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SALVADOR

Gringos contam prós e contras de viver no Rio Vermelho

Cerca de 11 estrangeiros formam uma pequena comunidade na região do Alto da Sereia

• 03/05/2015 às 16:10 • Atualizada em 28/08/2022 às 21:43 - há XX semanas

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Do alto do morro, na tarde de quinta-feira, o francês Samuel Artigas, 25 anos, descascava, à faca, uma cabaça comprada na Feira de São Joaquim. “É para fazer um berimbau”, explica o estudante de Ciências Sociais que chegou de Lyon, no sul da França, há nove meses, para um intercâmbio em Salvador. Ele é um dos 11 estrangeiros que moram hoje na pequena comunidade do Alto da Sereia, no Rio Vermelho, entre as praias da Sereia e da Paciência. Samuel mora em uma casa de dois quartos, de frente para o mar. Pelo chão, garrafas de cervejas espalhadas e, pelos cantos, perfurações. “Com as chuvas, a casa inundou. Daí, fiz uns buracos para a água sair”, conta, com certa naturalidade e sotaque que dão uma noção do nível de adaptação à cidade.
Foto: Mauro Akin Nassor/Correio
“A gente tem aquela ideia de que gringo é rico, né? Alguns moradores acham estranho esse povo querer morar logo aqui”, conta Cláudio Santos, 26, nascido e criado no Alto da Sereia, que é a área que fica mais próxima de Ondina. Ele diz entender os motivos dos estrangeiros se sentirem atraídos pelo lugar. “Tem essa brisa aqui de cima, diferente do calor do asfalto lá embaixo. Também tem o mar daqui, que faz umas piscininhas tipo banheira de hidromassagem”. Embora alguns olhem com estranheza a nova vizinhança, os gringos garantem que os moradores ajudam a tornar o lugar especial. “Morei em um prédio na Barra antes de vir para cá. O ambiente não era tão agradável. Os vizinhos não eram próximos. Por isso, não troco o morro por nada”, comenta a argentina Natalia Cabaleiro. Ela é designer e costura roupas em tecidos africanos. Veio para o Brasil com um grupo que apresentava músicas latino-americanas em ônibus e praias. “A única coisa que não gosto no Alto da Sereia é a sujeira. Por isso, todas as segundas-feiras me reúno com um grupo para limpar as ruas”, conta a moça. Os gringos se concentram em uma das três ruas do Alto da Sereia: a Aiocá. Diferente das outras duas, é a mais colorida. As casas têm pinturas e desenhos de ladrilhos nas paredes. “Costumam dizer que essa é a rua dos artistas”, explica a também argentina Veronica Navarro, 32. Estudante do mestrado de Dança na Universidade Federal da Bahia (Ufba), ela divide uma casa de três quartos com um peruano e outra argentina. “Deixei trabalho, casa, carro e o namorado para vir para Salvador estudar. Escolhi o morro porque é perto de tudo, com um preço bacana, seguro para ir e voltar”. Loira, de olhos azuis, Veronica destoa dos 934 moradores da comunidade, predominantemente negra.
Foto: Mauro Akin Nassor/Correio
Sobrepreço Veronica se mudou em janeiro para a casa recém-construída sobre a residência de Sandra Costa, 44, para quem paga R$ 800 todo mês. “Meu marido construiu a casa pensando em alugar para os gringos. A procura é muito grande”, garante Sandra. “Casa de gringo, todo mundo aumenta o preço. O dinheiro deles é diferente, ganham em euro. Alguns podiam morar em apartamento pelo preço que pagam aqui. Vai entender esse povo”, comenta seu Panga, 42, morador que aluga casas no local. “Vou dar exemplo de como funciona: se cobrarem R$ 400 pra alguém da comunidade, vão cobrar R$ 500 pra um brasileiro (não baiano). Se for estrangeiro, aí eles cobram R$ 700, R$ 800”, confidencia. Proprietário O tradutor italiano Matteo Viola, 49, é o gringo que está há mais tempo no morro. Ele veio de Milão para a Bahia em 1992. “Tenho rinite crônica e sempre sonhei em morar perto da praia. Juntei dinheiro e vim passar férias de dois anos na aldeia hippie de Arembepe”, relata. Em 1994, comprou a casa em que vive até hoje no Alto da Sereia. A tranquilidade do lugar e a proximidade com o mar encantaram o estrangeiro, que é dono de alguns imóveis na comunidade. Apesar de não revelar o número de casas que possui, moradores afirmam que ele já contabiliza mais de 20 imóveis em seu nome. “Muitas dessas foram compradas na mão de moradores que, às vezes, estavam passando por uma situação difícil e venderam por um preço mais barato”, sugere o zelador Denilson Marinho, nascido e criado no Alto da Sereia. Algumas pessoas na localidade diz ter receio das intenções de Matteo, mas o italiano garante que o interesse na aquisição das casas está no desejo de manter as características do Alto da Sereia. “Quero evitar a tendência da verticalização”, afirma. Estilo Apesar da diversidade de origens, os estrangeiros têm em comum a forte ligação com a natureza e estilo de vida, digamos, alternativo. “Não imagino viver em outro lugar. Se voltar para Salvador quando terminar curso, com certeza vou morar aqui. É um lugar especial, não tem estradas. Você está na cidade, mas tem proximidade com a natureza”, destaca Samuel. “É um modo de vida em que você conhece a comunidade. Uma vizinha me deu um prato de comida baiana, outro dia. Quando está sem água, nós nos ajudamos”, exemplifica o americano Seth Hague, 39. Nascido em Nova Orleans, ele morou um tempo na Inglaterra, onde lecionava Literatura e História em uma universidade. “Comecei a fazer capoeira com um professor brasileiro, aprendi a língua, conheci a cultura, a música. Você se apaixona e vem pra cá”, diz Seth, há cinco anos no Rio Vermelho. Por vezes, o estilo “paz e amor” dos gringos não agrada habitantes mais antigos, como a líder da associação de moradores, Marivaldina Paixão, 54. “É um povo estranho. São hippies, fumam maconha. Mas são bem tranquilos e simpáticos”, ameniza Marivaldina. Local também atrai neohippies e moradores de bairros nobres Os encantos do Alto da Sereia têm fisgado não só os gringos, mas também um pessoal neohippie e “haribô”, que curte o clima e a cultura do local. “Conheci o morro através de um centro holístico aberto para a comunidade. Me encantei com a energia da vizinhança. Sinto como se eu estivesse no interior. Tenho planos de morar lá”, revela a instrutora de ioga Nara Dourado, 25. A artista plástica Tâmara Lyra, 24, é de Feira de Santana e descobriu a comunidade através de uma amiga. Ela trocou a Graça, bairro nobre onde vivia, por uma casa na Rua Aiocá. “Algumas pessoas se espantaram de eu vir morar aqui, mas a localização é ótima, o lugar é tranquilo, movimentado”, contou Tâmara. Estudante do Bacharelado Interdisciplinar de Artes, na Ufba, Luana Drubi, 18, morou por quase um ano na comunidade. “Minhas amigas achavam o lugar o máximo quando vinham me visitar”, conta.
Correio24horas

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