O mundo é dividido em dois hemisférios. Salvador, em dois candidatos. Ao final do primeiro turno, uma linha do equador eleitoral separou politicamente a cidade. ACM Neto (DEM), com 40,17% dos votos válidos, e Nelson Pelegrino, com 39,73%, ficaram praticamente empatados. A diferença, de menos de 6 mil votos em mais de 1,5 milhão de eleitores que foram às urnas, mostra que o mapa da capital está inserido no atlas de uma acirrada disputa. O CORREIO montou o mapa ao lado com o resultado de cada zona eleitoral. Na geografia de bairros, colégios e seções, duas zonas eleitorais simbolizam bem o que foi o resultado da primeira fase das eleições. Na Zona 5, que envolve os bairros do Cabula, Pernambués, Saboeiro e Saramandaia, a disputa entre os dois se mostrou a mais firme entre todas as 20 zonas eleitorais. Ali, Pelegrino (23.501 votos) superou Neto (22.869 votos) por apenas 632 ‘confirmas’. Veja também ACM Neto critica pesquisa de boca de urna: "O Ibope errou feio" Nelson Pelegrino quer Lula e Dilma na busca de apoios Conheça os prefeitos eleitos nos municípios da Bahia Renovação: Salvador troca mais da metade de seus vereadores nas eleições Não é preciso conhecer gráficos ou cartografia para perceber que Pernambués, por exemplo, é um bairro dividido dentro da Zona 5. Uma rápida circulada pela Praça Arthur Lago, na avenida Tomaz Gonzaga, e os grupos políticos começam a aparecer. Os mototaxistas, que têm ponto na frente da praça, parecem fechados com ACM Neto. “Se você tivesse um filho, gostaria que ele ficasse quatro meses em casa sem ir para a escola?”, perguntou, logo de cara, Raildo da Silva, 25 anos, ainda descendo da moto para falar sobre política. “Pois é. Estamos cansados do PT. Aqui na Bahia, um governador que não faz nada. Lá fora, o mensalão”, escaldou Paulo Roberto. Os colegas Paulo Roberto Conceição, 25, e Luciano Santana, 37, se aproximam com argumentos semelhantes. “Essa obra que Dilma fez aí na Rótula do Abacaxi ficou uma porcaria. O trânsito continua um caos. O abacaxi virou pepino”, atestou Paulo Roberto. “Neto é um cara jovem e tem vontade de mudar o que tá aí”, concluiu Luciano.
Atravessando a rua, o discurso é oposto. Os ambulantes que povoam a praça estão com o candidato petista. Especialmente os vendedores de CDs e DVDs fecharam com Nelson Pelegrino. E mostram que acompanham de perto as notícias sobre os candidatos. “Pelegrino tem uma vida pública limpa. O que isso tem a ver com o que José Dirceu ou Genoino fizeram no mensalão? Se você roubar, por que eu tenho que pagar pelo seu crime?”, indagou Carlos Augusto, 45 anos, lulista declarado. “Lula direcionou projetos para as classes menos favorecidas. Espero o mesmo de Pelegrino”. Os vendedores Edielson dos Santos, 22, e José Anderson Nunes, 23, quase aplaudiram o discurso bonito do colega. “Pelegrino vai cadastrar todos os ambulantes de Salvador. Sem opressão, sem violência. O pessoal de João (Henrique) chega aqui tomando tudo à força e quebrando nossa mercadoria”, lembrou José Anderson. PelejaEm outro ponto latitudinal do mapa de Salvador, na Zona 3, a peleja é igualmente renhida. A região, que envolve os bairros do IAPI, Pero Vaz, Lapinha, Caixa D’Água e Soledade, também está dividida. Dentro da mesma farmácia, na rua Conde de Porto Alegre, no IAPI, há uma disputa partidária. Maraísa Lopes, 28, e Elienai Borges, 25, trabalham como caixas do estabelecimento, mas discordam quanto ao melhor candidato. “Meu voto de confiança é em Neto. Todo mundo tá com ele lá em casa”, garantiu Maraísa. “Prefiro Pelegrino. É o homem certo para consertar a cidade, que está destruída”, rebateu Elienai. Nesse quase Ba x Vi eleitoral, os torcedores de Bahia e Vitória tinham que discordar. Com a camisa rubro-negra, o vigilante Eliseu Damaceno, 58, se apegou ao número 13. “O IAPI tem que votar em quem tem apoio do governo estadual e federal. Porque aí não tem desculpa”. Vestido de tricolor, o bancário Francisco Freitas, 39 anos, vai de 25. “Votei naquele que quer mostrar serviço e tem ideias novas. Mas tá difícil saber quem vai ganhar. Se fosse um Ba x Vi eu tinha certeza”. Salvador está dividida. No dia 28, saberemos quem vai ficar não com o mapa, mas com o quebra-cabeça que se tornou esta cidade. Matéria original do CorreioEmpate eleitoral entre Neto e Pelegrino mostra cidade dividida
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