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SALVADOR

Carente de segurança e de serviços,Subúrbio diz o que quer

Disputada por candidatos, quer ser ouvida pelo novo prefeito e sonha em ter mais que uma bela vista para a Baía de Todos os Santos

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14/10/2012 às 17:46 • Atualizada em 02/09/2022 às 5:26 - há XX semanas
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Para contemplar o paraíso, você provavelmente tem que ir à praia do Porto da Barra, atravessar o ferry ou pegar estrada rumo ao Litoral Norte. A comerciante Ana Lúcia Ramos, 34 anos, só precisa se debruçar na janela do quarto. Ela mora no alto de uma encosta em Plataforma, Subúrbio Ferroviário. Dali, vê muito mais que o amontoado de barracos. Enxerga um futuro tão rico quanto a Baía de Todos os Santos a sua frente. “Com esse marzão, a gente esquece do que é ruim e tem certeza que a vida desse povo vai ser melhor”, antevê. Alvo de um descaso secular, o Subúrbio de Ana Lúcia vira estrela nas eleições. No final das contas, é aquela região, com 22 bairros e mais de 800 mil pessoas, que ajuda a decidir o placar nas urnas. Mas, de onde vem o otimismo de Ana Lúcia? Nascida e criada em Plataforma, ela sabe que seu povo não está mais tão preocupado com cesta básica ou saco de cimento. “Nesse período, a gente fica à mercê desses ‘vereadorezinhos’ que dão telha e brita por aí. Meu voto eles não têm e muita gente já pensa como eu”, avisa. O povo do Subúrbio, diz Ana Lúcia, quer lazer, educação, saúde, iluminação e transporte de qualidade. O povo do Subúrbio quer acesso à informação. Quer ser ouvido. Não se engane o novo prefeito. A população que tem a melhor vista pro mar da capital baiana está cada vez mais antenada. E disposta a cobrar. “Boto meu sobrinho na frente do computador e depois pergunto a ele as principais notícias do Brasil e do mundo”, conta Ana Lúcia.
Quanto mais informação, mais firme a cobrança. Ana Lúcia tem muitas exigências a fazer ao novo prefeito. Plataforma não tem, por exemplo, um posto de saúde. Mas esse não é um ‘privilégio’ do bairro. São apenas 17 unidades de atendimento em todo o Subúrbio. Um posto de saúde para cada 47 mil pessoas, além de um hospital. “Também não temos mais creche. Fechou tudo. Aí os doentes têm que ir para Itacaranha e as mães não têm onde deixar seus filhos”, reclama a comerciante, dona do sugestivo Boa Vista, misto de mercadinho e bar que fica no andar de baixo do seu imóvel, de onde, durante o Verão, se vê o sol se deitando no horizonte. “O pessoal para aqui antes de ir no Boca de Galinha (restaurante). É artista, político e tudo quanto é gente famosa tirando foto da vista”, diz ela. TransporteMas, se você não tiver carro, fica difícil provar o sabor dos pratos do Boca de Galinha ou até registrar uma imagem lá do alto. É que, aponta Ana Lúcia, o sistema de transporte coletivo no Subúrbio é precário. Apenas duas empresas - Boa Viagem e Praia Grande - atendem a região. Há mais bairros no Subúrbio do que linhas de ônibus, que totalizam 15. “Aqui em Plataforma só tem três linhas. O resto só andando até a Suburbana”, aponta. “Tô aqui sentado há 50 minutos e nada do ‘Ribeira’. Não tem hora certa de passar”, reclama Antônio Fernandes, 52 anos, sentado no meio-fio de um ponto de ônibus em São Thomé de Paripe. Sua única distração é admirar uma das mais belas praias da cidade. Que dizer, então, da falta de lazer? “Não tem quadras ou parquinhos para crianças. As praças do Subúrbio viraram lugar de competição de som de carro”, diz Ana Lúcia, que enxerga no lazer uma forma de manter os jovens com a cabeça ocupada e não se juntar à criminalidade. Esse, não por acaso, é apontado como o maior problema da região. “Os meninos aqui não tão para brincadeira. O tráfico mata por minuto”, afirma Carlos Henrique de Souza, 40 anos, apressado para pegar o trem na estação do Lobato.
ViolênciaNaquela localidade, aliás, já ocorreram 37 homicídios somente este ano. Em número de assassinatos, o Lobato é primeiro colocado em todo o Subúrbio Ferroviário, que, segundo levantamento da Secretaria da Segurança Pública (SSP), registrou 197 homicídios em 2012. As duas Bases Comunitárias de Segurança, uma em Fazenda Coutos e outra em Rio Sena, não são vistas como solução definitiva. Para combater a violência de verdade, o Subúrbio quer boas escolas. Atualmente, são 70 instituições de ensino municipais e 32 estaduais. “Mas não adianta se o ensino é ruim ou se tem muita greve”, pontua Ana Lúcia, que oferece reforço escolar para jovens do bairro. “Concluí o segundo grau e parei para trabalhar. Mas nunca deixei de estudar. Sei matemática, português, química, qualquer matéria. Ano que vem vou fazer cursinho para tentar vestibular”. O futuro prefeito tem que ficar ligado nas chuvas. Devido à topografia, o Subúrbio é uma eterna área de risco. “Tem casa se pendurando nos morros desses bairros”, observa Ana Lúcia. Que o diga o pessoal da Rua de Deus, em Paripe, que em 2009 viu 40 casas serem destruídas por um aguaceiro. “A chuva não tem culpa. As pessoas constroem as casas em lugares perigosos e a prefeitura não faz nada. Tem que fazer encosta. Cai uma gota d´água e a gente fica com medo”, diz Zenaide Santana, 44, que assistiu 40 vizinhos da Rua de Deus perderem tudo. Ana Lúcia não tem carro. Mas não sabe se lamenta ou comemora. Reclamação geral no Subúrbio é a buraqueira nas ruas. Crateras engolem as suspensões de carros como o Gol 2002 do militar aposentado Jorge Luiz Oliveira. “Meu carro anda na revisão a cada seis meses. Já perdi muito pneu”. Mais que buraco, o problema do Subúrbio é de trânsito. Trafegar na rua Frederico Costa, em Periperi, é uma aventura: as pessoas dividem espaço com carros, ambulantes e até uma feira livre. “Tem que ordenar o comércio, melhorar calçadas e sinalizar o trânsito. Tá vendo essa escola? Tá aí há anos e nunca colocaram uma faixa de pedestre na frente”, indica o morador Edgar Sampaio. Parece que o novo prefeito tem muito a fazer. Mas, conclui Ana Lúcia, o Subúrbio precisa do básico. Nada além do que qualquer ser humano necessita para viver com o mínimo de dignidade. “Basta ter vontade”, encerra.

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