, produção e entrega do programa de decoração, que tradicionalmente é composto por cerca de 350 galhardetes em cada cidade. “A concepção e a produção de decorações adicionais ficam a critério da sede, de acordo com o seu interesse em expressar o orgulho por ser anfitriã da Copa, estimulando o entusiasmo em torno do evento”, diz a nota da Fifa. A cidade-sede deve disponibilizar espaços para a implementação do plano, como postes de iluminação, outdoors, fachadas de edifícios, pontes e meios de transporte. Após a entrega do material, é responsabilidade da sede instalar, cuidar da manutenção e removê-lo. A manutenção, aliás, é uma preocupação. No ano passado, antes da Copa das Confederações, o mascote do mundial ganhou as formas gigantes de um boneco inflável e foi instalado no Farol da Barra. O imenso Fuleco, porém, não suportou os ventos no local e caiu.
Comunidades se mobilizam para decorar as ruasJá que a decoração oficial ainda não está bem definida, o jeito é confiar nas comunidades dos bairros de Salvador. Nestas, o verde e o amarelo são certos. Ribeira, Liberdade, Federação, Macaúbas e Acupe de Brotas são algumas localidades em que a decoração durante as Copas do Mundo é tradicional.Enquanto as autoridades ainda definem gastos e patrocínios, o comerciante Mozart da Silva, 48 anos, nascido e criado no Acupe, já tem seu orçamento. No total, a rua de 1,2 quilômetro vai gastar R$ 2,8 mil, quase R$ 1,5 mil a mais que na Copa passada. Serão 130 quilos de plástico, 15 pacotes de tinta, 20 rolos de cordão, 50 bandeiras, dois toldos e uma televisão de 46 polegadas.“A TV tá fora do orçamento. Ficou por minha conta”, avisa Mozart, que decora a rua desde a Copa de 1986. O prazo estabelecido para começar a instalação é dia 30. “Não dá para colocar antes porque o material é frágil”, explica. A fonte do investimento, como acontece de quatro em quatro anos, são os vizinhos. “Não existe essa história de que não tem clima de Copa. Na hora ‘H’, o negócio toma conta da gente e todo mundo torce pela nação”, confia.
Natal se destaca nos enfeites e já vive o clima de Copa do MundoEm termos de decoração e clima, as outras cidades-sede seguem o mesmo ritmo de Salvador. De Porto Alegre a Manaus, todas parecem ter colocado o pé no freio em relação aos gastos. São Paulo enfrenta as leis contra a poluição visual do Projeto Cidade Limpa, que impede a implantação de grandes painéis publicitários. Ao que parece, só há uma exceção: Natal.O município resolveu investir pesado nos enfeites, que desde abril já aparecem nas ruas. A prefeitura local garante que tudo foi feito dentro da lei. Isso porque, explica a Secretaria de Serviços Urbanos local, a decoração para a Copa foi colocada na licitação para a decoração e iluminação natalina do final do ano passado. Assim, Natal pôde gastar R$ 1,6 milhão em peças.Boa parte delas, aliás, bem iluminadas, já que são instaladas pelo Departamento de Iluminação. A Ponte Newlton Navarro vai ganhar iluminação em RGB, as avenidas terão cordões de LED e os prédios projetores verde e amarelo. Isso sem falar nos galhardetes, bandeiras, timbres das seleções, vitrais e grandes painéis. “Nossa fonte de custeio foi a Iluminação Pública. Tudo legal. Com a decoração, você fomenta o comércio. Isso gera ICMS e ISS”, acredita o secretário adjunto, Sérgio Pignataro. Matéria original: Jornal Correio*
Ainda sem clima de Copa, Salvador deve empolgar com decoração